Já estava tarde da noite e as crianças dormiam cada uma em um lado do sofá.
Tina ainda estava sentada na mesa da cozinha estudando, mas o cansaço a dominava e, lentamente seus olhos se fecharam, fazendo que ela dormisse ali mesmo, debruçada em seus livros.Naia viu que Tina tinha caído no sono e chamou Noan bem baixinho:
- Vamos irmão. Acho que a gente pode encontrar ele bem nesse horário...
- É. Talvez ele nos ajude. Vamos em silêncio pra não acordar a Tina.Os dois abriram a porta bem devagarinho e saíram de mãos dadas descendo a rua até chegar numa baixada cheio de bares. Estava lotado de pessoas bebendo, fumando, gritando e brigando. Elas entramos no pior ambiente que tinha por ali e olhavam procurando alguém familiar. Depois de dar várias voltas pelo salão lotado, Noan cutucou Naia para lhe chamar a atenção:
- Ali encostado no balcão. Acho que é ele.
- É, parece ser ele. O chapéu e a roupa. Só pode ser ele!Os dois andaram até o homem, que parecia muito embriagado e fumava um cigarro. Chegaram bem perto e puxaram sua camisa.
- Ei moço! Ei, você é o Zé?
- Que Zé o quê? Que que vocês querem? Aliás, porque raios tem criança nessa espelunca?
- Ei moço! Você é o Zé, não é?!
O homem se abaixou pra falar mais perto do rosto das crianças e com os olhos meio caído, respondeu para os dois:
- Quem cês tão procurando? O pai de vocês?
- Isso mesmo Zé! Você viu nosso pai?
Ele se levantou e com ar de deboche falava alto:
- É sério isso? Se seu pai for um vadio, então estão procurando no lugar certo! É aqui que vagabundos da pior espécie estão, não é minha gente!
Noan e Naia viram que o homem não estava levando eles muito a sério e os dois tocaram juntos a mão dele. Rapidamente o homem parou, arregalou os olhos e levou eles pra fora para conversar seriamente com os dois.
- Me perdoe, eu estava fora de mim e nunca ia imaginar que seriam vocês de verdade nesse tipo de ambiente. No que posso ser útil?!
- Nossa mãe nos mandou para procurar o nosso pai...
- Ela está doente e precisa dele rápido!- Olha, eu não poderia me meter nisso, mas tem gente ruim metida com o desaparecimento do seu pai. Tem um grandão aí, miliciano, que descobriu como usar poderes dos seres sobrenaturais para uso próprio. Dizem que ele caça figuras como nós e já levou um monte. Por isso que eu fico na surdina, não quero ser o próximo. E quanto a vocês, deviam voltar, pegar sua mãe e partirem para a Grande Morada no Éter. É meu conselho de amigo!
De longe vinha Tina desesperada procurando pelos gêmeos:
- Meu Deus do céu! O que vocês fazem nessa baixada! Aqui não é lugar pra criança em hora nenhuma! E se a polícia passa atirando? E se a milícia passa atirando? Eu tô muito nervosa com vocês! Bora pra casa agora! E vocês não sabiam que não pode dar papo pra qualquer um!
- Mas esse é o Zé! Ele pode nos ajudar!!
Tina deu uma olhada de cima em baixo pro homem e segurou a mão das crianças saindo rápido, com medo.
- Esse tipo aí não ajuda ninguém não. Não estão vendo que esse cara tá bêbado!
- Ei crianças, vou ver no que posso ajudar! Vou falar com os outros e se eu souber de algo eu procuro vocês! Vão em paz e obedeçam a moça!
- Até mais Zé! Obrigado!
- Que espécie de sandice é essa? Ele poderia ter feito mal a vocês!
- A gente não faz mal.
- Só faz o bem!- Eu sei que vocês só fazem o bem, vocês dois são boas crianças de coração puro! Mas olha aonde vocês vieram? Nem eu ando nessas vielas a noite, sempre tem uns mal intencionados nesses lugares... Ixi, ali na esquina tem um com uma metralha na mão... bora rápido, antes que ele nos veja! Me ajuda, Deus!
- Ei, novinha?! Tá indo pra onde? Ei, volta aqui pro papai hahaha!
- Desculpa moço! Estamos indo pra casa, é logo ali em cima!
- Humm... a moça andando tão tarde, só com essas crianças te acompanhando? Vazam daqui criançada que quero bater um papo com a mocinha aqui... vaza, vaza!
O homem puxou a Tina pelo braço e encostou ela na parede para agarrá-la à força. Os gêmeos olhavam assustados a cena e depois se olharam como se conversassem por pensamento. Eles se abraçaram e diziam em voz alta:
- NÓS SOMOS UM!
E diante do homem e da Tina se transformaram em um ser brilhante. Depois que a luz desapareceu, deu pra ver que era um homem negro bem grande e musculoso. Ele segurava um machado em cada mão, que saiam faíscas como raios. O estranho Ser nem precisou fazer nada, que o homem saiu correndo, assustado, deixando até a arma pra trás. Tina também ficou paralisada com a visão e não conseguia sair do lugar.
Quando o homem sumiu mais adiante, o Ser se transformou novamente nas duas crianças. Elas riam sem parar:- Você viu, Tina? O homem mau saiu correndo de medo!
- Ele morreu de medo da gente e a gente nem precisou fazer nada!
- Tina? Tinaaaa!!Tina, ainda atordoada voltava a si e queria respostas:
- Mas o que foi isso? Como fizeram isso? O que são vocês?
- Tina, a gente não tá se sentindo bem.
- Estamos fracos. Podemos ir pra sua casa agora?- P-podemos sim! Claro que podemos! Peguem na minha mão, já estamos quase lá!
Antes da Tina começar com as perguntas, os dois caíram no sofá e dormiram profundamente.
- Eles dormiram na maior tranquilidade e eu vou ficar aqui tentando entender o que foi aquilo ali em baixo! Eu nem sei o que pensar. Se eu contar, ninguém vai acreditar então, vou guardar segredo!
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ANCESTRAIS
FantasyTina é uma jovem negra de 17 anos que, pela força do destino, encontra um casal de gêmeos, com idade aparentemente de seis anos. Perdidos na cidade grande, eles causam confusão por onde passam com suas traquinagens inocentes e são hostilizados por...