1 - Narnia

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Acordo num espasmo. Sempre tenho o mesmo sonho. Nunca muda. Eu ando em uma floresta congelada, escuto passos cada vez mais próximos e acordo antes de ver de onde os passos vem.

Suspiro emburrada e me levanto da cama, indo até a cozinha. Meus avós me dizem que tenho sorte de morar no Brasil, pois não sou tão afetada pela guerra. Talvez eu tenha, mas ainda sinto falta de meu pai. E claro, de minha mãe.

A casa dos meus avós não é tão ruim de ficar. Posso ouvir pássaros cantando sempre, e os cachorros da vizinha me adoram.

Meu pai partiu para a guerra há alguns meses atrás. Parei de contar porque me deixava muito mal. Minha mãe morreu quando eu tinha somente 10 anos.

Minha madrinha estudava comigo antes do internato. Ela até me ensinou a falar o inglês norte-americano, mas agora, no internato, não o me ensinam mais. Às vezes pratico sozinha, mas vovó disse que isso vai me deixar louca, então tento não deixá-la ver.

"Bom dia, criança. O sol está lindo lá fora, por que não vai respirar um pouco?" minha avó diz e eu reviro os olhos.

"Como se não tivesse ar aqui dentro."

Me levanto de minha cadeira e vou até o quintal, correndo entre as borboletas. Diferente das outras garotas, deixava meu cabelo solto e usava calças. Vovó implicava no início mas nem liga mais, na verdade, até acho que ela goste.

Observo a floresta em minha frente e vejo algo diferente. Um esquilo. Olho pros lados verificando se não tem ninguém observando e o sigo floresta adentro. Ele pula em um pequeno lago e some. Começo a me preocupar. Coloco a mão na água, que estava surpreendentemente morna. Continuo procurando pelo esquilo e escorrego da beirada, caindo direto no lago.

Prendo a respiração e fecho os olhos, esperando a água me atingir, mas sinto meus pés tocarem um chão fofo e gelado. Abro os olhos e vejo a floresta congelada de meus sonhos.

"Que mer..." paro quando escuto vozes.

"Não se preocupe." Ouço uma voz feminina, aparentemente de uma criança. "Certamente é só a sua imaginação."

"Acho que pedir desculpas não é suficiente." outra voz masculina diz e tento encontrar de onde elas vem.

"Não, não é." a mesma criança diz. Eles começam a rir e percebo que são mais de dois. Os vejo de longe, dois garotos e duas garotas. A garotinha parecia não ter mais de 11 anos, já a mais velha parecia 17. O garoto mais velho, loiro, parecia ter a mesma idade da garota. Já o outro, moreno, parecia ter a mesma idade que eu, 15.

"Ei." grito e todos eles olham pra mim.

"Quem é você?" A garota mais velha pergunta, em inglês, com o sotaque dos britânicos e isso me assusta.

"Meu nome é Annie. Quem são vocês? Que lugar é esse? Como eu vim parar aqui?"

"E como nós devemos saber disso?" O mais velho diz.

"Não sei. Vocês parecem bem familiarizados com o lugar." Os analiso, tomando meu tempo no garoto mais novo, e deixando a mais nova por último. Decidi que iria falar com ela. "Prazer, sou Annie. Você sabe que lugar é esse?"

"É Nárnia!" Ela diz feliz. "Me chamo Lucy."

Repito o nome dela sem fazer som e ela sorri.

"E o que seria Nárnia, querida Lucy?"

"É um lugar mágico!" ela diz feliz. Sorrio de volta.

"Mágico? Por que não damos uma volta então?" Digo olhando os mais velhos.

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