A moça das tulipas.

Ligação.

2007

Recife, bairro da Boa Vista.

Após a morte dos pais, Mirian Gromiko decidiu vender a casa, ela estava no sótão com sua saia creme coberta de poeira, empacotando diversas coisas para a mudança, quando esbarrou em uma lata de biscoitos com uma etiqueta em fita crepe, Anna Zimmerman foi o que ela leu.

Nessa mesma hora seus olhos se encheram de lágrimas, ela se lembrou da amiga que tanto amou, a filha dos Gromiko desistiu de prosseguir com a faxina.

Mirian pegou a lista telefônica, se perguntava sobre quantos Pedro Augusto Barbosa haveria em Recife? Ela anotou os números com cuidado e fez as ligações para os selecionados.

- Olá, sou Mirian Gromiko, você é Pedro Augusto Barbosa?

- Sim senhora Gromiko, do que se trata? Vou entrar na sala de cirurgia.

- Você é médico?

- Sim, sou oftalmologista.

- Desculpe, foi um engano.

Ela ligou para o segundo número.

- Oi, eu sou Mirian Gromiko, você é Pedro Augusto Barbosa?

- Sim, mas é sobre o quê?

- É sobre Anna.

- Anna? Não conheço nenhuma Anna.

- Você é geógrafo?

- Não senhora, sou contador.

- Mil perdões, foi engano.

Ela ligou para o terceiro e último número.

- Você ligou para Pedro Augusto, deixe sua mensagem.

A voz era inconfundível, ela o havia achado.

- Oi Pedro, sou Mirian, me ligue no meu celular que é 9719-4553.

Escola Dom Bosco- Casa amarela.

Eram 12:00 horas, o sinal tocou para a alegria dos alunos, Pedro Augusto recolheu o material com muita calma, guardou em seu armário, pegou a mochila e entregou as cadernetas para Dona Irani na secretaria.

Ele voltou para casa caminhando, gostava dos cheiros da rua Conselheiro Peretti, sabia que época do ano era pelo cheiro e pelos tapetes de flores de Jambo que ele achava particularmente bonitos.

Morava no segundo andar com seus 50 degraus de cada dia, hoje não iria comprar pão, não estava muito disposta a subir novamente as escadas.

Jogou a mochila no sofá, pegou suas coisas e foi tomar banho, quando a água tocou sua pele lhe trouxe uma sensação de alívio, comeu um prato de arrumadinho com suco de uva.

Escutou as mensagens da secretária eletrônica; a primeira era de sua mãe dizendo que estava com saudades e que ele poderia aproveitar o feriado de 12 de outubro para vê-la; infelizmente não poderia, pois estaria corrigindo as atividades dos alunos; a segunda era de um dos amigos o chamando para sair, porém ele iria pensar; a última mensagem fez Pedro quase vomitar o almoço, o que Mirian Gromiko queria depois de tanto tempo?

Rio de Janeiro, Copacabana, 1989.

Anna desceu do ônibus com cuidado, ela tinha 20 anos, cabelos negros compridos, usava um suéter azul com um casaco branco e uma saia de pregas azul marinho.

Ela observava a vida fora de sua "bolha" como ela chamava a sua comunidade secretamente, naquela tarde Anna viu as pessoas na praia e pareciam felizes, tinha de chegar para buscar a irmã na aula de pintura.

Amat era viva como uma bela ave, pintava flores e naturezas mortas, estava com uma casaco rosa pálido, um suéter da mesma cor e uma saia de pregas cinza.

- Você nunca teve curiosidade de saber como eles vivem? Pergunta ela observando a praia.

- Não Anna, tem vários na aula de pintura, eles são tediosos, vá por mim.

- Papai disse que tem uma notícia importante.

- Moses Goodman não parava de olhar pra mim...

- Amat, aquela família é péssima, sua futura sogra quero nem comentar.

- Você é pessimista demais, cara irmã.

No jantar as duas irmãs estavam com seus melhores vestidos, a mãe comia em silêncio, até que o pai rompeu o silêncio.

- Vai me custar muito ficar sem uma de minhas joias, eu aceitei a proposta de Davi Scheifer de Recife.

- Quem vai pra Recife? Pergunta Amat preocupada.

- Minha jóia mais valiosa: Anna.

- Anna você vai casar, meus parabéns! Diz Amat.

Ela estava assustada.

Recife, Universidade Católica de Pernambuco.

Ciro comia uma macaxeira gratinada com uma guaraná, quando Pedro veio e se sentou à sua frente.

- Estou tão animado pras eleições que regularizei o meu título. Diz Pedro.

- Só você tá, conhecendo esse país... desce dessa nuvem Pedro Augusto.

- Temos a chance de realmente mudar alguma coisa.

- Meu caro amigo idealista, você realmente acha que as coisas boas acontecem por aqui?

Pedro sorri.

- Estais precisando ir naquele forró lá do mercado da Boa Vista.

- Eita fale não, tô atolado de coisas pra fazer, não tenho nem tempo pra pensar em dar cheiro no cangote das meninas.

- Bora marcar um dia.

- Ouxi, deixe as provas passarem.

- Gostei de ver.

Pedro sorri mais uma vez.