Jovêncio trabalhava nessas terras desde guri novo. Antes dele, seu pai havia sido o capataz do lugar.
Lembra como se fosse hoje ele correndo pela plantação de soja, junto com os filhos do "Seu Adão".
E hoje Raquel estava de volta, como será que estaria? Depois de treze anos, será que dele se lembraria?
Toda a estância estava em festa, as mulheres da cozinha preparando os pratos favoritos da guria e lá fora os irmãos preparando os assados.
O sol baixou e a camioneta chegou. Jovêncio deu um jeito de logo a criação alimentar, foi se chegando pelos fundos quando a viu na cozinha.
Sentada em cima de uma perna, bota jogada no chão. O cabelo preto feito tisna, voando contra o vento da porta. No canto da boca a caldo do doce de figo escorrendo.
Ele riu sozinho ao lembrar: "Direto do vidro, como quando a gente vinha roubar doce depois da janta."
Mas ela não era mais a Raquelzinha, agora era uma baita mulher, linda, bem ali na sua frente.
Balançou a cabeça, como se com esse gesto dali a tiraria também, e se virou pra sair como entrara: sem ser visto. Mas era tarde demais, quando escutou:
-Oi Jô! É tu mesmo?! Vem aqui.Quando viu ela tava com as pernas em volta dele, a doida tinha pulado no seu colo em busca de um abraço. "Ela lembra de mim!", pensou ele. "Que perfume delicioso".
Ela desceu, tão feliz, o sorriso mais lindo que ele já tinha visto, pra ele aquilo sim era a festa.
Quando ele olha atrás de Raquel, um guri. "Mas donde surgiu esse piá?!", já preocupado com a segurança da casa, e claro, com "sua" Raquel. Riu ligeiramente ao pensar no "sua".
Mas rapidamente também o sorriso se desfez, quando Raquel vira, pega na mão do vivente, e apresenta a Jovêncio:
-Jô, esse aqui é o Pedro, meu namorado. Pedro, esse é o Jô, meu amigo aqui da estância.Jovêncio apertou aquela mão magricela, sem força alguma. Com a boca cerrada mal balbuciou um "Noite".
Raquel tratou logo de se virar e ir rumo ao escritório do pai. Jovêncio ficou ali parado, mão na guaiaca, sem reação por um tempo.
Tempo suficiente para ver Raquel se virar, olhar dentro do seu olho, baixar a cabeça ao fechar a porta.
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Amor e outros contos
RomanceContos do cotidiano, olhares que se cruzam, amores que se vão ou dos que chegam. Sobre amores.