Kakashi não dormiu, muito menos Iruka. O sentimento paterno gritavam em seus corações e mentes para não deixar Naruto voltar ao orfanato pela noite, então imploraram para Chiyo, dona e diretora do local, permitir que o loiro dormisse em sua residência.
Com a permissão, observavam o menor dormir no quarto de hóspedes após outra crise, finalmente, de forma serena e relaxada, ressonando baixinho, a felicidade do casal. Sabiam que aquele lugar não era bom para Naruto, infelizmente, não podiam fazer nada além de esperar os meses necessários para adotar o adolescente, que sem a intervenção do casal, seria despachado após completar dezoito anos. O loiro tinha constantes pesadelos, envolvendo a morte dos pais e outros acontecimentos dentro do orfanato, até então desconhecidos para si, mas ajudaram a alimentar sua hematofobia.
Mas, novamente, aquilo não estava ao alcance deles. Era uma incógnita, assim como o próprio Uzumaki. Foi uma grande conquista o pedido de adoção deles ser finalmente aceito, e uma maior ainda a confiança dele, ao ponto de permitir-se dormir na casa deles e tentar abaixar sua guarda ali.
Não era mentira alguma que Naruto só confiava neles por observar com afinco como Hoki era tratado, uma pista do que provavelmente acontecia no orfanato.
Tivera um mal pressentimento desde sexta, onde curiosamente, a pior pessoa que podia imaginar, desenhou os olhos do filho de Minato. Onde eles se viram? Não tinha ideia. Naruto conhecia Tsunade, e era frequentemente arrastado para consultas ou para simplesmente ajudá-la com coisas em seu escritório. O único vínculo que unia Naruto à clínica, além dos dias em que esquecia seu almoço e seu turno cobria esse horário, não teria como eles se conhecerem, somente saiu para receber seu bento. A porta zelada por guardas foi aberta o suficiente para ele certificar-se de quem era e ele fazer o mesmo.
Como?
Com um arrepio agoniante subindo e descendo pelo seu corpo, morto de sono, Kakashi adentrou a clínica vendo que não era pressentimento algum, todos ali possuíam uma aura densa de temor e caminhavam pelos corredores paranoicos, qualquer ruído atraia uma atenção desnecessária para os cantos, de forma desesperada. Ali sim, Hatake sentiu-se em meio a uma multidão, o cheiro de morte estava tão forte, que era possível visualizar corpos no chão.
Era sufocante. Principalmente em um corredor vazio, que não fazia sentido algum.
Pobre Hashirama, criara um lugar para ajudar seu amigo e transformar a vida de pessoas, era lentamente contaminado pela morte que Madara e outras pessoas cometeram, em sua grande maioria, Uchiha's. Se Danzou não estivesse na jogada do massacre, com toda certeza, a presença de Itachi esmagaria todos com o sangue de suas mãos.
Mas, pior que os Uchiha's, que corriam o risco de serem amaldiçoados, eram os Uzumaki's, nasciam e cresciam com uma sede de sangue passada de família em família, desde o ventre da mulher até o esperma do homem.
Não era assunto para aquele momento, não quando estava de frente a um Sasuke sorridente.
Com a cabeça pendendo para trás e o olhar perdido no teto, Sasuke sorria largamente, ousando até soltar risadinhas. Era assustador ao ponto de lhe arrepiar a alma. A consulta iniciou há meia hora, e desde que entrara, o paciente estava naquele estado. Perguntou aos seguranças como ele estava em sua cela e a resposta foi a mesma. Pupilas dilatadas, risos e falas desconexas e suor.
Mas ainda sim, não explicava o clima que rondava Konoha.
— Irei começar, Sasuke. Por favor, me diga, por que desenhou aqueles olhos? — E a pergunta intensificou a felicidade do Uchiha, que sorriu mais largo e abaixou a cabeça de uma vez, sendo possível ouvir o estalo que seu pescoço deu, passando a ser encarado de baixo, mas ainda transmitia uma superioridade, como se sua presença e trabalho fosse uma diversão entendiante para ele. Não esperava ser respondido, ele parecia estar em seu próprio mundo para importar-se em respondê-lo, muito menos uma reação, tanto que aquela assustou-o, principalmente o sentimento que aqueles mirantes preocupantemente semelhantes a um abismo transmitiam. Loucura e pura obsessão.
— As enfermeiras me disseram para desenhar algo que me lembrasse algo bom, puro, inocente. — Ele foi dizendo em tom baixo, realmente se esforçando para dizer as palavras certas. — E bom, para mim, aqueles olhos significam liberdade. — Kakashi enrijeceu, e um sorriso zombeteiro surgiu nos lábios pálidos de Sasuke. — Conhece alguém assim, Hatake? — Lambeu os lábios divertindo-se com a reação.
— Sa..! — Foi interrompido pelo ranger agonizante e grosso da porta de metal se abrindo atrás deles.
— Hatake-san, você tem visita. — Juugo, um dos guardas ao lado da porta, avisou abrindo a portinhola perto do topo, alto o suficiente para ambos ouvirem. A notícia animou Sasuke que ajeitou-se no lugar e olhou ansioso para a entrada daquela sala. O dito doutor sentia seu coração bater tão forte que ressoava em seus ouvidos e chacoalhava seu cérebro, e seu chão ruiu ao ver os cachos dourados de Naruto pela fresta existente e aberta.
— Kakashi-san? Você esqueceu seu almoço! — Ouviu o menor exclamar, torcendo para que Sasuke não ouvisse, mas ele estava concentrado demais observando os cabelos dourados que apareciam pela porta, logo suspirando em desejo ao ver as orbes tão belas que dominaram seus sonhos finalmente se conectarem com as suas em curiosidade, algo tão inédito! As pessoas sempre lhe encaravam como se fosse uma aberração, mas Naruto apenas lhe olhou curioso, e nada mais.
Mas logo foram desviadas para o albino, não conseguindo segurar o muxoxo que soltou ao contato ter sido tão breve, mas serviu par alimentar sua fantasia e imaginação. Como deveriam ser seus cabelos? Macios? Grandes? De longe não conseguiu ver, mas somente que pareciam dourados. Era incrível, quem teria os cabelos dourados? Rivalizariam com o ouro? Ou com o sol?
Eram tantas perguntas que até ficou tonto, mas sentia seu estômago formigar de um jeito bom, meio incômodo pois lhe arrepiava por inteiro, como se borboletas voassem dentro de si. Causavam-lhe cócegas, soltando um risinho tanto por isso, quanto imaginando ter Naruto em suas mãos.
Abaixou a cabeça e seu olhar desfocou, trazendo o olhar confuso e desesperado de Kakashi, que voltou para dentro afim de recolher seus pertences e esbravejou para qualquer um ao redor ordens para cancelar a consulta e prenderem Sasuke em outro lugar mais seguro que sua cela, tudo isso enquanto arrastava Naruto para fora dali.
Não negou que ficou feliz ao ver que o loirinho dirigiu um olhar até si que durou até ser arrancado dali.
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Sōbyō
RomanceFoi apenas um olhar. Foi breve, rápido demais para si, e nem havia sido percebido por ele. Foi de longe, à uma distância talvez segura para ele, mas para si foi tão incômoda. Foi único, rápido, longe, e insuficiente para si. Mas foi o suficiente par...