Hoje, Sasuke estava perturbado. Infelizmente, nenhum psicólogo soube diagnosticar o que o Uchiha tinha, e em dias como esses, toda Konohagakure estremecia. Sentiam-se observados com afinco pelas paredes e sufocados como se milhares de pessoas estivessem no mesmo recinto.
Uma escolta foi feita na família Hatake Umino após o relato do profissional, resultando na demora da consulta com o suspeito e ser realizada, nenhuma ameaça foi detectada, porém manteriam-se em alerta principalmente hoje.
Foi extremamente difícil levarem o Uchiha para outra sala, dessa vez bem mais segura que sua cela, onde suspeitavam ter algo instalado sem o conhecimento deles. O paciente em si nunca sentiu-se tão sufocado, além da camisa de força e as cintas que a prendiam, lhe acorrentaram na cadeira de frente ao Hatake, que tentava ostentar a expressão de puro tédio lendo seu costumeiro livro pornográfico.
Com o início da consulta, Sasuke permaneceu olhando para a parede a sua frente e atrás do Hatake, vez ou outra olhando ao redor da sala, mas manteve-se imóvel. Kakashi estava em um monólogo, falava e falava e nada de ser respondido ou despertar uma curiosidade mesmo que pequena em seu paciente.
Suspirou, perto de desistir. As sessões com Sasuke duravam duas horas, foram diminuídas para uma, e estava ali dentro falando para as paredes há quarenta e cinco minutos, sem nenhuma reação estimulada. Nem encarado fora, somente as orbes negras e penetrantes mexiam-se, para cima, para baixo, ao redor, e para frente, de forma fixa, como se enxergasse pessoas ali.
Existia uma lenda no Japão, que dizia sobre olhos que podiam ver o sobrenatural, os envolvidos eram os clãs mais antigos da nação: Uchiha e Hyuuga. Uchiha's seguiam um padrão de aparência assustador, sempre passando a aura gótica e de morte, além de serem amaldiçoados com o ódio, e existiram provas vivas: Indra, Madara e Sasuke. Hoje em dia seria como uma história para crianças dormirem e não aprontarem, ou em fogueiras de acampamento, mas após a notícia do massacre Uchiha se espalhar junto dos crimes que o homem a sua frente cometeu, todos ficavam cautelosos, mesmo com Konohagakure assegurando que a cela dele era monitorada a todo momento, sendo feitas trocas constantes nos guardas em frente ao quarto e nos vigias atrás das câmeras, sensores e tudo que se pode imaginar.
A lenda era que naquele clã, após a maldição cair sobre alguém ou perder alguém importante, seus olhos brilhariam em um carmesim intenso e seria possível enxergarem os mortos, ou os pecados representados em sua almas, tomando formas horrendas que resultariam em pesadelos incessantes. As do Hyuuga era algo... mais puro, levando em conta com o dos Uchihas. Assim como eles, seus olhos já cristalinos ressaltariam as veias ao redor e eles poderiam ver os pecados que já cometeu, as consequências disso ninguém sabia.
Afinal, não passavam de lendas e superstições.
Mas ali dentro, Kakashi sentia constantemente arrepios subirem-lhe à espinha, era frio, extremamente frio. Conseguia ouvir vozes, não passavam de sussurros, podia ser algo psicológico já que as enfermeiras gostavam de espalhar boatos que corriam porta à fora, mas era algo anormal ficar no mesmo ambiente que ele.
Bufou, desistindo de vez e decidindo passar uma atividade, que talvez estimulasse suas memórias e assim conseguiriam ter um avanço na próxima consulta, consistia em um desenho, ele apenas deveria desenhar a primeira coisa que lhe viesse à mente com algumas palavras que deixaria com as enfermeiras. Puxou o celular do jaleco para ver as horas, sorrindo por trás da máscara ao ver o belo sorriso de sua família na tela de bloqueio; Iruka, Naruto e Hoki.
Faltavam dez minutos. Suspirou após admirar um pouco sua família e ergueu o olhar, petrificando ao deparar-se com Sasuke lhe olhando fixamente. De alguma maneira, os suas orbes estavam mais brilhantes, não que reparasse muito, mas ninguém podia negar que estava diferente. Ele sempre carregou o olhar morto, ganhava brilhos assassinos manchado de sangue ou com o ódio fluindo pelas veias, mas ali parecia mais vivo, com uma inocência e admiração enganosa, beirando a obsessão.
— Entregarei as enfermeiras sua atividade, nos vemos na próxima semana. — Foi tudo o que disse antes de se retirar, ainda sendo o alvo do olhar do paciente.
E pelo relato delas numa sexta-feira à noite, ele desenhou um par de olhos cérulos, em todas superfícies que fossem possíveis.
Os detalhes eram incríveis, nunca imaginariam que Sasuke teria graça e talento para tal arte. A mistura de cores e tons criavam uma imagem tão bela de simples mirantes azuis, o paciente transformou nas mais variadas paisagens, podendo refletir as águas mais claras e cristalinas de um lago, o oceano em sua profundidade, explorando os tons escuros do azul e contrastando com as cores neutras, ou até mesmo o céu límpido, sendo possível ver o sol tão radiante quanto qualquer obra.
Kakashi preocupava-se em saber onde ele vira aquilo, sendo tão familiar para si quanto ao marido após ele visualizar sua angústia e virar-se para ver o futuro filho adotivo brincando com Hoki.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sōbyō
RomanceFoi apenas um olhar. Foi breve, rápido demais para si, e nem havia sido percebido por ele. Foi de longe, à uma distância talvez segura para ele, mas para si foi tão incômoda. Foi único, rápido, longe, e insuficiente para si. Mas foi o suficiente par...