Sinestesia

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Cristal P.O.V

Durante o beijo o vento bateu e apagou a chama dos lampiões, fazendo com que fossemos iluminados pela luz da lua. Teddy parou o beijo lentamente, e ainda com a boca próxima a minha, abriu um sorriso de canto. A sensação de quando nossos olhares se encontraram após o beijo se assemelhava a que eu havia sentido quando nossos braços se tocaram na M & N dessa vez, no entanto, ela parecia dez vezes mais intensa.

-Se eu soubesse que seria tão incrível assim teria te beijado antes. -Ele falou baixinho.

-Ah é, pois eu também.

-Ah Cristal, você não faz ideia do tanto que mexeu com minha cabeça e meu coração, sem contar as várias noites mal dormidas pensando se iria te encontrar de novo. Em todos os meus 26 anos ninguém nunca me deixou assim.

-Por fora eu tentava me conformar que não iria te encontrar novamente, por dentro eu torcia para que estivesse enganada. A minha cara quando te vi na M & N e te reconheci foi a mais sincera possível. Eu não sabia como agir nem o que pensar. -Contei.

-Eu não sei o que vai acontecer agora, mas ficar longe de você com certeza não é uma opção. -Não pude deixar de sorrir ao ouvir ele dizer isso.

-É muita loucura né. Dois desconhecidos se encontram em uma festa, começam a conversar e para a surpresa deles, que achavam que não iriam se ver de novo, ele arruma um emprego no mesmo lugar que ela trabalha.

-Loucura é pouco para definir.

Sorrisos um para o outro e calados aproveitamos o momento.

-Como foi seu dia hoje?-Teddy perguntou quebrando o silêncio

-Até que foi tranquilo. Fiquei lendo alguns contratos, respondendo e-mails e depois fui para casa me arrumar. - Na verdade eu passei o dia produzindo armas, mas obviamente não poderia contar isso. -E o seu?

-Nada demais também. Tenho que ficar de olho no Din pois ele terminou com a namorada há um mês e agora passa o dia inteiro deitado no sofá se lamentando.

-Mas foi um término tranquilo ou teve algum problema?

-Foi sim, ela conseguiu um trabalho como repórter em um jornal de Londres e como não conseguiriam levar um relacionamento a distância a frente acharam melhor terminar.

-Entendi. Términos assim são os piores, porque o sentimento ainda existe.

-Sim, mas logo logo ele melhora. Mudando de assunto um pouquinho, a quanto tempo trabalha como modelo?

-Assim que terminei o colégio fiz faculdade de moda, nesses quatro anos de curso fiz alguns trabalhos mas nada profissional. Apenas com 22, ou seja a três anos atrás, que levei isso como um trabalho.

-Entendi. Você não quis trabalhar com moda, digo no sentido de produção de roupas e tudo?- Perguntou curioso.

-Pior que não, eu realmente queria esse curso, mas quando terminei percebi que era mais pra uso pessoal mesmo. Já a Renata fez faculdade junto comigo e hoje é estilista. Ela ama e sempre que precisa eu modelo para Maibee, que é a loja dela junto com a irmã.

-Caraca que legal, não sabia que ela tinha uma loja.

-Tem e apesar de ainda não ter um espaço físico sempre tem encomenda.

-E você, fez faculdade de fotografia?- Perguntei.

-Não. Tudo que sei foi vendo vídeos sobre e participando de alguns cursos. Queria muito ter feito, mas assim que eu e Din saímos do lar nossa prioridade era conseguir nos sustentar, então quando criamos o bar meu foco foi todo direcionado para ele.

-Mas e agora, pretende fazer?

-Não sei, parece ser tarde demais.- Respondeu desanimado.

-Não acho que tenha tempo certo, se você tem a chance, por que não fazer? E depois se não quiser continuar não tem problema, pelo menos fica com a consciência limpa de que tentou.

-Você está certa. Talvez mais para frente eu faça, mas por enquanto agradeço pela M & N priorizar o portfólio em vez de um diploma. -Sorriu.

-Você tem algum outro talento além da fotografia?

-Eu faço alguns desenhos, mas nada profissional. Ah, e eu gosto de cozinhar também.

-Acho chique quem tem vários talentos. Não sei desenhar nem um boneco de palito e na cozinha só sei o básico.

-Se quiser posso te ensinar algumas coisas de culinária, não sei se sou um bom professor mas posso tentar. -Ofereceu.

-Eu topo, estou cansada de comer macarronada todo santo dia.

-Então depois a gente combina direitinho. -Sorriu para mim e retribui.

-Meu Deus já são três da manhã. -Ele disse ao ver a hora no visor do telefone.

-Já? Passou muito rápido.-Me surpreendi.

-Passou mesmo. Acho melhor nós irmos porque a estrada nessa hora é perigosa. - Teddy disse. Mal sabe ele que está na companhia da líder da maior facção da Itália.

Ajeitamos tudo e voltamos para o estacionamento, ele colocou as coisas na bolsa lateral da moto e em vez de me entregar o capacete, como fez lá em casa, colocou cuidadosamente na minha cabeça. Subi na garupa e me segurei em seu tronco.

-Quer um pouco de emoção?

-Quero. -Estranhei a pergunta, mas respondi sem nem pensar.

-Então segura bem aí.

Segurei com mais força e ele acelerou na moto. Enquanto andávamos o vento fazia seu show, balançava as copas das árvores e arrastava folhas pelo chão criando sua própria melodia. Pousei minha cabeça em suas costas e aproveitei a brisa que batia em meu rosto pela viseira do capacete.

-Muito obrigada por hoje, eu amei muito a surpresa e o encontro. -Assim que chegamos desci da moto, o entreguei o capacete e fiquei em sua frente. Ainda em cima da moto ele também tirou o seu.

-Que bom que você gostou, por que esse foi só o primeiro de muitos. -Segurou minha mão, me puxou para mais perto da moto, e consequentemente de si mesmo, e então me beijou. -Tchau gatinha.

-Tchau gato. -Respondi ainda com um sorriso bobo no rosto, e segui até a portaria. Depois de se assegurar que eu havia entrado em segurança em casa, Teddy deu partida na moto e seguiu seu caminho.

Passei o resto da noite assim, com um sorriso estampado e revirando em minha cabeça as memórias criadas hoje.

Sotto il faroOnde histórias criam vida. Descubra agora