mas tinha hematofobia.

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Naruto só entrava em seu torpor após ver a morte.

Especificamente, alguém morrer por perda de sangue. Alguém que ele tinha afinidade, mas nada impedia-lhe de passar pelos sintomas de sua fobia ao ver o líquido rubro.

Naquele dia, tudo correria bem.

Apresentou melhoras com Tsunade — ocultando sobre a invasão na semana passada, tanto dela quanto da diretora — e ver ela feliz, lhe deixava feliz. Voltou ao orfanato para ajudar as cozinheiras e jardineiro, como de costume.

Obviamente estranhou a paz que estava o local, mas iria aproveitar. Nunca terminava em coisa boa, e mesmo que não tivesse consciência de seus atos, sabia que isso lhe prejudicaria ainda mais, e sabe se lá o que se tornaria, além de uma criança depressiva e traumatizada.

Já pela noite, terminando de organizar a cozinha após fazer um lanche para si, deixou algumas sobras de carne do almoço e janta em uma tigela e levou para fora, — visando deixar o alimento para os cachorros abandonados, fazia parte de sua rotina. — andando pela lateral do casarão até o jardim da frente, onde estancou no lugar ao ouvir as vozes dos outros garotos que residiam ali, junto de latidos e choros sôfregos.

Não demorou muito para sua presença ser notada e arrastado até o cão, que lhe olhava suplicante e continuava uivando choroso. Havia um corte, grande a aparentemente fundo em suas costelas, lhe fazendo sangrar, em rios.

— Vamos lá, Uzumaki. Sabe o que fazer, não é? — Um deles disse. Lhe seguraram no chão de joelhos, eram cinco. Dois em cada lateral de seu corpo e um na frente. — Ou você o mata, ou ele sangra até a morte. — Riu alto quando o loiro começou a tremer. Pegou o instrumento afiado que usou para por o animal a beira da morte e obrigou Naruto a segurá-lo, que respirou com mais dificuldade olhando para o facão.

Vendo a incapacidade do loiro, riu amargo e mandou o soltarem, sendo que nem fora preciso o segurarem, só de ver o sangue fluir, ele congelou. Aproximou-se o suficiente para agarrar os fios da nuca e forçar o mais novo olhar para si, com os olhos azuis transbordando em lágrimas silenciosas e puro terror.

— Mas acho que você gosta de ver os outros agonizarem até a morte. — Riu soprado quando o outro engasgou. Soltou-o de forma violenta, gesticulando para os outros o seguirem para dentro.

E Naruto permaneceu lá, estático, sobre o olhar do animal que cedia lentamente a morte. Em dado momento na madrugada, ele foi libertado de suas memórias e colocou as poucas coisas que ingeriu no dia para fora.

Sendo assim, que ele foi parar na sua situação de dois dias, acordando grogue após sentir um beijo em sua testa e observando alguém retirar-se de seu quarto na clínica.

A primeira vez que teve uma crise, foi duas anos após presenciar a morte dos pais, Jiraya, seu padrinho, que a presenciou. Não conhecia Tsunade naquela época, então frequentava o terapeuta, que recomendou uma visita aos túmulos de seus genitores, e talvez, sua mente desse um descanso nos pesadelos constantes.

Deu certo por duas semanas, até o grisalho encontrar seu afilhado lastimando-se pelo apartamento esfregando fortemente o chão, impedindo-o de chegar perto gritando que ele também se mancharia de sangue, enquanto ele próprio estava coberto.

Ele só tinha quatro anos, não conseguia comer, não conseguia dormir, nem sair para fora do orfanato, Jiraiya tinha que escondê-lo pois ele alegava ver sangue nas paredes, além dos malditos funcionários viverem o xingando e ignorando suas necessidades, e assim ele conseguia trazê-lo para seu lar e cuidar devidamente do menino.

Seguiu-se assim até os doze, felizmente, os pesadelos, crises e alucinações desapareceram, e lentamente, Naruto aos poucos superava seu trauma e seguia feliz.

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