O poder de escolha

• 5° Pequena Bruxa •

"Por que fugir do perigo quando você simplesmente...se aproximar?"

Passos apressados ressoavam pelo castelo enquanto eu praticamente corria para chegar ao meu destino. Meu coração pulsava tão forte quanto meus passos batiam no chão. Aterrorizada, eu tentava focar meus pensamentos em alguma desculpa, qualquer que fosse. Para onde poderia ter ido? O que fizera no momento em que estive longe? Absolutamente nada me vinha à cabeça. Céus, eu parecia uma criança novamente, em um daqueles momentos em que minha mãe me chamava para me repreender.

Ravna não era conhecida no Krystallo por ser uma mulher pacífica. Pelo contrário. Eu sabia que existia toda uma trama sobre o seu passado, mas não fazia ideia do que se tratava, diziam as más línguas, que ela tomara o reino sorrateiramente de Adam, e que o controlava agora; outros diziam que ela chantageava ele, outros ainda falam que ela deu o golpe da barriga. Independentemente de onde surgiu, ela conquistara certa fama, e ela se alastrava pelo Krystallo.

Ao chegar à sala das espadas, a rainha observava uma adaga em particular. Ela tinha o cabo preto e ia fundindo-se a prata em sua lâmina, sua guarda era igualmente preta, encrustada de rubis. Ela não tinha proteção alguma, diferente de todas as outras as armas do arsenal. A rainha virou-se para mim com seus olhos afiados me encarando, seus cabelos negros formaram uma cortina em meu campo de visão para a adaga. Ela sorriu de lado enquanto dava um passo à frente.

— Artana querida, boa noite. O que está achando da estadia? – não sei se ela se esforçava para demonstrar algum afeto ou cuidado, mas evidentemente não estava funcionando. Sua expressão só demonstrava atenção e, talvez, um pouco de diversão.

— Está tudo conforme o esperado, majestade. – tentei não gaguejar.

— Que ótimo. Já conheceu muitas pessoas? – ela voltou sua atenção para a adaga.

— Ainda não, na verdade, passei muito pouco tempo aqui.

— Ah sim, mas pouco tempo me parece tempo o bastante para acontecerem tantas confusões – ela sorriu e olhou sorrateiramente para mim – não concorda?

— Sim, concordo, claro – falei rápido demais. Que coisa patética.

— Gosta de armas, Artana?

— Gosto sim, majestade.

— Eu também. Essa em especial tem uma lenda muito interessante por trás de sua beleza – dirigi meus olhos para a adaga – ela para mim é a mais bela do arsenal – voltei meus olhos para Ravna, ela falava calma, calma até demais – dizem que no passado, havia muitas bruxas pelo nosso reino, e o fato é que, ninguém costuma perdoar rápido por aqui, então os próprios cidadãos prendiam as mulheres e as traziam a corte, e sob alegação de bruxaria, as matavam com essa mesma adaga. Dizem que foram muitas mortes, dá para acreditar? Alguns falam que elas podiam ser mortas apenas por serem ruivas, por terem um sinal na pele, ou alguma característica... – seus olhos cravaram nos meus - diferente. – ela quase sorriu –. Imagine o que eles fariam com você por causa dos seus olhos – minha garganta começou a fechar – reza a lenda, que quem toca nessa adaga – ela pegou a arma na mão com muito cuidado – ou é bruxa, ou morrerá pelas mãos de uma – ela olhava cuidadosamente para o metal em sua mão, analisando-a – bem, as pessoas não costumam mesmo esquecer as coisas não é? – ela sorriu, um sorriso misterioso demais para confiar – O fato Artana – ela falou olhando nos meus olhos novamente – é que suas verdades não importam aqui, a justiça é feita de acordo com o que você transparece. – Ravna ficou muito séria, e começou a se aproximar de mim – Então se quer um conselho, serei direta. Cuidado com os olhos que você contempla – ela aproximou a adaga do meu pescoço, fazendo com que eu soltasse um patético e aterrorizado som esganiçado – ou as lendas podem se tornar reais, seus olhos permaneceram colados aos meus por alguns segundos, até que subitamente ela se afastou e colocou novamente a adaga no lugar, e quando virou para mim, ela sorria quase gentil.