Dorian
Tudo está frio e escuro. Uma escuridão infinita que suga todo e qualquer sentimento bom ou verdadeiro que ele já teve ou sentiu em sua vida. A única coisa que parece penetrar essa redoma sombria são os gritos. Gritos aterrorizados e suplicantes.
Suas mãos estão úmidas e o cheiro pungente e metálico que sobe do líquido para suas narinas é indício suficiente do que aquilo é. Sangue. Sangue das pessoas que aquela coisa dentro dele torturou e o obrigou a assistir.
Ele não consegue para-lo. Por mais que tente empurrar e sufocar aquela criatura dentro de si, ele não consegue retomar o controle.
Fraco. Ele é fraco demais. Insignificante demais. Então ele apenas grita. Grita para o príncipe Valg dentro dele.
*
Dorian abre os olhos e se senta bruscamente com um grito ainda preso na garganta. O ar entra em seus pulmões com dificuldade e seu coração parece prestes a explodir no peito. Mais um pesadelo. Mais uma noite preso naquela lembrança atormentadora.
"Meu nome é Dorian Havilliard e eu escapei. Eu sobrevivi."
Ele repete aquele mantra pra si várias e várias vezes até que seu corpo se acalme e sua mente se aquiete. Aelin tinha ensinado aquilo para ele quando o encontrou andando pelos jardins do palácio de Orynth após um de seus muitos pesadelos. Aparentemente, foram essas pequenas afirmações que a ajudaram a permanecer inteira durante os períodos mais terríveis de sua vida. Desde então, Dorian usava a técnica constantemente pra abafar suas piores memórias e o pavor que vinha com elas.
A guerra acabou a quatro meses. O inverno mais sangrento dos últimos séculos dera espaço para a primavera e com ela floresceu uma semente de esperança. Cada reino destruído passou os últimos meses se reerguendo das cinzas e seguiam na luta por um mundo melhor, como prometido.
Adarlan foi um dos territórios menos afetados pela guerra, já que por uma década esteve submissa a Erawan, mas mesmo assim ainda havia muito a reconstruir. Mais do que prédios para reerguer e acordos comerciais para assinar, o rei Dorian precisava enfrentar a oposição diariamente.
Mesmo após lutar para destruir a força Valg e quase morrer no processo, assim como seus aliados, o rei ainda encontrava resistência de alguns grupos políticos em aceitar seu governo. A oposição não tinha razões plausíveis para isso, ele sabia disso, assim como sabia que estava sendo um bom governante. Aquela reação devia única e exclusivamente à sede por poder de alguns homens de seu reino, que brigavam entre si por qualquer gota de influência e usavam a pouca experiência do rei como desculpa para confronta-lo.
Ele trabalhava incessantemente. Sem pausas, descanso, festas ou qualquer outra distração, apenas reunião atrás de reunião. Ele usava cada mísero segundo de seu dia para elaborar planos e coloca-los em ação e, independente de quais as suas decisões, sempre recebia críticas daqueles que se consideravam mais experientes. Mas mesmo em meio a todas as incontáveis desavenças na sala do conselho, ele seguia firme e calmo, pois amava seu povo e estava disposto a carregar aquele fardo por eles.
Assim, nos últimos meses acordos foram feitos para aquecer a economia, pessoas que tiveram seus lares destruídos foram realocadas, aliados de Erawan que não estavam sob a influência das pedras de Wyrd foram presos e julgados. Dorian dedicou cada fôlego de sua existência aos seus súditos e no fim de cada dia não restavam forças, então ele seguia para a cama com todo o seu cansaço e solidão e deixava o sono o arrebatar.
Entretanto, ele sabia que na próxima semana as coisas seriam diferentes. Ele faria com que fossem diferentes, decidiu isso no momento que recebera aquela carta. Aquela maldita carta que o deixou inquieto e tornou sua mente mais acelerada que o normal, disparando ondas de prazer que repercutiam por todo o seu corpo.
Pelos deuses! Ele precisava de uma folga de todas aquelas responsabilidades e aquele seria o momento perfeito para aliviar toda aquela tensão que pairava sobre ele. Então as pilhas de documentos seriam deixadas de lado e as intermináveis reuniões com o conselho seriam adiadas. Ele sabia que aquela carta anunciava uma visita formal, mas isso era completamente irrelevante. Quando se tratava dela, ele nunca seria "Vossa Majestade", e era isso que o fascinava. Em uma semana ele a veria. Em uma semana, Manon, a rainha das bruxas, viria visita-lo.
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Fanfic Manorian - A Rainha Bruxa e o Jovem Rei
Storie d'amoreApós a guerra contra Erawan e Maeve os reinos de Erilea lutam para se reerguerem das cinzas. Em Adarlan, o jovem rei Dorian tenta reconstruir sua cidade e, do outro lado do deserto, Manon busca trazer o reino das bruxas de novo a vida. Entretanto...