Capítulo 06

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CAPÍTULO 06

Daniel Turner

Depois de deixar Victoria em meu quarto, me troquei e me deitei no sofá, minha cama nas últimas noites. Eu precisava... Organizar tudo. Um quarto para Victoria, uma babá, escola... Meu corpo estava exausto, porém minha mente tinha vida própria. Pensamentos me envolviam em um espiral que quase me fazia sucumbir ao desespero. Victoria Grace Ford era minha filha. Uma filha que eu nunca quis, nunca soube que existia, acabara de cair em meu colo.

O consolo foi saber que meus pais estavam vindo para Chicago. Eu podia afirmar que nunca precisei mais deles do que no momento. Eles estavam ansiosos para conhecer Victoria, assim como Melissa. Passariam o fim de semana aqui e Melissa ficaria por uma semana, até que eu conseguisse uma babá. Minha mãe também se ofereceu para ficar com Victoria por um tempo, mas algo nessa proposta parecia errado. Por mais reticente que eu estivesse, ela era a minha filha, minha responsabilidade, não de meus pais. Eu deveria trabalhar em um vínculo com ela, pois ainda pisamos em ovos ao redor um do outro.

Ela tinha olhos tristes e assombrados, mas parecia muito mais a vontade quando Milla estava por perto e até mesmo com Nate ela abriu um sorriso. Eu nunca fui bom com crianças e elas nunca pareceram gostar muito de mim também; todavia, não restava opção. Eu tinha que conquistar a confiança e o afeto de Victoria e provar que eu daria conta de cuidar da minha filha.

Minha filha.

Ainda era um pensamento mais abstrato que concreto.

Me lembrei das palavras de Ashley Mackenzie. Por um momento achei que ela me entenderia, que deixaria de ser uma julgadora chata pra caralho e se comportaria como um ser humano. Por um momento até imaginei que ela poderia usar de bondade comigo. Mas não, ela tinha que me acusar de não querer a minha filha, tinha que me chamar a atenção. Chata, insuportável.

Erro meu. Eu tinha problemas suficientes em minha vida para ter que lidar com os julgamentos de Ashley. Com esses pensamentos, o turbilhão em minha mente diminuiu e eu acabei adormecendo.

No meio da madrugada uma mão pequena e cálida me sacudiu levemente. Abri os olhos assustado, pois não estava acostumado a dormir com outras pessoas e foi quando vi Victoria ao lado do sofá. Ela segurava o ursinho, tinha as tranças bagunçadas e os olhos brilhavam. Me sentei no sofá e liguei o abajur, meu coração disparado.

— Estou com sede.

Um pouco mais aliviado, penteei o cabelo com as mãos. Eu tinha que me acostumar com isso, com ter outra pessoa que dependia de mim. E não me assustar com qualquer coisa, porque crianças tinham demandas. Eu não poderia quase ter um infarto toda vez que Victoria falasse comigo.

— Certo. Venha comigo.

Minha casa não era adaptada para crianças, ela provavelmente ainda não se sentia à vontade em abrir a geladeira. Ou ela não sabia fazer isso? Eu não entendia nada sobre crianças de cinco anos. Me levantei e fui em direção à cozinha. Ela me acompanhou com seus passinhos leves, pés cobertos por pantufas fofas com cara de coelho. Eu peguei a água e dei em suas mãos.

— Quando a Mary vai voltar? — Ela perguntou após alguns goles.

Novamente, a sensação do peso de chumbo se apoderou do meu estômago. Eu esperei que ela tomasse a água e então me abaixei para falar com ela. Respirei fundo pelo menos duas vezes, porque as palavras precisavam fazer sentido não somente para ela, mas também para mim.

— Victoria, eu acho que você já deve saber que eu sou o seu pai.

Ela piscou algumas vezes. Seu silêncio me fez ficar mais apreensivo do que eu gostaria, mas então, ela começou a falar.

JOGADA DA VIDA - Spin off de Jogada PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora