7. Através da Escuridão

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Já faziam três dias desde que haviam chegado até a Sala Secreta dos Venficus. Luan, apesar de estar se sentando o mais ereto possível para que suas costas terminassem de cicatrizar, já aparentava uma melhora significativa em seu quadro, tanto que estava presente na Sala Principal naquele momento, Sara ao seu lado rindo de alguma besteira que provavelmente o outro falara. Bia sorriu de leve ao ver o irmão daquele jeito, flertando e com quase uma mensagem escrita "eu amo essa garota" na testa. Por outro lado, se entristeceu profundamente ao se lembrar de Davi, que praticamente não havia dado as caras outra vez desde aquele dia em que conversaram sobre a família de Amélia.

— Bia, você pode ir lá chamar o Davi, por favor? —Evie pediu animadamente. —Vou atrás do Thiago e da dona Morgana.

Evie ostentava uma mecha bicolor naquele dia, com tons de amarelo dourado e rosa pink, provavelmente feliz pelo namorado estar vivo e que dentro de alguns minutos discutiriam seu plano para resgatá-lo junto com os demais Veneficus, além de traçarem também a próxima estratégia para recuperar a Pedra do Sol, última peça que faltava para finalmente libertar Caeli.

—Claro. —Respondeu a garota Electi, passando por Amélia no caminho, que vinha trazendo alguns livros nas mãos.

Ao chegar em frente ao quarto de Davi, Bia deu leves batidas na porta escura, e quando não obteve resposta alguma, uma onda de preocupação e agitação tomou conta de seu corpo.

— Davi? Está tudo bem? — A garota encostou a cabeça na madeira, na esperança de ouvir uma confirmação vinda do outro lado, porém apenas escutou seu próprio coração martelando nos ouvidos.

Bia sentiu que algo estava estranho, pois Davi se manteve distante desde o encontro com Agatha, raramente dirigindo a palavra a alguém, não saindo do quarto e recusando as refeições, mas a garota Electi havia resolvido dar espaço ao outro, achando que era isso o que precisava, além de Morgana o tê-lo pedido. No entanto, percebeu que estava totalmente errada quando finalmente abriu a porta e encontrou Davi encolhido no chão, com a cabeça entre as pernas, soluçando baixinho.

—Davi! — Bia correu para ele imediatamente, se jogando no chão ao seu lado, pegando seu rosto entre as mãos, o outro encolhendo–se ao toque — O que está acontecendo?!?

Quando o rapaz levantou a cabeça para olha-la, seus olhos estavam injetados e fundos, lágrimas recentes ainda escorrendo por sua bochecha.

— Vá embora, Bia, por favor — clamou com a voz trêmula, os ombros caídos, enquanto se afastava da garota, passando as mãos pelos olhos—Não quero que você me veja assim.

A garota Electi sentiu seu coração se apertar, como se uma corda cheia de arames o estivesse comprimindo ao ver as pontas dos dedos do outro ensanguentadas e quase sem unhas.

—Não sei quando você estará pronto para me contar o que está acontecendo — Bia se posicionou ao lado de Davi, recostando–se na parede branca –Mas eu não vou te deixar, não importa como você esteja.

Depois de alguns minutos de um silêncio excruciante, Davi suspirou, derrotado, e se direcionou até sua cama, acenando fracamente para que Bia o seguisse, o olhar baixo, como se não tivesse forças para encontrar os olhos da outra. Sem hesitar, a garota o fez, sentando–se no colchão fofo ao seu lado.

O rapaz respirou fundo e ergueu a palma de sua mão, o Anel Camiano do outro molhado pelas lágrimas no dedo médio. Bia imediatamente entendeu o que ele estava sugerindo e encostou sua mão na dele, sendo transportada para outro lugar, assim como acontecera anteriormente.

O anel de Davi levou a mente de Bia para um lugar parecido com uma sala de aula, onde haviam vários pré-adolescentes conversando e outros rabiscando algo em seus cadernos. A garota Electi caminhou por entre as carteiras, ciente de que estava alheia a tudo, procurando por algo em específico, ou melhor, alguém. Foi então que, no meio da sala, na fileira do meio, um menino de aproximadamente 12 anos de cabelos castanhos rebeldes chamou a sua atenção. Ao se aproximar, Bia notou que aquele garoto era o mesmo garoto a quem seu coração acelerava toda vez que a olhava. Davi estava um pouco diferente, com feições mais infantis e suaves, como se a puberdade ainda não tivesse dado as caras, porém aquele olhar penetrante e bondoso já fazia parte de suas características.

As Crônicas do Ar: Fênix da Água {LIVRO 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora