Sua obsessão,

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Suas pupilas estavam dilatadas, seu lábio inferior tremia junto da ponta dos dedos, seu coração batia freneticamente, martelando tão forte contra a caixa torácica que ficava tonto, se pudesse, colocaria as mãos contra o tecido branco e apertaria a região que pulsava, mas por estar com a camisa de força, tudo que pôde fazer foi esperar voltar para sua cela e encostar a testa na parede acolchoada e deixar o sorriso que lutava para segurar surgir.

Fazia tempo que não sentia-se assim, talvez, nunca tenha sentido-se assim. Aquela necessidade, aquele sentimento. Desde que se lembra, nunca teve interesse por ninguém, ou gastou seu tempo observando outra pessoa que não fosse lucrativa para seus planos. Sempre evitou ao máximo garotas que diziam gostar de si, achava-as irritante, e segurava-se para não matar alguma. A única mulher que suportou até agora foi Karin, que lhe serviu de alguma coisa para realizar seus crimes que procederam sua vingança, e talvez peça seus serviços novamente, afinal, achou algo se seu interesse, algo que merecia sua atenção, alguém que merecia sua obsessão.

Passou a língua pelos lábios ressecados, mantendo o sorriso no rosto. Quem era ele?, com toda certeza não era um funcionário, não estava de uniforme quando o viu, um paciente?.., descartou imediatamente a ideia, não poderia ser, ele não pertencia àquele lugar. Não, um anjo como ele não deveria estar naquele inferno, porém os deuses devem tê-lo mandado para este demônio ver sua luz, e se esforçar para sair dali. Será que era parente de alguém internado?, chegou a pensar que ele era parecido com a dona daquele lugar, Senju Tsunade, mas o loiro de seu cabelo era muito mais vibrante do que o da desgraçada.

Virou-se deslizou pela parede até sentar-se, a cabeça recheada de pensamentos voltados ao loiro. Um olhar não devia ter feito aquilo consigo, não deveria afetá-lo daquela maneira. Já havia recebido tantos olhares de admiração que recebeu ao longo da vida, e quando nem havia sido notado, sentia aquela necessidade irritante de mais? O que aquele garoto teria a oferecer para si?, riu irônico pela sua situação. Seu coração ainda martelava toda vez que lembra-se do momento que o viu, saindo da instituição.

Permitiu que seu sorriso se alargasse, suspirando em meio dele. Era uma sensação boa, um calor reconfortante espalhou-se por si, porém era sufocante. Aquela necessidade de mais, lembra de quando conheceu Orochimaru e enfiou-se de cabeça em seus métodos sórdidos para descobrir o paradeiro do irmão. Era uma pena que ele estava morto agora, queria descobrir sobre o garoto de hoje.

A porta abrindo retirou-o de seus pensamentos, e por ela entrou Hatake, com seu costumeiro jaleco branco, a maleta e o livro de sempre. O de cabelos acinzentados o procurou pelo quarto, e franziu o cenho tencionando o corpo quando viu seu sorriso e o olhar doentio que lhe era dirigido.

— Kakashi, como é se apaixonar? — Deu dois passos para trás com a pergunta, agradecendo mentalmente quando o alvo daquele olhar se tornou o chão. — Ouvi dizer que é casado e adotou um garotinho.

Enrijeceu, guardando o livro do bolso e sentindo o dispositivo que acionava a segurança daquele lugar para caso de emergências. Aproximou-se da mesa perto da porta e deixou sua maleta ali.

— Sim, estamos felizes, se é o que quer saber. — Foi direto sentando-se em seu lugar, abrindo seu livro e observando por cima das páginas o Uchiha erguer-se e sentar na sua frente.

— Não, não é isso que quero saber. Como você soube que estava apaixonado por Iruka? — Especificou, espreguiçando-se e sentado de forma desleixada, abrindo um sorriso pequeno quando o psicólogo empalideceu.

— Onde ouviu esse nome? — Ajeitou-se na cadeira e pôs a mão no bolso, apertando o dispositivo com a mão trêmula.

— De outros pacientes. Eles são uns fofoqueiros, sabia Kakashi? Principalmente Mizuki. — Comentou, observando ao redor de forma distraída.

— Uchiha, você não saí dessa cela desde o ano passado. — Entredentes apontou, o tremor subiu para seus braços e desceu para as pernas, o impedindo de se erguer e sair daquele quarto.

— Ara ara, será mesmo? — Deixou a cabeça pender para trás, fechando os olhos. — Você ainda não me respondeu, Hatake. — Engoliu em seco com a menção de seu sobrenome, fechando os olhos tentando impedir sua mente de vagar para os piores cenários. — Como descobriu que estava apaixonado por Umino-san?

— F-Foi o filho do meu antigo S-Sensei que me elucidou. Comecei a me sentir bem perto do meu marido, saudades quando me afastava, ansioso quando saímos para nos encontrar ou quando conversávamos por mensagem, ligação, e um bobo quando ele sorria para mim. — Resumiu o mais breve possível, ansiando sair daquele assunto e começar a consulta.

— Hn.., como se conheceram? — Instigou, divertindo-se com o desespero mal contido do psicólogo.

— Estava passeando pelo bairro e o vi junto de Naruto, com.. — Interrompeu-se quando o paciente enrijeceu no lugar e abriu um dos olhos, olhando sério para si.

— Quem é Naruto? — Perguntou lentamente, gostando a forma que o nome saiu de seus lábios.

— F-Filho do meu S-Sensei. — Seus olhos se arregalaram levemente quando relacionou tudo em sua mente; quem não conhecia o incrível Minato Namikaze? A imagem do loiro veio rapidamente na sua mente, e o seu loiro era uma cópia viva do antigo dono daquele inferno. Lambeu os lábios, como o destino era brincalhão, pensou, desligando-se da consulta onde o Hatake tossiu e começou a retirar sua prancheta a mais alguns papéis, recompondo-se e lhe fazendo perguntas.

Na próxima visita de Hebi, pediria alguns favores um pouco difíceis, mas sabia que valia à pena por sua obsessão.

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