304

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Os fios dourados da garota se espalhavam por todo o travesseiro, e ao seu lado, Taehyung se lembrava de quando ainda sentia algo por ela. Quando ainda voltava feliz para casa e ansiava em sentir a pele hidratada e quente na sua. Mas naquela noite, a observando dormir inconsciente de tudo que se passava dentro de sua cabeça, ele não conseguiu evitar sentir pena. Odiava o sentimento mesquinho, que a deixava apenas como uma peça sem encaixe, perdida.

Tirou o cobertor de cima do corpo e enfrentou o frio da noite, ainda com o peito desnudo. Encarou seu reflexo no espelho, os cabelos desalinhados, os olhos rodeados de um tom arroxeado, que mostravam à todos o seu cansaço. Taehyung só tinha um lugar em mente, para onde queria fugir todas as noites e todos os dias, se fosse possível. Pegou o celular, abriu o contato dele e digitou:

"Me encontre no 304 em uma hora, por favor."

Enviou, fechando os olhos por um momento, mordendo os lábios e se amaldiçoando mais uma vez. A pior parte era esperar que uma resposta chegasse, e ela sempre demorava. Afinal, que graça teria se não houvesse um pouco de tensão, de incerteza. Ele nunca foi uma pessoa paciente e a maioria das pessoas entendia que não era bom o testar. Mas não ele, que pouco se importava com seus caprichos.

Foram exatos vinte e nove minutos de espera, e então a notificação chegou, com a mensagem que dizia:

"Dois e setecentos, pelo horário."

Porra. Ele pensou, quase vociferando o sentimento odioso de ser usado e gostar disso.

Não pensou muito antes de se enfiar em suas roupas sociais de novo, mas sem se importar com um paletó, seria inútil de qualquer forma. Enquanto colocava os sapatos italianos, olhou mais uma vez para ela, suspirou e se levantou, seguindo para fora do quarto. Não conseguia ao menos sentir remorso por deixá-la no meio da madrugada e ir em direção ao hotel mais distante que conseguira achar há um tempo. Depois de fechar a porta, o mais silenciosamente que poderia, entrou no carro e deu partida para o sul da cidade, sentindo cada célula do seu corpo despertar.

[...]

Esperar uma resposta era nada se comparado à esperar por ele. Mesmo que tivesse aceitado encontrá-lo mais uma vez naquele quarto, ele apareceria quando quisesse, antes que o tempo que tinham pudesse se esgotar. O relógio em seu pulso marcava duas e vinte três, estava em seu segundo copo de whisky, com a cabeça encostada na poltrona, os olhos pesados encaravam o teto bege, ansioso e entediado.

Sob a mesa de centro da salinha de estar, o envelope branco esperava seu dono chegar, com dois mil e setecentos wons, em notas pequenas, como de costume. Se perguntassem à Taehyung, ele diria que era pouco, mas ainda assim, não se dava ao luxo de dispor de mais por ele, que não aceitaria, de qualquer jeito. Era alguém com uma boa quantidade de convicções, e não tinha receio em deixá-las claras.

As suaves batidas na porta tiraram Taehyung de um transe, o fazendo levantar em direção à ela com certa rapidez. Mas antes que pudesse abri-la, ele deu um último gole na bebida e se olhou no espelho do hall, não gostando muito do que viu. Espantou qualquer tipo de dúvida e abriu. Lá estava ele, como se fosse estrelar a porra de um filme, causando respostas completamente inconscientes no outro, que nunca conseguia dar um "boa noite" apropriado.

— Oi — o loiro disse, sorrindo de lado e piscando lentamente.

— Entra...

Já com a jaqueta no meios dos braços, ele entrou no quarto, terminando de a tirar ainda no hall e a jogando num dos cantos. A camisa de seda azul escura, contrastava com a pele alva e com os lábios que pareciam tingidos de carmim. Taehyung nunca sabia o que dizer quando realmente estava com ele, por mais que imaginasse milhões de vezes seus encontros.

Olhos Perversos | TAEJINOnde histórias criam vida. Descubra agora