Capítulo 1

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O dia em Seattle estava nublado, típico clima da cidade. O sol mal conseguia entrar pela janela do escritório de Ellen, que estava vestida com uma blusa de frio verde, na tentativa de se aquecer.

- Café? - Um copo de café foi colocado na mesa em que Ellen estava trabalhando. - Eu sei que você ama café, especialmente com esse tempo frio.

Ellen deu um sorriso e pegou o copo de café, tomando um pouco do mesmo, ela olhou para a pessoa que estava à sua frente e acenou positivamente.

- Obrigada Giacomo, eu estava mesmo precisando!

Giacomo era seu colega de trabalho - e de apartamento. Eles se conheceram em uma reunião, onde Giacomo havia alegado estar chegando da Itália e não ter onde ficar. Ellen acabou cedendo um dos quartos de seu apartamento para ele, que aceitou de imediato.

- Como vai o seu artigo? Já esta pronto para ser publicado?

- Não, ainda faltam algumas coisas. Eu preciso saber mais sobre Los Angeles. Eu quero uma matéria completa! - Sorriu, entusiasmada com a ideia.

- Você precisa de uma ajuda? Eu posso pesquisar alguma coisa, ou ficar aqui e te dar apoio moral, quando você não aguentar ler mais uma palavra nesse computador...

Ellen olhou para Giacomo, que apesar de estar brincando, estava com uma feição séria.

- Eu não vou precisar de apoio moral - Disse, arqueado uma sobrancelha.

- A exaustão pode vir após você passar várias horas de frente para o computador... Eu só estou avisando. - Giacomo colocou seu copo sobre a mesa e esticou suas pernas, colocando seus braços atrás da cabeça - Você deveria descansar um pouco.

- Eu estou bem, eu não vou ficar cansada, e você me trouxe café! Estou mais acordada que nunca.

[...]

Já se passava das 17:00 e Ellen ainda estava sentada, focada em sua pesquisa. Apesar de querer concluir logo o seu artigo e ter uma matéria que chamasse a atenção da mídia, estava cansada.

- Vamos, você tem outros dias para terminar isso, precisa sair e se alimentar.

- O quê? - Perguntou, se virando para ver quem havia entrado em seu escritório.

- Eu sei o quanto você quer fazer uma matéria impecável, mas não é apenas a matéria que precisa estar impecável, você também precisa estar bem. Ficar mais uma hora na frente desse computador não vai fazer tudo surgir na sua tela!

- Eu só queria deixar as coisas encaminhadas, mas ainda falta tanto... - Suspirou  voltando a olhar para o computador.

- Você pode continuar depois. Sam te trouxe Donuts.

- Donuts? - Ellen se virou novamente, animada. O seu cansaço parecia ter ido embora - Por que não me avisou que Sam estava aqui?

- Eu tentei, mas você disse Giacomo, por favor, eu estou ocupada, não preciso de distrações, se alguém está me procurando, diga para deixar o recado ou voltar mais tarde. - Riu, ao tentar imitar a voz de Ellen.

- Ah, Giacomo!

Ellen se uniu a Giacomo, dando risada, então levantou e o acompanhou até a recepção, onde havia uma caixinha contendo 6 Donuts. O cheiro e a aparência estavam maravilhosos, eram os preferidos de Ellen.

- Onde vocês se conheceram mesmo?

- Quem?

- Você e Sam, eu ainda me confundo com essa história, estão sempre juntas. Parecem um casal.

- Sam é uma amiga de infância. Sempre estivemos juntas, e... Ela esteve comigo nos meus momentos mais difíceis. Ela é como uma irmã...

Ellen olhou para a caixinha de Donuts, estava aberta e o cheiro exalava por todo o local, ela geralmente ficara feliz em encarar uma caixa cheia de Donuts, mas desta vez, seu sorriso havia desaparecido. Havia um certo olhar de tristeza disperto em seu rosto.

- Está acontecendo novamente?

- O quê? - Disse, desanimada, voltando o seu olhar para Giacomo.

- Você me disse uma vez que o seu anel brilha e muda de cor de acordo com o que você está sentindo. O seu sorriso sumiu e... A pedrinha ficou azul.

Ellen olhou para a sua mão, o anel que seu pai havia lhe deixado quando crianca havia se tornado azul. Ele tomava essa tonalidade quando ela estava triste. Normalmente, a pedrinha de seu anel era transparente. Ela nunca entendeu o que fazia aquela tonalidade mudar dessa maneira.

- São só lembranças, nada demais. - Ellen colocou sua mão próxima ao seu peito e a envolveu com a outra mão, como se abraçasse seu anel, voltando a olhar para a caixinha de Donuts.

Flashback on

- Eu vou apostar que... O que é isso?

- Um anel - Ellen exibiu a sua mão, estava segurando um anel com uma pedrinha transparente, ainda estava grande para que ela colocasse em seu dedo - O meu pai acabou de me dar, ele disse para eu guardar bem e usar assim que ele me servir. Eu acho que eu vou ter que crescer bastante para esse anel não cair do meu dedo.

- Ele é lindo!

Joseph havia acabado de se despedir de sua filha, antes de ir viajar. Ele a deixou com sua melhor amiga, que por sorte também era sua vizinha, Sam. As duas haviam se conhecido quando Ellen se mudou com seu pai para Seattle, vindo de Los Angeles.

Sempre que Joseph precisava viajar ou resolver algum assunto sério, deixava sua filha com seus vizinhos. Ellen não conhecia a sua mãe, pouco sabia sobre ela, nem de seu nome Ellen tinha conhecimento. Apenas sabia sobre seu pai, ele era um pai incrível, sempre presente. Fazia de tudo por Ellen, eles tinham uma relação linda, era invejável pelo olhar de outras crianças.

Ellen passara a tarde brincando com Sam, seu pai havia lhe prometido voltar pela noitinha e a levar para passear em um parque. Eles gostavam de sair e estar ao ar livre, estar em contato com a natureza, sentar aos pés de árvores para ler um livro...

- Ellen, eu... Eu preciso que você venha até mim - Uma voz não muito contente interrompeu a brincadeira das crianças. Ellen ficou um pouco confusa, mas seguiu até onde a chamaram. Era Rachel, a mãe de Sam.

- O meu pai chegou, tia Rachel? - Disse sorrindo, apesar de estar confusa.

- Não... O seu pai... Não vai mais chegar...

Naquele momento, a pedrinha do anel que Ellen segurava tornou-se azul.

Flashback off

- O meu pai sofreu um acidente, ele não resistiu, e... Eu não tenho uma mãe, eu tive que ir morar com a família da Sam. A tia Rachel foi como uma mãe pra mim. Ela era doce, compreensível, mas... Ela não era o meu pai.

- Eu sinto muito! Eu não sabia...

- Tudo bem. - Ellen interromoeu Giacomo antes que ele pudesse terminar o que tinha para dizer - Eu aprendi a lidar com isso.

- Você está bem fazendo uma matéria sobre Los Angeles? Foi o lugar que o seu pai...

- Sim, foi onde ele morreu. Está tudo bem, eu já disse. Eu só me deixei levar pelos meus pensamentos.

Ellen fechou os olhos e respirou fundo. A pedrinha de seu anel havia voltado a ser transparente.

- Bom, temos Donuts, eu acho que a tarde vai ser boa, você quer um? - Ela pegou um dos Donuts e sinalizou para que Giacomo também pegasse um.

- Bom, se você insiste...

Eles riram em conjunto. Logo chegaram ao último Donut, acharam justo dividir, já que os dois haviam passado a tarde no escritório e não tiveram tempo para fazer um lanche.

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