O U T O N O

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Era o décimo primeiro mês do ano e a relação de Tainara e Daniel começava a andar outra vez, de pouco a pouco após as brigas feias que tiveram no mês de Setembro

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Era o décimo primeiro mês do ano e a relação de Tainara e Daniel começava a andar outra vez, de pouco a pouco após as brigas feias que tiveram no mês de Setembro. Há pouco menos de um mês eles  voltaram a conversar sem que brigas se ouvissem pela casa e desta vez realmente Daniel tinha pago as contas. Todas elas, permitindo que Tainara guardasse parte do seu salário na conta reserva para o futuro de Emanuelle.

O casal tinha chegado ao consenso de que evitariam brigar o quanto pudessem e isso dependia muito de ambos, tudo por Manu que vinha estando amuada durante a véspera, consequentemente, as dores no peito também se agravavam. 
Portanto, a decisão tomada por ambos culminou na melhora de ânimo da pequena. Emanuelle temia que seus pais se separassem, ela não conhecia a palavra divórcio e muito menos o seu significado, porém tinha conhecimento de que, quando as coisas ficavam feias em um relacionamento a tendência era dos adultos decidirem se afastar um do outro.

Às vezes, ela se perguntava se isso ocorresse com quem ela ficaria. Amava muito seus pais, os dois. Eles tinham seus defeitos, mas isso não anulava o quão importantes ambos eram para ela. Se ficasse com a mãe, a sensação seria de trair o pai e vice-versa. Então somente afastava aqueles pensamentos para bem longe e desfrutava dos meses calmos que precederam a tensão passada na estação anterior.

Do mesmo modo Tainara assim o fazia, ainda não acreditava que estivessem mesmo viajando naquele momento para passar as férias de dezembro numa ilha paradisíaca patrocinada pelo seu esposo.

O frio que se lhe espalhava pela barriga até então agasalhada, dava-lhe a impressão de ser uma adolescente de quinze anos indo viver uma aventura que sempre sonhou, pois de fato aquele era o seu sonho da juventude e Daniel sabia disso. O que tornava tudo ainda mais especial, saber que o homem com quem casara ainda valorizava os seus sonhos de pequena.

Por esse motivo sorriu para ele quando sentiu a mão relativamente maior que a sua sob a dela e apoiou a cabeça no ombro do mesmo sem que o ato afetasse o sono de Emanuelle ali no meio dos dois.

— Isso vai ser bom. — Ela sussurrou e apertou a mão do marido. Daniel assentiu, beijou a testa dela e concordou em palavras também.

— Vamos fazer isso ser bom.

E de fato foi bom. Quando chegaram, foram recepcionados da melhor forma possível. Eram nove da manhã e o sol vibrante acariciava suas peles após terem se instalado no hotel de frente a praia onde a família Davidson se dirigia naquele momento. 

Emanuelle vestia um maiô de praia rosa choque com babado na parte do peito, o seu pai uma sunga com estampa no estilo tropical enquanto que a mulher optara por um biquíni preto que valorizava bastante a sua pele negra.
A mais nova estava bastante elétrica naquele dia, e não era para pouco, momentos como aquele lhe davam bastante esperança de que tudo viesse a mudar para melhor em sua família. Carregava um balde para fazer castelos de areia e uma pá plástica dentro dele. Enquanto caminhava em frente dos adultos, ela avistou um grupo de crianças da sua idade ali perto numa distância segura da costa, brincando juntas na areia.

O rosto de Manu se iluminou, faziam dias que ela não se divertia com outras crianças devido às férias da escola. Amigos ela só tinha lá e seus primos na cidade próxima a que viviam não contava muito. Era triste morar em um bairro onde tinham mais adolescentes feitos a adultos e bebês que nem engatinhar sabiam.
Portanto, aquele dia seria um dia magnífico para ela. Emanuelle então se virou para seus pais e sorriu, disposta a convencê-los a deixarem-na brincar junto dos outros.

