Prólogo

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O javali investiu violentamente contra mim, enfiando suas presas afiadas em direção à minha barriga. Seus olhos estavam em chamas, ardendo de puro ódio. No instante em que ele avançou, me preparei. Com um movimento feroz, impulsionei meu corpo com as pernas e me joguei pelo ar, enquanto o animal sagrado do Senhor da Guerra corria abaixo de mim.

O javali foi direto contra uma árvore, fincando suas presas no tronco e arrancando lascas de madeira com a força do impacto. Ainda no ar, girei e aterrissei com firmeza no solo florestal, mantendo meu olhar furioso sobre a criatura de Ares. Empunhei meu arco e encaixei uma flecha, pronta para abatê-lo.

ALYSSA! — gritou Clarissa, minha melhor amiga.

O som de seus passos correndo em minha direção me fez abaixar o arco, ainda segurando a flecha com ponta envenenada pelo sangue tóxico da Hidra de Lerna. O javali lutava para se libertar da árvore, onde sua presa permanecia cravada.

— Por favor, não o mate! — implorou Clarissa, o rosto sujo de fuligem e os cabelos bagunçados. — Você sabe que, quando alguém ousa matar um animal sagrado de um deus, coisas ruins acontecem!

Engoli em seco.

— Exatamente — respondi com frieza. — Mas o javali nos atacou. Ou seja, alguém está tentando nos impedir de encontrar os cervos da Vossa Deusa, Clarissa.

Os olhos dela se arregalaram.

— Não sei como você tira essas conclusões precipitadas, mas creio que esteja certa. Alguém está, de fato, tentando nos impedir de concluir nossa missão sagrada.

Mordi os lábios. O javali fez um movimento tão forte que fez a árvore inteira tremer. Clarissa me empurrou para trás dela, tentando me proteger. Isso me deixou furiosa.

Com um último esforço, o animal se libertou. A presa, ainda cravada no tronco, se quebrou, deixando-o atordoado por alguns segundos.

Clarissa... — protestei, tentando sair de trás dela, mas ela me impedia, como se eu fosse uma garota indefesa.

Mas o tempo de hesitação foi suficiente. O javali se recompôs e nos encarou com fúria. Por um breve instante, pude jurar que seus olhos brilharam com um tom avermelhado estranho.

A Caçadora Donzela {1} ~ Os Cervos da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora