Capítulo Um

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Quatro anos depois...

VALENTIM

Diante de tudo o que fiz em nome de minha sanidade mental e do bem-estar de minha família, no melhor dos casos, fui simplesmente um idiota.

Cuidadoso, alguns poderiam arriscar, mas me afundei em uma vida de mentiras para tentar tapar o buraco que a ausência dela deixou em meu coração depois que fui obrigado por minha própria consciência a ir embora.

No fundo de meu coração sei que por isso Analuz jamais irá me perdoar. Tê-la deixado foi a maior das traições e sim... Era isso que eu queria! Que ela me odiasse! Talvez fosse a única maneira de jamais voltar a pensar nela.

- No que está pensando amor? - Desvio a atenção da pintura de uma galáxia pendurada no quarto para o rosto belo de Michele, deitada nua ao meu lado. Sua mão desliza em meu peito, mas realmente não sinto nada - Você parece tão fora da realidade...

- Realmente estou bem longe - Comento sem encará-la, sentindo agora sua mão se movendo entre os pelos de meu peito.

- Você sempre fica assim depois que fazemos amor, querido... Algo te incomoda? - Desvio a atenção rapidamente para o olhar curioso de minha namorada, uma morena escultural de longos cabelos escuros e olhos amendoados.

Michele é o ideal para todo homem que busca alguém para afogar as mágoas. Uma aposentada modelo das mais caras marcas da moda e com o corpo moldado por academias e procedimentos estéticos variados. Pouco cérebro, muita sensualidade. Poucas perguntas e muito a oferecer na cama. Aos vinte e oito anos era comentarista de moda em programas de auditório e famosa por posar nas mais variadas revistas em circulação.

No fundo sei que está interessada em minha fortuna, mas prefiro fingir que acredito em sua história de amor. Meu padrasto e o advogado de minha falecida mãe eram as pessoas mais próximas em minha vida e ambos me orientaram a me casar... Ao menos foi isso que mamãe estipulou em seu testamento antes de morrer e me deixar toda sua fortuna e os bens que um dia foram de seus pais, meus avós.

Antes dos trinta deveria me casar, se queria realmente ficar a frente das empresas que assumi e herdei aos vinte e cinco.

Os vinte e oito anos também batiam em minha porta e era hora de começar a pensar em tudo. Michele foi o mais sensato, visando que era a mais comportada entre todas as outras que apareceram. Ainda era cedo para pensar em casamento, mas não havia escapatória.

Petrônio - meu padrasto - tratava de seguir a risca tudo o que sua falecida esposa estipulou para mim no testamento. Até minha maior idade foi ele quem administrou minha herança e sempre foi muito correto em relação a tudo. Sei, como homem, que jamais amou Aretha - sua atual esposa e mãe de sua filha - como um dia amou minha mãe, a quem perdeu precocemente para o câncer.

- Falou com seu padrasto, querido? - Michele comentou um tempo depois, mexendo em seu celular ainda nua na cama. Segui lá, encarando a pintura de galáxia - Como anda a saúde de sua madrasta?

- Nada bem... Aretha está fazendo hemodiálise frequentemente, um de seus rins foi completamente tomado pelo câncer e o outro está enfraquecendo... E ela é minha mãe, Michele. Ao menos é a única mãe que realmente conheci e Aretha não tolera que eu a trate de outra maneira - Michele baixou o celular do rosto e me encarou com os olhos castanhos curiosos - Terei de passar uma temporada com eles. Petrônio teme que ela não consiga resistir por muito tempo e, claro, ela quer me ver. Quer que estejamos todos juntos neste momento doloroso.

Senti Michele segurar minha mão com delicadeza.

- Querido, eu entendo... Mas não poderei deixar Madrid agora. Preciso terminar a temporada do programa, você sabe! - Concordei com um sorriso fraco diante de seu desespero. O programa de televisão era a vida dela.

Diário de Um Pecado: A "irmãzinha" do CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora