TRÊS

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     — Alencar atacará seu grupo daqui a exatos três dias

     Ambos os irmãos tinham seus olhos sobre mim. Um par azul cristalino de olhos sábios e cuidadosos, estudaram minuciosamente minhas ações. Outro, uma noite sem luz, me encarando com intensa suspeita e desdém.

     O sorriso zombeteiro de Caym deixava claro que minha previsão não foi material o suficiente para fazê-lo acreditar, ao contrário.

     — Essa revelação não faz de você uma feiticeira branca, mas sim uma traidora — disse desdenhoso.

     Ignorei Caym e continuei minha explicação para Luscyus, minha única esperança.

     — Na madrugada do terceiro dia da caravana da Luz, próximo ao nascer do sol quando vocês estiverem se preparando para as oferendas do Deus Orly prostrados indefesos, desarmados e desatentos, Alencar marchará sob o comando do general Valodimir de Dusan, massacrando a todos.

     Lembro-me com clareza do evento que marcou o início do meu fim e do reino de Alencar. O rei, juntamente com os comandantes do seu poderoso exército prepararam a armadilha ideal para os príncipes de Bellant, juntamente com um espião cuidadosamente infiltrado, conseguiu a informação sobre a caminhada da Luz, o dia no qual os gêmeos e seus soldados estariam mais vulneráveis.

     — Isso iria acontecer se você, como a espiã que é, conseguisse passar as informações para Alencar — debochou Caym enquanto seu irmão mantinha os olhos fixos em mim.

     — Você nasceu idiota assim mesmo ou fez aula? — rebati irritada com seus comentários. — Eu estou dizendo o que eu vi!

     Caym estava com os braços cruzados em frente ao peito largo e tatuado, reparei que ele ainda não havia colocado nenhuma blusa e destilava a sua descrença a peito nu. Porém, antes que ele pudesse continuar, Luscyus tomou a frente.

     — A informação que você passou é de muita valia — Caym olhou para ele incrédulo, mas não interrompeu o irmão — Mas é insuficiente para provar que é uma feiticeira branca, precisa nos dizer algo que é impossível que outra pessoa sem os seus dons saiba.

      Encarei Luscyus em silêncio por alguns momentos. De fato, ele era tão bonito quanto o irmão, mas apesar de terem compartilhado o nascimento a beleza deles destoavam, pois enquanto Caym tinham uma beleza bruta e arrebatadora aos olhos, a de Luscyus era deleitável com traços mais esguios e refinados, com o cabelo raspado nas laterais com a parte superior estando amarrada, descendo em grandes ondas volumosas até o meio das costas. Nem mesmo os grosseiros brincos de aço espalhados em grande quantidade pelas orelhas, rosto e supercílio atrapalhavam a sua beleza serena.

     Fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes enquanto organizava as informações que memorizei durante todos esses anos. Quando voltei a abri-los, os irmãos ficaram rígidos.

     — Você irá morrer durante a emboscada, pelas mãos do próprio general Valodimir — encarei firmemente os seus olhos tão azuis.

     — Isso é uma ameaça? — rosnou Caym me olhando ameaçadoramente.

     — Isso é o que vocês pediram — retruquei — , uma informação sobre o futuro.

     — Irmão, você não pode acreditar no que a cenoura está falando. Está na cara que ela não é uma feiticeira branca, apenas uma mentirosa descarada.

     — Uma cenoura é mais eficiente do que você carrega no meio das pernas — uma veia pulsou na testa de Caym, mas logo um sorriso maldoso se apossou dos seus lábios.

Eu Não Vou Sobreviver (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora