Capitulo 7. Imprevistos

3 2 0
                                    


Chegando essa semana, encontrei ele bem, apesar do dia cheio, ele estava sentado, conversando, temperatura boa e como sempre que eu não estava, com o peito de fora. Não gosto de vê-lo só de fraldão, acho vergonhoso para ele, ainda mais quando a porta está  aberta.

A alegria e disposição dele, engana muito. Quem o ver nesta vibe de disposição, não percebe o câncer e muito menos a vergonha que ele sente por ter que contar com pessoas que não  são  íntimas, fazendo sua higiene. O pior é que, com ele pelado, tomando banho com duas técnicas, sempre chega alguém e abre a porta. Ele não  fala, mas quando estamos orando, ele chora pela situação constrangedora, agradecendo pelas técnicas que tratam ele com tanto carinho.

Uma dessas técnicas, evangélica também, grande, dá  banho nele sozinha. Ela pega um saco plástico grande, enche de água quente do chuveiro e vários paninhos. Lava ele espremendo os panos sobre ele, fazendo ele sentir a água caindo sobre seu corpo. Quando faz sobre a cabeça,  ele agradece e chora pela saudade de tomar banho sozinho sob o chuveiro.

Esse carinho não se paga, assim como o das faxineira, duas Jessicas, assim não dá pra esquecer o nome. As copeiras lindas, que sempre acrescentam algo para agradá-lo, até  mesmo um cafezinho. As nutricionistas sempre atentas, adaptam o cardápio que ele necessita ao gosto dele e isso tem ajudado muito na alimentação.

Mas hoje, ia tudo muito bem, fomos a radioterapia e voltamos sem problemas, até  que a cama quebrou e não vou narrar aqui o tormento que foi. Tivemos que mudar de quarto, fui ver um que estava ótimo,  mas no final disseram que seria outro. Quando olhei  falei logo, essa cama não vai aguentar  ele. Demorou a trocarem, já era noite e ele estava reclamando de um gelo nas costas. 

Fiz massagem, agasalhei e não melhorou. Na noite anterior ele já  tinha reclamado, mas com a massagem melhorou. Essa noite não. Quando passei a mão na coluna, ele sentiu o local da dor e reclamou que só  queria dormir. Achei estranho e lembrei que ele falava isso quando sentia muita dor e não conseguia dormir.

Quando foi de madrugada, chamei a técnica e relatei o fato. Mas também disse que estranhei, pois ele estava tomando morfina. Foi aí que a técnica me contou que tinham tirado a morfina de sua medicação.  Fique muito chateada por não terem me contado, pois eu teria identificado logo o problema e alertado os enfermeiros e ele não estaria com tanta dor.

Foi então que a cama quebrou novamente. 

Foram mais horas de espera e a troca para outro quarto. Aqui abro outro parêntese!

Em todos os processos de tratamento físico, é  super importante  a cooperação do paciente e atenção dos médicos aos sintomas.
Meu irmão é muito inteligente e além de justificar tudo, dando diagnósticos, também entende de mecânica. O que nem sempre ajuda. Na maioria das vezes, o diagnóstico está errado e saber como consertar, não se enquadra nas normas de manutenção do hospital.

Dessa forma, a troca de quarto demorou porque a sugestão de conserto soou como negativa para a solução disponível para o problema,  que é a troca de quarto. Tive que correr atrás do prejuízo e até  ouvi que não podiam atender nossa solicitação,  como se a troca de quarto fosse por nossa escolha e não para solução do problema. Tive que chamar a atenção deles para a segurança do paciente e foi assim que resolveram a troca de quarto.

Finalmente ficamos em um quarto funcional bom. Cama boa  claro, limpo e tranquilo. Conversamos e ele estava desesperado com a dor, pois piorou com o transporte. Um maqueiro que se divertia mais do que conhecia o serviço e prejudicou mais ele. Meu irmão queria marcar os horários do efeito do remédio,  para pedir um sós de morfina antes do efeito passar. Mas não é assim que funciona.

Chamei a até dele para o que Deus estava fazendo conosco. Todo quarto que ficávamos, consagravamos e assim, quarto por quarto foram recebendo oração e sendo preparados para os próximos pacientes.  A consequência de todo esse movimento é  que não tiveram mais internações graves, os pacientes que chegaram, vinham de pós cirurgias e só ficavam 24 horas e recebiam alta.

Depois disso, fui para casa descansar cuidando de minha mãe. Deixei ele bem, tranquilo, com dor baixa, mas com liberação de morfina e dipirona.

Glória a Deus por mais uma semana!


Milagre (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora