8. Azul das Trevas

36 6 8
                                    


Thiago se encontrava em um estado de sono inquieto. Sonhos e sonhos passavam por sua cabeça, até que finalmente algo nítido se solidificou em sua mente. O rapaz Bellator se viu em um salão enorme, de piso lustroso, com um trono vistoso e dourado localizado logo à frente. Aquele lugar era tão familiar quanto sua própria casa, pois ali era seu local de trabalho, o Palácio Real dos Electi, ou como comumente também era chamado: A Fortaleza das Chamas.

Thiago piscou um pouco para se acostumar a nova visão, e visualizou uma pessoa em sua frente. Um ruivo. Que estava caído aos seus pés, uma espada cravada em seu coração, enquanto Agatha chorava compulsivamente ajoelhada ao seu lado. Haviam guardas caídos por todos os lados, com poças de sangue aos montes, enquanto o Trono Real, que à primeira vista pareceu tão majestoso, agora de perto não passava de uma ruína dourada. O único sinal do Rei Nathaniel que viu foi sua capa de veludo vermelha, que não era mais do que frangalhos escarlate disposta sobre os restos do trono.

O rapaz Bellator olhou para baixo e viu que suas adagas de bronze, assim como suas mãos, estavam tingidas de sangue, o mesmo sangue que inundava o piso brilhante ao seu redor, brotando do peito aberto de Caio Missus, inerte no chão, seu olhar vidrado em algum ponto distante onde ninguém poderia alcança-lo. Thiago recuou um passo, deixando suas facas favoritas caírem no chão com um tinido, olhando horrorizado para aquelas lembranças.

Agatha, de repente, parou de chorar, porém continuava olhando para baixo, para o irmão. Um sorriso então se formou em seu rosto, para logo se transformar numa gargalhada estridente, que fez Thiago se arrepiar da cabeça aos pés. A garota Missus se levantou e retirou a espada do peito do irmão, a qual estava enterrada até a metade, seu sangue tingindo a prata da lâmina com um tom de vermelho que parecia até brilhar. Agatha segurou o artefato com a mão direita e encostou a ponta afiada no lado esquerdo do rosto de Caio, desferindo um pequeno corte em sua bochecha, ao mesmo passo que sua cabeça tombava para o lado, seus olhos negros e vítreos se repousando sobre Thiago, como se realmente pudesse vê-lo. Foi então que Agatha também levantou seu olhar, passando seus dedos ensanguentados pelos olhos, deixando um rastro avermelhado em seu rosto ao secar suas lágrimas, enquanto segurava a espada com a outra mão.

De repente, os olhos de Caio, que até então estavam vidrados, se focaram em um brilho azulado, assim como os da irmã, que mergulharam inteiramente em uma tonalidade de azul claro, como o brilho do sol refletindo na frieza de um lago congelado.

—Olá, Thiago —Caio falou com um sorriso, um filete escarlate saindo do canto de sua boca, a voz rouca, ao mesmo passo que Agatha sorria de orelha a orelha, seus olhos sem pupila, igual aos do irmão, que pareciam ser apenas um buraco inundado de gelo.

O rapaz Bellator tentou correr, mas escorregou em uma das várias poças de sangue do chão, e caiu para trás, sendo arrastado para as trevas, onde haviam apenas dois pontos de luz azuis claros, os quais o faziam mergulhar cada vez mais fundo no breu infinito.

                                                                                  ***

Thiago acordou sobressaltado em sua cama, a camiseta que vestia encharcada de suor.

—Thiago? —Era Evie, que do outro lado da porta chamava por ele. —Vamos começar a nossa reunião daqui a pouco.

—Tudo bem, eu já vou. —Disse ele apressadamente enquanto se levantava da cama e ia para o banheiro, na intenção de tomar uma ducha fria.

Debaixo do chuveiro, o rapaz respirou fundo enquanto a água caia em sua nuca e descia pelas costas, mas todas as vezes que fechava os olhos, a primeira coisa que vinha em sua mente eram aqueles olhos gélidos e o cabelo ruivo de Caio esparramado no chão, misturando-se ao próprio sangue.

Olá, Thiago.

As Crônicas do Ar: Fênix da Água {LIVRO 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora