O acampamento foi desfeito com tal precisão que eu não consegui disfarçar minha surpresa. Em um momento, estava na cabana em uma discussão calorosa — e infantil — com Caym quando um soldado sutilmente pediu licença para empacotar nossas coisas, ou melhor, as coisas do gêmeo mais novo. Sai para o sol da manhã e encontrei o acampamento sendo habilidosamente encaixotado, homens que eu não tive a oportunidade de conhecer apropriadamente lotavam carroças com os suprimentos e bagagens trazidas para a viagem e limpavam toda a área com grande velocidade.
A sincronicidade dos seus movimentos me fez olhar para Caym que deixou de lado as provocações para se concentrar em dar comandos como o general que era. Vê-lo disparando ordens me trouxe a memória do dia da minha morte, quando ele decretou que todos afiliados com a família Dusan seriam mortos pelos pecados dos líderes. Eu, na posição de esposa fui a primeira a ser ajoelhada perante ele, sob seu olhar insano e cruel, dominado pelo ódio.
— Está vendo o futuro de novo? — Luscyus perguntou.
— Sim...? Não! — respondi, confusa com sua súbita aproximação.
Descolei meus olhos das costas de Caym, eu ainda não tinha motivos para ter medo. Ele ainda não era o homem do meu futuro, e mesmo se fosse não iria me ajoelhar novamente.
— Estava com a mesma expressão de quando me contou sobre meu futuro. — Ele não teve receio de falar isso na frente de Hanniel, então conclui que ele é uma pessoa de confiança.
— A... eu estava pensando no meu, para ser sincera — Luscyus assentiu percebendo minha esquiva no assunto.
Luscyus é um homem bom, gostaria de não precisar mentir para ele.
— Bom, como sabe nós iremos descer até a fronteira — concordei. — Pretendo deixar você em segurança em um dos templos da cidade dos Santos enquanto seguimos o percurso para além do templo da Luz. Está de acordo?
— Sim! — respondi de imediato, soando mais aliviada do que gostaria.
Luscyus pareceu considerar minha reação como alívio por não ter que participar do cenário da batalha, mas minhas preocupações iam além do confronto sangrento. Eles podiam não considerar Valodimir como um inimigo para se preocupar, mas eu sei bem quem ele é, e o que sua presença significa para mim.
— Fico feliz que concordemos — ele sorriu e eu pude notar uma argola de prata acima do seu dente, com tantos outros brincos que enfeitavam seu rosto. — Logo iremos nos agrupar para seguir adiante, descanse o quanto puder será uma longa caminhada.
Ele saiu deixando-me acompanhada do silencioso Hanniel que me escoltou enquanto eu organizava meus poucos pertences. Juntei meu vestido de noiva em um bolo e joguei a peça na fogueira onde o lixo estava sendo queimado, depois usei o pequeno espelho de Caym para trançar meu cabelo rente a minha cabeça, para que nenhum fio teimoso escapasse durante o trajeto.
Quando todos estavam agrupados para a partida, assisti quando Caym se aproximou montado em um lindo cavalo de pelagem marrom e crina preta, ele segurava pelas rédeas emparelhado com o seu cavalo a montaria que roubei do estábulo do duque antes de fugir, agora sem o brasão de Alencar no peito. Ele parou em minha frente e eu prontamente montei no animal, logo estendendo a mão para pegar as rédeas, mas ele desviou a corda do meu alcance.
— O que foi? — perguntei impaciente.
— Para o caso de você querer fazer alguma gracinha — ele balançou as cordas em meu rosto especificando que seria ele quem guiaria meu cavalo.
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Eu Não Vou Sobreviver (Livro 2)
FantasyÂmbar de Sluderfry, filha de um duque do Reino de Alencar estava destinada a um casamento infeliz com um general abusivo e imersa em uma guerra que durou longos cinco anos entre seu reino e o reino de Bellant. Tendo Alencar saído como perdedor, ela...