Chorou Estefane o caminho todo, como fazia em todos os domingos. Era dia de missa católica e sua mãe a arrastava sem se importar com os berros da pobrezinha. Elas iam indo pela estrada de barro, saindo da roça e entrando na cidade.
Estefane só tinha seis anos, uma criança amável, mas muito teimosa. A garota é conhecida por sua rebeldia e pelos seus olhinhos de boneca. Suas vizinhas as vezes a adoram e as vezes a odeiam. A menina é muito brincalhona, mas muito desobediente.
"Cabe a mãe impor limites" disse dona Evarista.
Ela tinha alguns amigos no bairro, crianças sem chinelos e remelentas, brincava de vez em quando e raramente terminava sem briga.
"Gênio forte! Que criança!" disse seu Raimundo.
"Isso é birra, falta de safanão nessa mal criada." sempre dizia Rute.
Sorte de Estefane é que ela não entendia essas críticas para com a sua pessoinha. Nesse momento, ela queria estar brincando de sete pedrinhas com a galerinha, mas sua mãe insistiu em leva-la a missa da Igreja Santo Antônio. Na verdade, desde o conselho que a senhora Lúcia deu a sua mãe, ela passou a ser obrigada a frequentar a igreja:
"Essa menina precisa de uma igreja, as vezes o batismo não basta!" disse Lúcia "Ainda é nova, ainda tem correção. Só a fé pode salva-la desse temperamento rebelde"
Então desde mês passado, ela ia para a missa dos domingos junto com a mãe. A cena se repetia e se repetia, o choro nunca se calava!
Estefane se debatia tentando soltar o pulso do aparto da mãe, algumas vezes ela se jogava no chão, outras ela xingava a sua progenitora e deixava todos horrorizados!
Quando chegavam em seu destino, ela não se comportava nem um pouquinho. Não reza o Pai Nosso e nem as Ave Maria, não cantava com o coro e nem ficava quieta para escutar os sermões. O padre as vezes rezava na cabeça dela, mas a menina parecia zombar.
"Esse Diabo eu desconheço, rejeita a expulsão" disse o padre, não sei se em um tom de brincadeira ou se em um tom de medo.
A verdade era que Estefane não tinha demônio algum, ela só queria fazer o que as outras crianças estavam fazendo a esse horário. Preferia estar em casa, assistindo televisão, ou correndo na rua com a pirralhada. Mas estava condenada a escutar a voz do padre durante horas, sentada em um banco desconfortável e presa em um casarão que para ela era assustador.
"Não tem cores! Não é lugar para criança!" era basicamente os seus pensamentos juvenis.
Tadinha! Quanto mais se rebelava, mais julgada era. Ela não entendia, porém não gostava desses olhares esquisitos que lançavam a ela.
Nada cristão julgar os outros, pobrezinha.
Os adultos são os piores pecadores, pois são experientes o suficiente e sua lucidez ainda está intacta, mesmo assim pecam e pecam. Pior! Além de pecar, estimulam os outros a pecarem também. Se uma criança tem em casa um adulto pecador, é tendência que ela absorva esse comportamentos pagãs. O engraçado, é que quando uma criança peca, ela é punida fisicamente pelos maiores pecadores.
Os mais velhos se esquecem que os jovens vivem em uma turbulência de novas experiências e confusões sobre o mundo e as pessoas ao seu redor. Estão mais sujeitos a falhas e perdições.
Mas é assim que aprende!
É pecando que se aprende o porquê que não se deve pecar! É experimentando o sabor da fruta podre que entendemos o porquê que não devemos come-las.
Foi assim com Eva! Pobre Eva! Jovem tola e pecadora. O seu primeiro pecado, ainda a condena nas línguas alheias e nas histórias por aí. Isso comprova que os nosso erros quando jovens, são os que baterão na nossa cara até o final da nossa existência.
Por sorte, segundo os ensinamentos cristãos, Deus não julga igual ao homem, e sua misericórdia é imensamente maior. Deus não é homem, apesar de já ter vivido como um e sentido o que sentimos. Somos a sua semelhança, mas acredito que a cada ano que passa nos tornamos mais distantes e menos parecidos com ele.
Estefane é só uma criança, mas aos olhos dos devotos, ela era a pior das pecadoras.
"Uma capetinha" diziam alguns.
Pobre anjinho! Pobre anjinho! Que não escute as difamações desses incrédulos cruéis.
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Pecados Do Mundo
Short Story"Pecados do Mundo" é uma seleção de contos que narram as perspectivas de vários personagens de diferentes idades e sexos a respeito das situações do mundo e da humanidade. Não é um livro que aborda sobre pecados, mas sim sobre sentimentos e emoções...