PRÓLOGO

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Querido diário,

Hoje é o pior dia de toda minha vida!

Valentim vai embora e levará consigo uma parte de meu coração. Olho pela janela alta do quarto e fico pensando no que farei amanhã quando acordar. O que vai ser de mim sem ele por perto? Como vou seguir sem tê-lo segurando minha mão?

A vida não parece ter graça sem ele e tão pouco viver sem sua presença... Eu o amo, como escrevo aqui todos os dias, mas esse segredo vai ter que morrer em minha garganta, tragado por meu estômago e amassado no passado. Para ele sou apenas uma menininha.

Não significo nada!

Valentim não hesitou em ir embora sem olhar para trás. Sem ter em mente que me deixaria... Eu implorei para que ficasse, mas simplesmente vai me deixar.

E o odeio por isso!

Ass. Analuz Louise Vilanova Carrera.

— Ana... — Ergui os olhos do diário vagarosamente, dando de cara com os olhos cor de café de Valentim. Instantaneamente minhas mãos fecharam o diário em meu colo, empurrando-o para o chão abaixo da balança no qual eu estava sentada — Não vai mesmo se despedir?

Talvez fosse a última vez na vida em que eu o visse. Baixei o olhar novamente, apertando as mãos na corda do balanço sob a árvore. O nosso lugar favorito do mundo... Nosso esconderijo secreto.

— Eu já disse tudo que tinha para dizer, Valentim — Sussurrei ignorando seu olhar, tentando disfarçar a maneira como estava admirando-o naquela calça jeans escura e camisa preta colada ao peito forte. Sua pele morena reluzia sob o sol fraco do fim de tarde e os cabelos negros caiam ao lado do rosto. Ele era lindo... Meu príncipe, mesmo que não soubesse!

Valentim se ajoelhou a minha frente, segurando delicadamente em minhas pernas. Suas mãos grandes sempre me tocavam com carinho e uma ternura quase palpável exalava de seu olhar. Meu corpo se incendiava com um simples toque...

— Prometo que vou voltar, Loirinha — Revirei os olhos diante do apelido que sempre usava para se referir a mim. "Loirinha". Era o que eu era, afinal! Apenas uma criança para ele. Ainda ignorava seu olhar, por isso suas mãos carinhosas me fizeram encará-lo com um toque em meu queixo — Prometo que não vou esquecê-la.

— Claro que vai! — Esbravejei diante de seu rosto, já nervosa pela maneira como falava — Quando uma garota roubar sua atenção você vai esquecer completamente de mim!

— Nenhuma garota no mundo terá mais minha atenção do que você, Analuz — Segurou meu rosto com as duas mãos, olhando-me firmemente. Havia verdade em seus olhos castanhos, por isso me calei. Segurava minhas lágrimas o máximo que podia, mas era como se a figura linda de meu "meio irmão" se esvaísse cada vez que nos encarávamos. Como se virasse uma sombra — Você é minha menina, minha irmãzinha...

Seu dedo secou a lágrima que rolou em minha bochecha com carinho e se aproximou para beijar minha testa demoradamente, segurando-me contra seu peito.

Permiti-me chorar. Não somente chorar, mas abraça-lo com todas minhas forças e deitar, talvez pela última vez, meu rosto em seus ombros firmes e largos... Aqueles braços que eu tanto gostava... Aquele calor que me preenchia por completo.

— Você não é meu irmão! — Relembrei entre as lágrimas, mas me afastei quase brutalmente, ainda com a face molhada e marcada pela dor — E talvez seja mesmo melhor que vá embora de uma vez!

Diário de Um Pecado: A "irmãzinha" do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora