CAPÍTULO 2

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Depois de pegarem 2 conduções e andarem mais alguns metros até chegarem ao bairro onde Tina morava, os gêmeos continuavam elétricos e bastante empolgados, tudo ali era novidade para eles. Tina ria da animação dos dois.

– Bom crianças, chegamos! Essa é a minha casa! Moro com minha mãe aqui, mas ela só vem pra casa no fim de semana. Quer dizer, agora ela deve vir só daqui uns vinte dias porque a patroa dela fez uma lipo e pediu para que ela ficasse também nas folgas. Vê se pode, não bastasse que fico sozinha aqui a semana toda, agora nem fim de semana podemos ficar juntas. Por isso, estou estudando muito esse ano, porque vou fazer uma faculdade de Direito e vou virar juíza pra fazer justiça, aí vou dar uma vida de rainha para minha mãe!

– Tina, sabia que meu pai também é juiza e minha mãe é Rainha? — Falou Noan, enquanto mexia em tudo na sala.

– Sério? — Respondia ela rindo.

— Sim! Minha mãe falou que sem meu pai não há justiça e é por isso que devemos encontrar ele! — Respondeu Naia.

– Humm, muito interessante! Então, vocês estão com fome? Que tal um sanduíche com suco! Daí enquanto a gente come, vocês me contam mais sobre seus pais.

– Tem chocolate, Tina?

– Chocolate só amanhã porque agora está anoitecendo e pode tirar o sono de vocês. Que tal a gente comer o sanduíche, tomar um banho e depois eu faço uma pipoca pra gente assistir um filminho legal. O que acham dessa ideia? Tá ok pra vocês?!

– Tá Oooquei!!

– Eu só vou dar uma ligadinha pra minha amiga pra ver se ela tem umas roupas dos moleques dela pra emprestar a vocês! Aqui em casa não tem mais nada pra criança e vocês precisam de umas roupas mais normais.

" – Alô! Joana? Oi! Em, você tem umas peças de roupas dos seus meninos pra me arrumar? É que eu estou ajudando duas crianças aqui e elas estão só com a roupa do corpo!
– Arrumo sim, miga! Mas que crianças são essas? Você pegou pra cuidar assim do nada? Virou babá?
– Eu encontrei elas na rua sendo maltratadas e elas pareciam perdidas, então eu trouxe comigo pra tentar localizar os pais delas, é uma história bizarra, mas eu fiquei com dó! São gêmeos e são lindos, você precisa ver!
– Que história maluca é essa, Tina?! Pegando criança de rua e levando pra sua casa? Tá doida é?! Tinha que ter chamado a polícia, conselho tutelar, assistente social, sei lá...
– Mas eles não parecem ser crianças de rua. Eles parecem dois deuses africanos e se vestem como príncipe e princesa! É engraçado que eles até disseram que a mãe é uma rainha, mas está doente e precisam encontrar o pai...
– Cuidado menina! Isso pode ser um pepino daqueles! E se eles forem filhos de gente rica que foram sequestrados ou pior, filhos de traficante! Acho melhor você se livrar deles rapidinho, senão pode acontecer o mesmo que aconteceu com seu pai...
– Que isso, amiga! Não acho que seja isso não e não posso "me livrar" das crianças. Meu coração diz que eu preciso ajudá-las e eu vou fazer isso e quanto ao meu pai... ah, esquece!
– Você quem sabe! Vou mandar o Samuel levar as roupas aí, tá?! Mas fica de olho pra não se meter em enrascada! Beijo amiga!"

Tina ficou um pouco pensativa com a conversa, mas isso não ia fazer ela voltar atrás em ajudar os dois.

– Bora lanchar, meus pequenos e depois, banho! Eu ainda tenho que estudar um pouco, mas vou assistir um filme com vocês e aí terão que tentar dormir!

Enquanto eles lanchavam, ela começou a fazer uma pesquisa sobre crianças desaparecidas ou sequestradas na Internet, mas não encontrava nada sobre gêmeos perdidos com a descrição deles.
Antes que terminassem  o lanche, o menino Samuel bateu na porta para entregar as roupas emprestadas.

– Uai, o que aconteceu que você tá com essa cara de choro?

– O cachorrinho de rua que a gente cuida foi atropelado por uma moto! O coitadinho tá ali embaixo agonizando. Acho que vai morrer!

Mais que depressa os gêmeos se levantaram e saíram pela porta correndo sem dizer nada. Tina e o menino desceram atrás dos dois tentando alcançá-los.
Eles ficaram diante do pequeno cachorro que parecia dar seus últimos suspiros. Depois, seguraram as mãos um do outro e com as outras mãos livres, colocaram-nas sobre o cachorrinho. Tina e o menino também pararam olhando a cena e ficaram sem entender que tipo de coisa eles estavam fazendo, mas permaneceram em silêncio. Tina achou que poderia ser algo da cultura deles, já que eles eram bem estranhos.
Alguns segundos depois, o cachorrinho se levantou e abanou o rabinho todo contente.

– Olha, Tina! Essas crianças curaram o bichinho! — Dizia Samuel enquanto afagava o cachorro.

– Que nada, menino! É só coincidência! O cachorro nem devia estar tão mal assim. Acho que você que exagerou!

– Ainda bem que ainda tinha um sopro de vida!
– Porque com a morte não se brinca! — diziam os dois sorrindo.

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