Maçã, banana e canela.

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2007, Madalena.

O táxi parou em frente à casa de muro branco e portões verde escuro; Mirian pagou ao taxista com gentileza e desceu do veículo, apertou mais de uma vez a campainha e quem a recebeu foi Chaya, filha mais velha de Amat e Moses Goodman que levavam uma vida tranquila em Recife.

- Você poderia dizer à sua mãe que Mirian Gromiko está aqui, por favor?

- Sim senhora, entre e espere na sala.

- Obrigada.

Quando Amat viu Mirian, seus olhos encheram de lágrimas, era como uma lembrança daquele passado, de Anna... de todas as coisas que não se resolveram.

- Boa tarde, Amat.

- Boa tarde.

- A minha visita vai ser breve, eu achei a caixinha de coisas da Anna no meu sótão...

- Não me mostre, por favor. Pede ela.

- Mas não é você que deve ficar com a caixa.

- Então quem?

- Ele, Pedro Augusto.

Amat ficou sem resposta.

- Eu liguei para ele e estou esperando uma resposta, se Pedro concordar podemos processar o Davi e fazer justiça pra Anna.

- Um judeu não entrega outro e você sabe disso e além do mais a Anna se desviou dos nossos costumes. Diz Amat começando a chorar.

- Mas Amat...

- Se retire, por favor.

Amat chorou copiosamente e gritou assustando as crianças, aquele passado doía dentro dela, porém devia se manter firme no respeito aos costumes e tradições.

Avenida Rui Barbosa.

Pedro Augusto comia os biscoitos de banana, maçã e canela á caminho de uma consulta médica, era coisa de rotina, chegando ao consultório, lia um romance enquanto esperava ser chamado, não percebendo a mulher que entrou no recinto, vestida de preto e com uma peruca feita de cabelos humanos; Sara Scheifer iria entregar um exame a um dos médicos que atendiam naquele lugar.

Sara passou por ele sem olhá-lo, ela era impassível, quase uma fortaleza e foi essa mulher que atormentou Anna por quase um ano, fora também ela que instigou aquele dia na rodoviária de Gravatá, do qual jamais se esqueceria.

1989, Aeroporto do Galeão- Rio de Janeiro.

Anna chorava muito abraçada aos pais, de vestido azul com gola branca, laço azul céu nos cabelos negros, ela pegoua mala e abraçou Amat.

- Os Gromiko estão lhe esperando, eles tem uma filha da sua idade: Mirian, quando o casamento estiver marcado nós iremos.

Ela assentiu com a cabeça.

Anna entrou no setor de embarque chorando, a família ficou pra trás e não sabia o que esperar do futuro?

Aeroporto do Recife.

Os Gromiko aguardavam no desembarque, sabiam como ela era pelas fotos enviadas, a casamenteira dizia que Anna era muito prendada, eis que ela surgiu carregando a mala e com os olhos vermelhos de tanto chorar.

- Vocês são os Gromiko? Pergunta assustada.

- Sim, meu bem, sou Saul Gromiko e esta é minha esposa Naomi, nossa filha Mirian. Diz o homem.

- Sou Anna Zimmerman.

- Vamos, considere-nos como sua família. Diz a senhora Gromiko.

- Quando vou conhecer o meu noivo?

- Depois de amanhã. Responde Saul.

Boa vista, noite de sexta-feira.

Pedro Augusto exalava o cheiro de Charisma, bem vestido com sua camisa branca bem passada, calça preta de alfaiataria e um mocassim nos pés.

O forró estava bem agitado e ele não desprezava a companhia de uma bela morena, dou outro lado da rua viviam os Gromiko, cuja filha Mirian adorava espiar o forró e rir daquele estilo de vida, ela era uma moça muito alegre; Anna perdeu o sono e viu a companheira de quarto olhando por entre as frestas da persiana.

- O que você tá olhando?

- O forró, Anna.

- E pode?

- Vai ser o nosso segredo enquanto você estiver aqui. Diz ela segurando a mão da colega.

- Você também tem curiosidade sobre eles? Pergunta Anna apontando pelas frestas da persiana.

- Sim! Afirma Mirian

Tarde de domingo.

A hora do chá entre as famílias corria conforme os costumes, Davi Scheifer olhava a futura noiva timidamente, Anna sentia que o coração iria sair pela boca, junto a ela estava Mirian que achava aquilo tedioso.

O casal foi deixado sozinho na varanda da sala, Anna estava vermelha, Davi olhava a paisagem, eles se olharam, mas não havia paixão.

- A minha mãe disse que você era uma moça prendada e que respeitava os nossos costumes, que seria uma boa mãe e esposa.

- Eu prometo fazer o meu melhor.

- Quando mamãe me mostrou teu retrato, te achei muito bonita.

Anna tocou na mão de Davi, ela achava que havia encontrado o amor de sua vida.

A moça das tulipas.Onde histórias criam vida. Descubra agora