VALENTIM
Era como de fato ver a luz.A palpitação em meu peito era ainda maior do que eu me lembrava quando pousei novamente os olhos sobre ela.
Não era mais a criança doce que eu amava ternamente quando garoto, muito menos a adolescente que desabrochava diante de meus olhos quando me peguei apaixonado por ela e tive de ir embora... Analuz agora era uma mulher! Ao menos fisicamente.
Seu cabelo ondulado e loiro descia até os ombros. O rosto ainda trazia traços delicados, mas muito mais marcantes e definidos. Seus olhos azuis eram exatamente os mesmos pelos quais me apaixonei... Lindos, profundos e indecifráveis. Mesmo que em sonhos, eu ainda era capaz de me perder completamente neles.
Usava um uniforme de colégio e parecia ainda mais nova do que realmente era. Recordei-me de Petrônio ter citado que ela perdeu um ano na escola quando fui embora... Adoeceu e não pode frequentar as aulas por um bom tempo, por isso ainda cursava o último ano prestes há completar dezoito anos.
Analuz Louise Vilanova Carrera.
Encará-la novamente era como despertar de um grande vazio. Um vale sem cores.
O azul de seus olhos tinha o poder renovador de me trazer de volta à vida.
— Analuz! Seu irmão voltou! — Aretha foi até a filha, que ainda seguia estática no mesmo lugar em que parou ao chegar, e apoiou as mãos no ombro dela — Não vai sequer abraça-lo?
Analuz encarou a mãe, desviando, finalmente, o olhar do meu. Seu olhar era de pânico. Desespero. Descrença, talvez. Arrisquei dar um passo em direção a ela, mas rapidamente recuou dois.
— Com licença! — Foi tudo o que disse antes de correr para as grandes escadas e subi-las de maneira desesperada. Todos na mesa me encararam quando baixei o olhar e comprimi os lábios.
— Me desculpe, querido! — Aretha veio ao meu lado, beijando-me no rosto — Sua irmã está muito sensível ultimamente, certamente ficou em choque ao revê-lo...
— Essa menina sempre dando seus chiliques — Alessa comentou despertando minha atenção, sentada à mesa ao lado dos filhos — Quando você foi viajar aconteceu à mesma coisa, Valentim! Passou meses fazendo birra!
— Ela ficou doente, mãe, até o ano da escola ela perdeu! — Violeta, a jovem prima que tinha pouco mais idade que Analuz, comentou baixinho ao lado. Ao contrário de Ana, era morena de cabelos escuros e longos — Não foi um chilique.
— Aretha, minha irmã... Você precisa parar de mimar essa menina! Todos sempre fazem suas vontades!
— Um minuto! — Chamei a atenção de Alessa, que me encarou surpresa — Analuz é prioridade para nossa família. É nossa caçula e seguiremos oferecendo a ela todos os mimos que, como boa menina que é, merece! — Aretha separou os lábios ao meu lado, mas não disse nada. Alessa parecia envergonhada — Agora, se me derem licença, vou subir para falar com ela.
— É claro, meu filho! — Aretha beijou meu rosto novamente — É claro!
— Mais um para dar tudo o que a bonequinha quer... — Ouvi Philip comentando com a mãe antes de sair da mesa. Apenas lancei um olhar contrariado, deixando claro que qualquer um que se indispusesse com Analuz teria problemas comigo.
Parei diante da porta do quarto dela, que ainda era o mesmo de quando parti.
Bati duas vezes, mas não houve resposta. Tentei abrir a porta e a mesma estava apenas encostada. Entrei sem perguntar.
O quarto ainda era como o de uma menina. Prateleiras com algumas bonecas, livros e perfumes. Penteadeira de espelho com luzes nas extremidades, muita maquiagem e fotos dela com as amigas. Uma grande foto de Analuz aos cinco anos era exibida em um quadro grande e decorado, abaixo dela, mais fotografias. Entre todas, uma de nós dois.
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Diário de Um Pecado: A "irmãzinha" do CEO
RomansaValentim Vilanova, após a morte precoce da mãe, foi adotado pelo padrasto aos dois anos. Dando continuidade ao império que herdou da matriarca, tornou-se um famoso CEO do ramo têxtil e vive cercado de atenções em uma vida minunciosamente planejada n...