CAPÍTULO 3

11 1 0
                                    

Já estava tarde da noite e as crianças dormiam cada uma em um lado do sofá.
Tina ainda estava sentada na mesa da cozinha estudando, mas o cansaço a dominava e, lentamente seus olhos se fecharam, fazendo que ela dormisse ali mesmo, debruçada em seus livros.

Naia viu que Tina tinha caído no sono e chamou Noan bem baixinho:

- Vamos irmão. Acho que a gente pode encontrar ele bem nesse horário...
- É. Talvez ele nos ajude. Vamos em silêncio pra não acordar a Tina.

Os dois abriram a porta bem devagarinho e saíram de mãos dadas descendo a rua até chegar numa baixada cheio de bares. Estava lotado de pessoas bebendo, fumando, gritando e brigando. Elas entramos no pior ambiente que tinha por ali e olhavam procurando alguém familiar. Depois de dar várias voltas pelo salão lotado, Noan cutucou Naia para lhe chamar a atenção:

- Ali encostado no balcão. Acho que é ele.
- É, parece ser ele. O chapéu e a roupa. Só pode ser ele!

Os dois andaram até o homem, que parecia muito embriagado e fumava um cigarro. Chegaram bem perto e puxaram sua camisa.

- Ei moço! Ei, você é o Zé?

- Que Zé o quê? Que que vocês querem? Aliás, porque raios tem criança nessa espelunca?

- Ei moço! Você é o Zé, não é?!

O homem se abaixou pra falar mais perto do rosto das crianças e com os olhos meio caído, respondeu para os dois:

- Quem cês tão procurando? O pai de vocês?

- Isso mesmo Zé! Você viu nosso pai?

Ele se levantou e com ar de deboche falava alto:

- É sério isso? Se seu pai for um vadio, então estão procurando no lugar certo! É aqui que vagabundos da pior espécie estão, não é minha gente!

Noan e Naia viram que o homem não estava levando eles muito a sério e os dois tocaram juntos a mão dele. Rapidamente o homem parou, arregalou os olhos e levou eles pra fora para conversar seriamente com os dois.

- Me perdoe, eu estava fora de mim e nunca ia imaginar que seriam vocês de verdade nesse tipo de ambiente. No que posso ser útil?!

- Nossa mãe nos mandou para procurar o nosso pai...
- Ela está doente e precisa dele rápido!

- Olha, eu não poderia me meter nisso, mas tem gente ruim metida com o desaparecimento do seu pai. Tem um grandão aí, miliciano, que descobriu como usar poderes dos seres sobrenaturais para uso próprio. Dizem que ele caça figuras como nós e já levou um monte. Por isso que eu fico na surdina, não quero ser o próximo. E quanto a vocês, deviam voltar, pegar sua mãe e partirem para a Grande Morada no Éter. É meu conselho de amigo!

De longe vinha Tina desesperada procurando pelos gêmeos:

- Meu Deus do céu! O que vocês fazem nessa baixada! Aqui não é lugar pra criança em hora nenhuma! E se a polícia passa atirando? E se a milícia passa atirando? Eu tô muito nervosa com vocês! Bora pra casa agora! E vocês não sabiam que não pode dar papo pra qualquer um!

- Mas esse é o Zé! Ele pode nos ajudar!!

Tina deu uma olhada de cima em baixo pro homem e segurou a mão das crianças saindo rápido, com medo.

- Esse tipo aí não ajuda ninguém não. Não estão vendo que esse cara tá bêbado!

- Ei crianças, vou ver no que posso ajudar! Vou falar com os outros e se eu souber de algo eu procuro vocês! Vão em paz e obedeçam a moça!

- Até mais Zé! Obrigado!

- Que espécie de sandice é essa? Ele poderia ter feito mal a vocês!

- A gente não faz mal.
- Só faz o bem!

- Eu sei que vocês só fazem o bem, vocês dois são boas crianças de coração puro! Mas olha aonde vocês vieram? Nem eu ando nessas vielas a noite, sempre tem uns mal intencionados nesses lugares... Ixi, ali na esquina tem um com uma metralha na mão... bora rápido, antes que ele nos veja! Me ajuda, Deus!

- Ei, novinha?! Tá indo pra onde? Ei, volta aqui pro papai hahaha!

- Desculpa moço! Estamos indo pra casa, é logo ali em cima!

- Humm... a moça andando tão tarde, só com essas crianças te acompanhando? Vazam daqui criançada que quero bater um papo com a mocinha aqui... vaza, vaza!

O homem puxou a Tina pelo braço e encostou ela na parede para agarrá-la à força. Os gêmeos olhavam assustados a cena e depois se olharam como se conversassem por pensamento. Eles se abraçaram e diziam em voz alta:

- NÓS SOMOS UM!

E diante do homem e da Tina se transformaram em um ser brilhante. Depois que a luz desapareceu, deu pra ver que era um homem negro bem grande e musculoso. Ele segurava um machado em cada mão, que saiam faíscas como raios. O estranho Ser nem precisou fazer nada, que o homem saiu correndo, assustado, deixando até a arma pra trás. Tina também ficou paralisada com a visão e não conseguia sair do lugar.
Quando o homem sumiu mais adiante, o Ser se transformou novamente nas duas crianças. Elas riam sem parar:

- Você viu, Tina? O homem mau saiu correndo de medo!
- Ele morreu de medo da gente e a gente nem precisou fazer nada!
- Tina? Tinaaaa!!

Tina, ainda atordoada voltava a si e queria respostas:

- Mas o que foi isso? Como fizeram isso? O que são vocês?

- Tina, a gente não tá se sentindo bem.
- Estamos fracos. Podemos ir pra sua casa agora?

- P-podemos sim! Claro que podemos! Peguem na minha mão, já estamos quase lá!

Antes da Tina começar com as perguntas, os dois caíram no sofá e dormiram profundamente.

- Eles dormiram na maior tranquilidade e eu vou ficar aqui tentando entender o que foi aquilo ali em baixo! Eu nem sei o que pensar. Se eu contar, ninguém vai acreditar então, vou guardar segredo!

ANCESTRAIS Onde histórias criam vida. Descubra agora