Capítulo 2

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Tempos atrás...

— Amor — Seraphine funga —, você viu o que aquela gorda fez comigo?

— Não fala assim, Seraph. A Aurora é legal, provavelmente você a irritou com o seu jeito. — Deus sabe que Seraphine irrita. Se não fosse tão boa com boca em outra tarefa, eu já tinha deixado para lá.

Eu a levo até o banheiro de visitas, trancando a porta e me virando para ajudá-la a lavar a boca, que está cheia de sangue.

Não foi um tapa ou um tapinha, Aurora meteu a mão com a força de um soco dado em um inimigo. Até me senti atordoado. Aquela doçura toda conseguiu fazer isso na boca de alguém?

— Está doendo tanto, Pê — minha namorada choraminga enquanto passo os dedos com água para limpar ao redor de sua boca depois que ela gargareja. — Dá um beijinho para sarar?

— No nariz serve? — beijo seu nariz e vou buscar papel.

Seraphine vai se sentar no vaso enquanto, não achando o papel no gancho, abro os armários para procurar. Até ouvir uma pancada. Vindo da porta.

Eu me viro em direção, estreitando os olhos.

— Abre essa droga, Pedro! — meu primo grita.

Seu tom de voz não me nega que tem algo de errado. E só posso supor uma coisa: o meu avô. Se ele realmente tiver vindo, pode estar bêbado, como de costume, e minha tia Lili deve ter se irritado.

Mas, caralho? Como assim ela não ia convidar o próprio pai? É um lance que eu nunca vou entender. Meu pai sempre disse que temos que dar segundas chances. Se não fosse assim, minha mãe e ele não estariam juntos. Meu pai ganhou uma segunda chance e me ensinou a dádiva disso.

Então, não, eu não entendo como, depois de tanto tempo, podem ainda crucificar meu avô, já velho, simplesmente porque ele trabalhava demais e não dava a devida atenção para a família.

Ao menos, foi só isso que me contratam e é só disso que eu sei.

Indo depressa ao som das pancadas, acabo derrubando coisas do armário.

— O que foi, cara? — pergunto assim que abro a porta, mas sou empurrado, não me dando tempo de processar o acontecimento.

Alan passa por mim como um flash de luz, indo com tudo para cima de Seraph. Movido pelo impulso, o impeço, puxando-o para trás.

— O que tá fazendo, caralho? Não vai bater na minha namorada!

— Me larga, eu não vou encostar um dedo nela — ele se liberta para ir até ela. — Você se acha incrível por sair por aí tentando deixar as pessoas tristes a fim de alimentar a sua glória e o seu ego podre?

— Do que você está falando? — pergunto, sabendo que Alan está defendendo Aurora. — Seraph não fez nada com a Aurora e ganhou um empurrão.

— Você é maluco? — Safira, minha prima, pergunta, me olhando como se eu fosse realmente louco. — Não ouviu quando a sua namorada imbecil chamou a Aurora de estrume?

— O quê? — Não, eu não ouvi. Caralho. Eu estava distraído comendo antes de ouvir o estalo do tapa.

— Deixa eu te dizer uma coisa, Seraphine — meu primo continua. — Tudo que fazemos para alguém, um dia retorna pra gente. Você passou algum tempo da sua vida infernizando a minha namorada...

Namorada? Quê? Alan está com Aurora?

Estou me questionando isso quando sou jogado contra a parede, com Alan empurrando meu peito de forma dolorosa com seu cotovelo.

— A presença da sua namorada está proibida na minha casa, na casa dos meus pais ou em qualquer confraternização da nossa família. Você tem um dedo de um filho da puta para mulheres — ele declara, olhando Seraph. — Você está demitida.

Alan, simplesmente assim, se vira para ir saindo. Mas não demoro dois segundos para voltar a mim e ir atrás dele. Que merda ele pensa que tem na cabeça para se emputecer assim do nada?

E estou abrindo a boca para chamá-lo, seguindo-o pelo corredor, quando ele de repente para de caminhar, estagnando.

Vou ao seu encontro, mas então, olhando na mesma direção que a sua,  meus pés também cravam no chão com o que vejo. É o meu avô, e ele está bêbado, andando sem direção.

— Filha… Filha… — ele grita, ruidoso. — Filha… Filha… Eu matei meu neto.

Então, como se isso fosse possível e realmente acontecesse, o chão se abre sob meus pés e me sinto afundar, sendo sugado e puxado pela escuridão, o monstruoso vazio do meu corpo me jogando para baixo e também para a frente.

Chego muito tarde, porque Alan já está ajudando-o a se sentar.

— Onde está o meu irmão? — pergunto, não sei se alto ou baixo, mas apenas me negando da verdade que ouvi.

Alan tenta me afastar, mas estou cego. O que estou fazendo? E surdo. O que ele disse? Matou. Matar. Não.

Ryan! Ryan. Ryan.

Ryan, Ryan, Ryan, não…

O pulo na cama me faz despertar de imediato, o solavanco involuntário do corpo me dizendo do pesadelo que nunca vai acabar.

Sem ar, me sento na cama, a cabeça doendo como o receber de uma pancada, então meus olhos pesam, me fazendo perceber quão secos estão. Provavelmente não conseguem lubrificar sozinhos se não estou dormindo direito. Não consigo descansá-los, porque sempre que os fecho, os pesadelos vêm.

É um tormento e exaustivo.

Como posso conviver com isso? Com a noção de fui o maior responsável pela morte do meu irmão? Eu pus a faca no peito dele. A culpa é minha. Totalmente minha. Eu trouxe o sofrimento aos meus pais, eu fiz o coração da minha mãe quebrar.

Por que eu tentei fazer uma coisa certa se a minha função é fazer o errado? Por que eu não posso voltar àquele dia e apagá-lo? Ou reescrever de novo, e enfiar alguma noção na porra da minha cabeça antes de pedir que meu irmão fosse buscar meu avô.

Eu não sei, eu não posso. Preciso conviver com isso. O alerta do que houve vai estar sempre comigo porque, quando escuridão me capturou, eu não consegui mais voltar.






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Eu sou fraca

Já me sinto levemente apaixonada 🤤


Boa tardinha, meus amores!! <3<3<3

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