Capítulo 12 - Agenesia

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— Não tem muitas novidades...apenas as que eu te contei no caminho.— A voz calma de Khalan ecoava pelo corredor do hospital bem cuidado de Odda.

O barulho do látex batendo contra a pele do tailandês ao colocar as luvas fez Vanessa se assustar, mas logo voltou a sua compostura.

— Doze adolescentes inconsequentes, vivendo a vida no limite sem se importar com o amanhã. Essa era a adolescência que eu queria.— O homem comentou, encarando a porta de ferro.— Na verdade, somente alguns são diferentes, já que em grande parte as drogas foram ingeridas no meio da bebida ou consumidas pelas vias respiratórias. Exceto dois jovens.

Khalan finalmente se calou, antes de segurar os puxadores da porta usando luvas, e com um pouco de força abriu a ala médica onde estavam todos os adolescentes internados.

O andar completamente silêncioso não transmitia nada além de desconforto. Toda aquela tranquilidade misturada com cheiro de água sanitária causava sufoco a qualquer um que não estivesse familiarizado com o ambiente.

Em passos leves, Khalan direcionou para o quarto com a menor numeração. Uma pequena expressão de surpresa tomou conta do rosto da detetive no momento em que reconheceu o jovem deitado sobre a cama hospitalar.

— Benjamin Olsen, a primeira vítima. — Vanessa pronunciou em voz alta exigindo uma confirmação do químico. A resposta foi imediata. — Eu decorei as páginas do relatório. 

Com brutalidade, a oficial retirou o cobertor térmico que cobria o corpo desfalecido do adolescente, deixando em vista as grosserias cicatrizes em seu braço. Haviam também pequenas marcas de agulha espalhadas pela pele pálida, mas essas quase passaram despercebidas.

— Khalan, eu quero ver os dentes dele! — Vanessa chamou a atenção do químico que ainda estava parado na porta. — Os dentes! Anda!

De forma desajeitada e com pressa, o químico trocou suas luvas e correu para fazer o que a detetive havia pedido, com delicadeza abrindo a boca do jovem.

Vanessa olhou durante alguns segundos, mas logo soltou um suspiro de desistência.

— Está um pouco azul, mas é devido ao tanto de álcool com misturas químicas que ele ingeriu. Pelo que conseguimos ver nos exames, ele bebeu demais, e quando o álcool já não fazia tanto efeito, partiu para drogas injetáveis.— Apontando com os dedos, Khalan mostrou as marcas de agulhas.— Ele injetou em si mesmo.

O clima na sala parecia pesado, e o silêncio ensurdecedor entre os dois apenas piorava a situação. A detetive estava imersa demais em seus pensamentos, e Khalan respeitava seu modo de trabalhar, deixando a escolha da oficial falar ou não.

— Próximo. — Vanessa decretou como se estivesse comandando uma operação. Seus modos não eram os mais adequados, mas seus pensamentos estavam acelerados a ponto de não se importar.

Batendo as mãos contra a porta do quarto, ela segurou a passagem para que o químico tomasse a frente. Seria um gesto bastante cavalheresco se não fosse pela ameaça e pelo olhar insano que a detetive carregava.

— Disse que houveram diferença em dois casos, certo? — Vanessa repetiu enquanto seguia os passos do tailandês, era como ter uma sombra em estado psicótico. — Também quero ver os dentes dele!

— É algum tipo de fetiche ou...— Khalan desistiu de sua  piada na metade do caminho, percebendo que não seria bem recebida.— Claro, claro.

Apertando o passo, o tailandês a guiou até o próximo quarto, onde novamente trocou suas luvas.

— Dois tiveram a droga injetada por outra pessoa, e pelos sinais de resistência, a droga foi inserida a força.— Relatou, enquanto com as mãos enluvadas abria a boca do garoto de cabelos loiros e o rosto queimado pelo sol, esperando o veredicto da oficial. — Esse é Carter, e, bem, pode ver que ele não aceitou com tranquilidade o tratamento.

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