CAPÍTULO 1

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Depois de andarem por horas, eles chegavam na cidade e se distraiam com tantas novidades. A cada quadra que andavam, eles paravam para olhar uma coisa e bricavam com os animais de rua que encontravam pelo caminho. A Mãe tinha dado uma referência de onde o Pai poderia estar, mas suas cabeças estavam ligadas somente na diversão e com isso, ficaram desnorteados, causando confusão com suas brincadeiras infantis.
Como ainda eram ingênuos e inocentes, acreditavam que todos eram felizes e brincalhões iguais a eles, mas se deparam com pessoas estúpidas que os tratavam com desprezo.

Em um dado momento eles sentiram fome e resolveram pegar doces das bancas e um homem apareceu de repente:

– Ei! Seus pirralhos marginais! Roubando chocolate da minha banca?

Os dois se olhavam sem entender. Eles acreditavam que tudo ali estava disponível para eles pegarem o que quisessem, já que em seu Reino era assim.

– O que é roubando? Mas esses doces não são pra comer?!

– Vocês terão que pagar por isso se quiserem comer! E eu acho que os dois negrinhos favelados não tem dinheiro, não é mesmo?!

Uma moça negra que passava naquele momento ouviu o alvoroço e logo interviu:

– Negrinhos favelados? O senhor tenha mais respeito! Isso é discriminação racial e é crime, sabia?

– Eu não quero nem saber! Peguei eles roubando minha banca! Por acaso a moça é mãe desses dois? Se for, me pague os dez reais de doce que eles me roubaram e sumam daqui todos vocês!

– Não sou nada deles não, mas tome aqui seus dez reais e passar bem! Venham crianças, eu irei ajudar vocês! Por acaso estão perdidos? Cadê a mãe de vocês?

A moça se abaixou pra falar com os gêmeos e notou que eles eram crianças bem vestidas. Eles usavam túnicas com tecidos nobres enroladas no corpo e turbantes na cabeça, um vestia azul e o outro vermelho, cada um tinha um colar com uma espécie de machado de pingente, usavam sandálias de couro e tinham cabelos bem tratados, os dois usavam tranças nagô adornados com anéis dourados, a única diferença era que a criança de azul tinha o cabelo trançado até as pontas e a de vermelho era trançado até a metade da cabeça, deixando o restante dos cachos soltos. Os dois eram idênticos e tinham olhos de cores diferentes, azul e verde.

– Vocês tem heterocromia!

– Que isso moça? Eles diziam ao mesmo tempo e se olhavam sem entender.

– Quer dizer que vocês tem olhos de cores diferentes! Não é nada anormal, mas é algo muito raro e lindo! Mas, o que vocês fazem sozinhos? Cadê seus pais ou responsáveis!

– A nossa mãe está doente...
– E nos mandou ir atrás do nosso pai! — diziam um de cada vez, completando a frase um do outro.

– Como assim alguém manda duas crianças pequenas irem atrás do pai? E vocês sabem onde seu pai está?

– Não! Mas nossa mãe disse que o destino se encarregaria disso! Falavam os dois juntos.

– Nossa, que loucura! Vocês, venham comigo até minha casa, lá eu vou ver o que fazer e pensar pra quem pedir ajuda! Essa cidade é muito grande para duas crianças lindas e inocentes ficarem perdidas e esse bairro então, é fim de linha pra gente da nossa cor... bora?!

Os dois sorriam e cada um segurou uma das mãos da moça, como se soubessem que estariam seguros a partir dali.

– Ah, meu nome é Cristina, mas pode me chamar de Tina! E o de vocês?

– Humm... não sabemos! Viemos hoje pra esse mundo!

– Ai, aiaiai, aaai ai! Essas crianças, viu. Como assim?! Acho que vocês querem dizer que chegaram hoje nessa cidade né?! e não querem me dizer seus nomes. Bom, vou chamar vocês então de Tico e Teco, que tal? — eles olharam pra ela com cara de cachorrinhos confusos, virando a cabeça de lado — ah, tô brincando!— Disse ela — Hummm... por enquanto eu vou chamar você, que está de azul de Noan e você de vermelho de Naia.

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