JOGADA DA VIDA - Spin off de Jogada Perfeita

Capítulo 01

"Eu sei que você está pensando que eu não tenho coração

Eu sei que você está pensando que eu sou frioEu estou apenas protegendo minha inocênciaEstou apenas protegendo minha alma"

(Sam Smith - Too Good a Goodbyes)

Daniel Turner

Observei Milla e Nate em meio a uma guerra de bola de neve. Estávamos em Livingston, Montana, a cidade em que nasci e vivi até os dezoito anos. Milla é minha irmã mais nova, e Nate é seu noivo, jogador de hóquei do Chicago Winters. Estão juntos agora à três anos, e na última semana, durante o final da Copa Stanley, o idiota a pediu em casamento, em frente a arena, lotada. Mesmo indo contra todos os meus instintos de irmão mais velho protetor, vendo a forma como agora ele a levantava no colo e caia no chão com ela, para em seguida beijá-la, eu tinha que admitir. 

Nate era decente e amava Milla.

— Eles são nojentos de tão fofos!

Olhei para Melissa, minha outra irmã mais nova, gêmea de Milla. Diferente de Milla, que trabalha na área de finanças na Jhonson&Turner, escritório de advocacia no qual sou sócio, em Chicago, Melissa é modelo. Milla e Melissa são gêmeas não idênticas. Enquanto Milla tem cabelos escuros e os olhos verdes de minha mãe, Melissa é loira de olhos azuis. Diferente em todos os sentidos, mas compartilharam o útero da mãe ao mesmo tempo.

Ela encostou a cabeça em meu ombro, escorando os antebraços na grade da grande varanda do Rancho dos nossos pais. Era novembro, inverno, os dias estavam nublados e nevando muito. Era o aniversário de nossa mãe e viemos todos para comemorar com ela.

— Ela está feliz. — Eu respondi.

— Mamãe está nas nuvens agora que decidiram se casar. Acha que logo terá netos, finalmente. — Fiz uma careta ao imaginar minha irmã mais nova grávida. Casamento e compromisso nunca foi o meu ideal de vida. Filhos, cerca branca, cachorros e todas essas merdas — Dan, não seja ranzinza, veja pelo lado bom. Se Milla tivesse um bebê mamãe pararia de pegar em seu pé para arrumar uma mulher e se acalmar.

Minha careta se intensificou porque era uma realidade. Mamãe não perdia uma oportunidade de alfinetar sobre como eu já tinha trinta e quatro anos e ainda não tinha esposa ou filhos. Eu procurava desconversar e fugir de cada tentativa sua de me encurralar, ou mesmo apresentar alguma filha de amiga, pois sabia que se ela soubesse a minha aversão a toda essa tradicionalidade, certamente teria seus sentimentos feridos.

Eu não era um homem revoltado, que não acreditava no amor, ou tive meus sentimentos feridos por alguma desilusão. Eu só não queria esse tipo de vida para mim. Eu gosto da minha vida do jeito que ela é, meu espaço só para mim, ir e vir sem dar satisfações a ninguém.

— Ela não desiste. — Resmunguei.

— Só não consigo entender o porquê de tanta resistência. Você não será jovem e bonito para sempre. Eu só não namoro porque.. bem, não conheci ninguém que fizesse isso comigo.

Olhei para onde Melissa encarava Nate e Milla. Ele novamente a girava no colo, rindo e pareciam duas crianças brincando na neve.

— Que te gire no colo como um idiota? — Perguntei zombeteiro.

— Que faça eu me sentir boba. —  Ela respondeu suspirando, olhando para ambos.

— Eu passo. — Respondi.