Capítulo 16- Strip poker

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O silêncio no corredor do hospital acompanhado do apagão repentino não trouxe tranquilidade alguma aos enfermos.

Passos apressados começaram a ser ouvidos para cima e para baixo enquanto as enfermeiras checavam o bem estar e as necessidades de todos os pacientes. Era um acontecimento bastante inoportuno, mas as medidas foram tomadas às pressas.

— Pensei que estando na sua companhia a noite não poderia piorar. — A detetive reclamou guardando o livro técnico que estava lendo.

Ela não estava interessada em aprender sobre agronomia, mas era a única maneira de se distrair enquanto ignorava seu acompanhante. Aaron gostava de conversas longas, enquanto Vanessa preferia ficar em silêncio; a dualidade resultava em calorosas discussões.

— Bem, conhece a lei de Murphy?— Ele perguntou com um sorriso no rosto.— Sabe, oficial, às vezes eu acho que você não gosta muito de me ter ao seu lado. Isso só me faz querer ainda mais ficar o dia todo aqui.

O bom humor do lenhador era impossível de se aguentar naquele momento desconfortável. A cama de hospital já não era tão boa para se descansar, e sem luz piorava a situação. Aaron se levantou, esticando as costas e soltando um longo bocejo.

— Espera aqui, eu vou buscar uma lanterna no meu carro, ao menos assim vamos ter algum tipo de luz.— Ele coçou os olhos enquanto andava em direção a porta.— Vai sentir a minha falta nesse meio tempo?

— Um pouquinho. — O tom doce chamou a atenção do lenhador que forçou os dois pés no chão para impedir seu corpo de cruzar a porta. — Brincadeira, tomara que se perca e não consiga voltar para o quarto.

Havia um sorriso maldoso estampado nos lábios da detetive, mas a penumbra entre os dois impedia que o norueguês tivesse uma visão clara da cena. Vanessa voltou a se deitar puxando as cobertas e Aaron saiu em direção ao estacionamento.

Seus pensamentos durante a caminhada fluíam sem controle algum, ele queria saber o que aquela mulher realmente pensava à seu respeito, queria entender os motivos pelo qual ela se esforçava tanto para mantê-lo afastado, e principalmente o porquê de não conseguir tirá-la de sua cabeça.

Os corredores do hospital já eram sinistros à luz do dia, mas no completo breu se transformava no pior cenário de terror. Vanessa ignorou os barulhos de passos correndo para os outros quartos, e também dos pinheiros se dobrando com a ventania do lado de fora, mas não conseguia ignorar um barulho constante de aço raspando no chão.

A impressão de que uma lâmina se aproximava de si fez a detetive se sentar na cama, encarando os lados para ter certeza de que era algo de sua cabeça. O barulho se tornou ainda mais incômodo, lembrando o giz raspando na lousa dos professores grosseiros.
 Vanessa encolheu os pés, tendo a impressão de que eles seriam puxados a qualquer momento por algo que se escondia entre as sombras.

O aço parou de raspar no chão. Mas a porta do quarto se abriu lentamente, rangendo pela velhice, como se tivesse preguiça. Se colocando em estado de alerta, a mulher ergueu seu corpo da cama, procurando algo que poderia se defender, mas um clarão invadiu seus olhos, a impedindo de enxergar.

— Senhorita Pinheiro, deveria estar descansando!— O enfermeiro de estatura esguia e com um olhar cansado correu para ajeitar a detetive na cama, enquanto Aaron empurrava um carrinho de metal, com cobertores e travesseiros.

— Está tudo bem?— O lenhador perguntou, segurando uma lanterna nas mãos.

— Está. — A detetive respondeu de imediato, forçando uma calma que não cabia em suas expressões.

Houve uma mudança considerável no temperamento de Vanessa ao estar recebendo os cuidados de um enfermeiro. Seu tratamento com os profissionais era respeitoso, completamente diferente de quando Aaron se oferecia para ajudar em qualquer tarefa.

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