Paixão

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Rua da moeda, 2007.

         Pedro deu um gole na cerveja sem álcool, pois não podia beber por conta da medicação; Ciro acompanhava o amigo, eles tinham pedido uma porção de calabresa.

-Mainha está lá em casa, pense na bronca.

-Mas ela avisou que vinha?

- Ciro, eu ignorei completamente o aviso dela, achei que era o de sempre; mainha briga comigo, depois fica com remorso, vai na igreja se confessar e o padre diz pra ela voltar a falar comigo.

Ciro ri.

-É sério.

- Dia 08 de dezembro ela vai embora.

Dias depois, quarta-feira.

        Pedro Augusto fazia natação no naútico, todas quartas-feiras, nada profissional, apenas seguia a orientação médica de se exercitar, além de estar em contato com pessoas.

         Leopoldina aproveitou a saída do filho para mexer na famosa lata de biscoitos, ela pegou o objeto que estava na mesinha ao lado da cama do filho, foi até a sala e sentou-se na mesa.

            Ao abrir a lata de biscoitos, ela descobre: uma foto da família Zimmerman no pão de açúcar, presilhas de cabelo, um cartão pintado por Amat e uma passagem aérea Rio- Recife.

          Leopoldina notou que o fundo da lata era feito de madeira, ela colocou todas as coisas em cima da mesa e retirou o fundo falso, dentro dele havia um papel que ela abriu, era carta em Iídiche, ela pôs tudo de volta no lugar.

Biblioteca Pública de Amsterdã.

         Davi Scheifer não devia estar ali, pois era uma biblioteca de livros seculares, portanto era pecado conforme a sua religião; Teresa como quase todos os dias, organizou os livros e os recolocava em suas prateleiras , ela conduzia o carrinho com calma.

          Em uma dessas vezes ela afastou o cabelo, deixando a sua cicatriz visível pela transparência da blusa, ela desceu até o andar de baixo onde estava Davi, quando os olhares se cruzaram, ela não pôde ocultar o susto e ele a surpresa.

-Anna Zimmerman! Diz ele surpreso.

        O impulso de Teresa, ou melhor de Anna foi de sair correndo da biblioteca, ele a seguiu e ambos corriam pelas ruas da cidade, ela o despistou entrando em uma estação do metrô e como havia deixado as coisas na biblioteca, pulou a catraca.

          No trem tocava uma música que a fazia lembrar de Pedro, ele que havia sido seu único amor, ela que sentia por uma ele uma paixão imensa nunca o esqueceu.

Serra das Russas, Gravatá, 1993.

          Pedro e Anna haviam tido a ideia de fazer um picnic juntos, ele escolheu um lugar lindíssimo na Serra das Russas, os dois estavam no auge da paixão, ela estava com um vestido leve e um lenço nos cabelos.

          Anna tirou o lenço da cabeça revelando os cabelos que estavam curtos em estilo pixie, ela deixou o tecido voar na presença de Pedro que sorria ao ver aquela cena.

-São seus cabelos? Pergunta ele curioso.

- Eram, isso é o que sobrou deles.

- Você está incrivelmente linda assim.

Ela sorri.

-Trouxe uma surpresa.

- O que é?

- É um som toca fitas.

         Ele dá play na música e os dois dançam juntos, se beijam ao fim da melodia, as carícias ficam mais ardentes e os dois se amam naquele lugar, tendo a natureza como testemunha.

-Vou procurar Davi Scheifer pra assinar o divorcio. Confessa ela.

-Eu quero ficar pra sempre com você, Anna.

-Eu também, mas eu tenho medo, Pedro.

-Fujamos então. Sugere ele.

-Pra onde?

-São Paulo ou Rio, onde ninguém possa nos achar.

-Do Rio a gente pode sair do país.

-O ônibus pro Rio sai na quinta-feira, compramos as passagens e vamos.

-E Dona Leopoldina?

-Mainha vai entender.

-Fujamos então. Diz ela olhando fixamente pra ele.

Casa amarela, 20 de dezembro de 2007.

         Pedro Augusto terminou as últimas cadernetas, tomou um banho e comeu uma pizza de queijo, viu um filme na TV e depois foi no quarto buscar a lata de biscoitos.

        Abrindo a lata viu a foto da família Zimmerman no Pão de açúcar, era uma Anna diferente da que conheceu, ela estava sorrindo docemente no retrato; as presilhas mostram que ela sofreu bastante ao perder os cabelos quando casou com Davi, mesmo sendo uma norma religiosa, uma forma de sacrifício, o cartão pintado por Amat abriu a ferida que estava mal cicatrizada dentro dele.

      Ele notou o fundo de madeira em uma lata de metal, Pedro puxou o fundo falso com delicadeza, dentro dele havia um papel escrito em Iídiche, no mesmo instante ele pega o telefone e liga para Mirian Gromiko.

-Alô Mirian, desculpe o horário, mas eu achei uma carta em Iídiche na lata de biscoitos.

-Carta?

-Sim.

-Nós nos encontramos no mesmo lugar?

-Pode ser.

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⏰ Última atualização: Aug 28, 2023 ⏰

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