— Mãe — e começou fazendo a famosa carinha de cachorrinho abandonado. — Posso brincar com as outras crianças?

Tainara parou de sugar a água de coco que comprara junto do esposo e elevou os óculos de sol a prendê-los sobre a testa. Pensou e reconsiderou a questão da filha. A mãe da menina tinha um medo inexplicável de Manu se machucar a qualquer momento enquanto estivesse com os demais, o que ela não sabia é que Emanuelle se sentia mais machucada com as brigas do casal, que com simples joelhos ralados.

E ver a expressão de felicidade da filha começar a murchar a fez ceder. Ser superprotetora nem sempre era a melhor decisão a ser tomada, às vezes permitir a liberdade das crianças em termos como aquele era tudo que os mais novos precisavam. 
Educar era também permitir que seus filhos aprendessem com suas próprias experiências e machucados. E ali estava Tainara deixando isso acontecer.

— Você pode ir, Manu — disse a mãe e sorriu para a menina, a qual quase explodiu de alegria. O Daniel ficou feliz, pois diversas vezes viu Tainara cercar Emanuelle como se tivesse medo que a mais nova lhe escapasse para sempre dos braços. — Mas tenha cuidado. Não bata nos outros, não fale mal de ninguém e peça o consentimento da pessoa caso queira alguma coisa dela, está bom?

Emanuelle assentiu, atenta. Tainara poderia ser uma mãe superprotetora, mas isso não anulava o quão boa mãe em outros aspectos ela conseguia ser. Sempre que podia ensinava bons princípios a Manu de modo a que os ensinamentos lhe agregassem um bom caráter no futuro. Ela se preocupava com a maneira que sua filha lidaria com o mundo, consigo mesma e com os outros. Gostaria de vê-la bem resolvida quando fosse mais velha.

— Sim, mãe — Manu estava ansiosa para disparar em direção aos outros.

— Mais uma coisa, mocinha! — o pai sibilou, sorrindo. Ele carregava a bolsa de praia da esposa, então foi mais fácil buscar o protetor solar e abaná-lo para sua filha — Protetor para não assar nesse sol.

Manu negou com a cabeça, um sorriso travesso aparecendo quando olhou para o pai e depois para trás antes de sair em disparada pela praia.
Daniel riu-se do comportamento da mais nova. Deixou o coco com a esposa que ria dos dois e correu atrás da sua pequenina. A praia não estava muito cheia, mas o melhor de tudo era o quanto as pessoas não ligavam para a vida alheia, portanto a diversão ali era apenas de pai e filha. 

Quando Daniel conseguiu por fim alcançar a garotinha, ela ria bastante e ele também, porém não relutava a ser protegida pela pasta. Abraçou o mais velho e agradeceu, de seguida se despediu e foi de encontro às outras crianças. Estava bastante feliz por ter sido aceita e por ver que seus pais também estavam felizes sentados sobre uma toalha ali perto dela.

Era uma certeza para ela. Poderiam haver brigas intensas no Verão desde que houvesse um Outono para baixar a tensão da estação passada, Manu se sentiria feliz e aconchegada por momentos como aqueles em que seus progenitores faziam planos futuros com relação a eles e sorriam para sua pequena.

Outono é considerado o período de transição, a estação na qual as temperaturas declinam e o ambiente se torna aconchegante. Outono no amor é a estação que precede a tensão vivida no durante o Verão. Não anula todas as dificuldades passadas, nem torna tudo melhor, entretanto a convivência se torna mais leve, as conversas menos forçadas. É nessa época em que ambos ou um dos relacionados se esforça para botar as coisas no lugar, a chama parece estar ressurgindo entre eles e os dias se passam com tranquilidade na esperança de que tudo volte ao normal. É no Outono em que se busca acertar as coisas depois de uma briga feia no Verão por motivos passados batidos durante a Primavera.

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