Capítulo 6 - Um Deus

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A noite passou como uma ventania, ambos voltaram para o chalé, sem dizer uma palavra sobre o acordo no meio da floresta.

Quando o céu começou a dar os primeiros indícios de clarear, um barulho alto de sino soou pelo chalé, obrigando todos a saírem de seus sonhos confortáveis.
Vanessa vestiu seus sapatos com pressa e pegou o primeiro casaco que viu, correndo em direção ao som ensurdecedor. Quando percebeu que não havia perigo algum, a mulher relaxou um pouco os músculos, mas não evitou de olhar feio a pessoa que a impediu de descansar.

— Bom dia! Vamos começar com a ajuda no chalé?— Aaron sorria gentil como sempre, com os cabelos bem presos num rabo de cavalo alto, e luvas de pano.— Temos que cuidar dos animais, pegar água do poço para a caldeira e coletar mais madeira pras lareiras.— Enquanto falava, ele entregou nas mãos da detetive um balde de ferro com o que parecia ser ração dentro.

— Sinto muito, mas não. — Vanessa declarou empurrando o balde de volta para o seu dono, mas o lenhador não fez menção de aceitar a devolução. — Não me dou bem com animais, eu posso cuidar da madeira.

Aaron parecia se divertir ao contrariar a postura autoritária da detetive que se irritava com a simples ideia de não estar no controle da situação. Era improvável que essa relação de ódio passasse a funcionar até o final do inverno.

O barulho metálico do balde sendo jogado de um lado para o outro apressou os demais hóspedes a saírem de seus aposentos. A cena da detetive arrumando briga com o lenhador logo pela manhã não surpreendeu nenhum dos seus amigos.

— Está me dizendo que você tem medo de...vacas?– Aaron perguntou, no tom mais cínico que poderia usar. — Quando você conhecer a Bodil vai perder esse medo. Vamos.

O lenhador insistiu, devolvendo o balde para a mulher à sua frente.

— Enquanto isso, vocês dois podem ir cuidando da lenha.

A ordem do loiro foi recebida com alguns resmungos de sono e bocejos vindo do químico e da piloto. Ambos não haviam dormido bem devido a curiosidade de saber o que havia acontecido na noite anterior. Mas era claro que algo havia mudado da parte do anfitrião.

— E eu achava que eles haviam se dado bem...pelo jeito a Vanessa realmente assustou o cara, ele está até diferente!– Willow comentou, esfregando os olhos com preguiça.

— E se ele expulsar a gente? – Khalan perguntou preocupado se virando em direção a piloto.

Havia uma grande chance daquele resultado, considerando o temperamento colérico da detetive. Mas nenhum dos dois queria pagar para descobrir como seria se a sorte os abandonasse.

Deixando suas paranoias de lado, o tailandês caminhou em direção a porta dos fundos enquanto juntava os fios negros de seu cabelo com ambas as mãos. Como estava segurando o elástico com os dentes estava impedido de falar.

— Espero que não precisemos morar em baixo da ponte.– A mulher comentou, andando atrás do químico.— Não acha estranho ele ainda estar solteiro?

A pergunta repentina fez Khalan olhar pra trás, com os olhos arregalados num sinal de confusão.

— Não finja que não percebeu, o cara é um deus nórdico!

Khalan parou na mesma hora, colocando suas mãos na cintura após prender seus cabelos. Com a mão, ele apontou para seu próprio corpo, como se fizesse menção a si mesmo.

— Você é okay.– Willow respondeu.

Sem dignidade alguma e com o ego ferido, o tailandês deixou seus ombros caírem em negação. Não podia acreditar que estava sendo ameaçado pelo senhor norueguês.

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