Depois de andarem por horas, eles chegavam na cidade e se distraiam com tantas novidades. A cada quadra que andavam, eles paravam para olhar uma coisa e bricavam com os animais de rua que encontravam pelo caminho. A Mãe tinha dado uma referência de onde o Pai poderia estar, mas suas cabeças estavam ligadas somente na diversão e com isso, ficaram desnorteados, causando confusão com suas brincadeiras infantis.
Como ainda eram ingênuos e inocentes, acreditavam que todos eram felizes e brincalhões iguais a eles, mas se deparam com pessoas estúpidas que os tratavam com desprezo.Em um dado momento eles sentiram fome e resolveram pegar doces das bancas e um homem apareceu de repente:
– Ei! Seus pirralhos marginais! Roubando chocolate da minha banca?
Os dois se olhavam sem entender. Eles acreditavam que tudo ali estava disponível para eles pegarem o que quisessem, já que em seu Reino era assim.
– O que é roubando? Mas esses doces não são pra comer?!
– Vocês terão que pagar por isso se quiserem comer! E eu acho que os dois negrinhos favelados não tem dinheiro, não é mesmo?!
Uma moça negra que passava naquele momento ouviu o alvoroço e logo interviu:
– Negrinhos favelados? O senhor tenha mais respeito! Isso é discriminação racial e é crime, sabia?
– Eu não quero nem saber! Peguei eles roubando minha banca! Por acaso a moça é mãe desses dois? Se for, me pague os dez reais de doce que eles me roubaram e sumam daqui todos vocês!
– Não sou nada deles não, mas tome aqui seus dez reais e passar bem! Venham crianças, eu irei ajudar vocês! Por acaso estão perdidos? Cadê a mãe de vocês?
A moça se abaixou pra falar com os gêmeos e notou que eles eram crianças bem vestidas. Eles usavam túnicas com tecidos nobres enroladas no corpo e turbantes na cabeça, um vestia azul e o outro vermelho, cada um tinha um colar com uma espécie de machado de pingente, usavam sandálias de couro e tinham cabelos bem tratados, os dois usavam tranças nagô adornados com anéis dourados, a única diferença era que a criança de azul tinha o cabelo trançado até as pontas e a de vermelho era trançado até a metade da cabeça, deixando o restante dos cachos soltos. Os dois eram idênticos e tinham olhos de cores diferentes, azul e verde.
– Vocês tem heterocromia!
– Que isso moça? Eles diziam ao mesmo tempo e se olhavam sem entender.
– Quer dizer que vocês tem olhos de cores diferentes! Não é nada anormal, mas é algo muito raro e lindo! Mas, o que vocês fazem sozinhos? Cadê seus pais ou responsáveis!
– A nossa mãe está doente...
– E nos mandou ir atrás do nosso pai! — diziam um de cada vez, completando a frase um do outro.– Como assim alguém manda duas crianças pequenas irem atrás do pai? E vocês sabem onde seu pai está?
– Não! Mas nossa mãe disse que o destino se encarregaria disso! Falavam os dois juntos.
– Nossa, que loucura! Vocês, venham comigo até minha casa, lá eu vou ver o que fazer e pensar pra quem pedir ajuda! Essa cidade é muito grande para duas crianças lindas e inocentes ficarem perdidas e esse bairro então, é fim de linha pra gente da nossa cor... bora?!
Os dois sorriam e cada um segurou uma das mãos da moça, como se soubessem que estariam seguros a partir dali.
– Ah, meu nome é Cristina, mas pode me chamar de Tina! E o de vocês?
– Humm... não sabemos! Viemos hoje pra esse mundo!
– Ai, aiaiai, aaai ai! Essas crianças, viu. Como assim?! Acho que vocês querem dizer que chegaram hoje nessa cidade né?! e não querem me dizer seus nomes. Bom, vou chamar vocês então de Tico e Teco, que tal? — eles olharam pra ela com cara de cachorrinhos confusos, virando a cabeça de lado — ah, tô brincando!— Disse ela — Hummm... por enquanto eu vou chamar você, que está de azul de Noan e você de vermelho de Naia.

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ANCESTRAIS
FantasyTina é uma jovem negra de 17 anos que, pela força do destino, encontra um casal de gêmeos, com idade aparentemente de seis anos. Perdidos na cidade grande, eles causam confusão por onde passam com suas traquinagens inocentes e são hostilizados por...