Capítulo 1

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Já era tarde da noite naquela rua de um bairro periférico, e embora boa parte das casas estivessem em paz e harmonia com seus moradores, possivelmente aproveitando os prazeres da televisão em um fim de noite para dormirem, em uma daquelas casas, uma que ficava quase ao final da rua das cerejeiras, as luzes estavam completamente acesas. Do lado de fora, estacionado de mal jeito, estava o impala 67' vermelho que tinha em si do lado direito na lataria grandes e chamativos arranhões feitos com força e raiva. Os faróis haviam sidos detonados e havia um trinco no para-brisas.

Do interior do imóvel simples e de custo baixo, mais um grito alto podia ser ouvido enquanto o som de algo estilhaçando-se seguiu-se. Pelo chão, havia tanta coisa quebrada. Os porta-retratos estavam em frangalhos, o papel de parede da sala estava parcialmente rasgado, revelando uma pintura escura por baixo deste. Alguns móveis estavam revirados, louças quebradas e flores no chão.

Parecia mais que um furacão havia passado por ali. O tecido do sofá estava rasgado em alguns pontos, próximo a mesinha de centro, que estava tombada de lado, haviam garrafas; algumas vazias, outras pela metade e derramando pelo carpete da sala. Enfincada contra um dos vidros da porta francesa, que dava para a varanda pequena, havia uma guitarra preta e vermelha, da qual era possível um rasgo de arranhões de fora a fora em sua pintura; bem como as cordas cortadas.

— Eu não fiz nada, caralho! — Berrou, novamente enfurecido, o garoto de cabelos negros compridos para a mulher que estava diante de si. Não teve muito tempo para forçá-la novamente, pois teve que desviar de outro vaso de cerâmica que ela arremessou contra a sua cabeça e esse estilhaçou-se completamente na parede contrária.

— Cínico! — Gritou a garota de cabelos negros-azulados que tinha parte da maquiagem borrada de um choro exagerado. — Pensa que não vi ela se insinuando, se esfregando? E você bem que gostou, não Uchiha?

Ele já se encontrava no seu limite absoluto e, cansado, aproveitou do deslize dela e avançou a contendo. Prensou o corpo pequeno da garota contra a parede e com a mão esquerda imobilizou os braços sobre a cabeça dela. Com a direita, segurou o queixo pequeno e delicado dela a fazendo olhá-lo.

Ambos ofegavam raivosos e intensos demais. Quem acreditasse que todo aquele estrago fora provocado apenas por ela, enganava-se redondamente. Era sempre assim, sempre acabam em brigas idiotas com as mesmas motivações: ciúmes... Sempre os malditos ciúmes possessivos.

Fossem absurdos dele, fantasiosos dela...

Eram ciúmes que beiravam à insanidade e faziam mal a ambos, mas eram incapazes de apenas lidar com aquilo. Estavam juntos desde os quatorze anos quando formaram uma banda de rock. Desde que colocou seus olhos negros no par de pérolas dramáticas que eram os olhos dela, ele a dominou, a reivindicou como sua. E ela não era diferente. A diferença era que ele era um garoto caótico e ela sistemática. A fragilidade e timidez dela o instigava e iluminava ao mesmo. Uma personalidade de calmaria para sua tempestade. Agora, aos vinte, nada havia mudado, embora ele tivesse a arrastado profundamente em seu oceano de conturbações. Como diziam os pais dela? Sim, ele a perverteu. E, talvez por isso, foi fácil arrancá-la da casa deles aos dezessete e morarem juntos. Só havia um problema: a inconstância dele e a insegurança contínua dela. Quando queria impor-se, ela conseguia ser ainda mais mortal que ele; um exemplo claro era a sua guitarra.

— Você é completamente louca. — Ele rosnou contra o rosto dela. O odor do álcool fluía dos lábios dele, tal como o ar quente do hálito que tocava a pele.

— E você é um fodido de merda, Sasuke Uchiha. — Respondeu indignada, beirando ao ódio, mas ambos sabiam que o sentimento contrariava os reais, as intenções que sempre fluíam.

Nós nunca vamos envelhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora