Capítulo 1

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Aquela última vez em que Pedro Smith partiu, me deixou triste. Como todas as outras vezes. Mesmo que eu saiba do tempo que ele fica, para poder estar por dentro da colheita e da produção, não me impede de sempre ter o coração em um palpitar nervoso quando se vai.

No entanto, no último ano em que o vi se despedindo de todos, foi diferente. Diferente porque, infelizmente, quando chegou perto de mim, ao invés de me cumprimentar com um aperto de mão como estava fazendo com todo mundo da fazenda, ele apenas passou direto. Diretíssimo. Eu me senti bem trouxa.

Mas Pedro se foi. Pegou seu carro e saiu ao entardecer. Para a minha surpresa, entretanto, não demorou mais que semanas para que estivesse de volta. Ele veio à fazenda procurar pelo meu pai, querendo saber dos outros vinhedos.

Como se não fosse estranho o suficiente, quando o vi, percebi que ele estava bem concentrado na conversa. De tal jeito que havia um franzido entre suas sobrancelhas. Um franzido que eu nunca tinha visto ali antes porque suas expressões sempre eram tão leves, deixando o rosto relaxado.

Então ver ali aquele enrugado me intrigou.

Meu pai, depois da conversa, nos avisou que no dia seguinte iria com Pedro olhar o vinhedo da outra fazenda. Eu me ofereci para ir também, ao que ele aceitou, sem desconfiar que eu apenas queria olhar para o Smith e não o vinhedo.

Mas aquilo foi mais estranho ainda. Porque Pedro pareceu com raiva quase o tempo inteiro e, quando o olhei de soslaio uma vez, o vi parecer triste e pensativo. Até ele me pegar encarando-o.

Foi bem constrangedor. Eu gelei. Não soube onde enfiar minha cara e o choque do flagra foi tão grande que apenas continuei olhando-o, como se tudo bem encarar alguém.

Só que não era. Muito menos encarar o meu amor platônico desde a adolescência. Porque eu realmente sou apaixonada por Pedro desde os 15 anos. Ele era (é) simplesmente o cara mais gato que eu já tinha colocado meus olhos. Não apenas, mas tambem ajudava o pai com a vinícola e era muito simpático, o que me deixou mais caída ainda.

Então ele respirou fundo após uns segundos que me viu encarando-o e saiu de perto de mim, indo para a sua caminhonete.

Nem um oi? Nem um sorriso? Ele sorri para todo mundo. Por que não sorri para mim também? É intrigante e, por outro lado, me deixa com uma leve irritação. Se eu achasse minha voz quando o vejo, com certeza falaria alguma coisa.

— Vai usar isso? — Mark, que acaba de entrar no meu quarto, pergunta, se referindo a bota que estou olhando no notebook para comprar.

Essa coisinha é meu amigo de infância. Nossos pais também são amigos, por conta das fazendas e dos negócios, então Mark sempre está por perto, mesmo porque não tem irmãos. Às vezes ele incomoda, mas é suportável. Derick o acha insuportável, mas eu discordo.

— Vou. É muito extravagante? — indago.

— Por demais — ele ri, caindo deitado ao meu lado na cama. — Quer tomar um sorvete?

— Não — recuso, voltando os olhos para o notebook e balançando as pernas enquanto estou de bruços. — Não estou a fim de sorvete agora. E se estivesse, tem na geladeira.

— Você pode ir só para aproveitar da minha companhia.

— Posso ter sua companhia aqui também — dou um sorriso.

— Crystal, você já foi mais legal comigo — ele pega minha almofada e enfia no rosto, fingindo chorar.

Às vezes Mark é tão imaturo que me dá nos nervos. Essas brincadeiras, por exemplo, não têm a menor graça. Eu odeio ter que repetir sempre para ele que não me comove seus dramas, mas não adianta. Ele sempre faz de novo.

— Podíamos ir para o balanço — ele fica de bruços também quando percebe que não dou corda para sua chatice. — Eu balanço você e depois você me balança. Então podemos ir tomar o sorvete.

Reviro os olhos, soltando o ar pelas narinas.

— Você não tem que ajudar seu pai ou algo assim? — questiono, fechando o notebook com mais força que deveria, então me levanto.

— Crystal — ele chia —, eu só estou tentando te fazer rir.

— Eu não quero rir, e a sua tática não está funcionando. Me sinto borbulhando — de raiva.

— Você tem estado fechada há dias — Mark encolhe os ombros. — Nem sei pelo que é. Você não me diz, só fica toda irritada. São seus hormônios?

Então minha fica cai. Claro. Eu devo estar descontando nas pessoas a minha raiva por Pedro Smith não falar comigo, não olhar para mim e se irritar quando o olho. Pior, devo estar exalando minha fúria por não saber o que o motivou a voltar para a Itália e então ficar com aquele franzido no rosto.

— Desculpe, Mark — volto para a cama e me sento ao seu lado. Ele tenta me abraçar de lado, mas me esquivo. Não! Nada a ver. — Eu tenho pensado em umas coisas, mas é assunto meu. Não tem nada a ver com você.

— Talvez possa ser meu também, se você compartilhar.

Ele é impossível. Eu não o suporto quando liga o modo insistência.

— Mas não vou — volto a levantar. — Estou com fome, vou ir à cozinha fazer um lanche.

Eu deixo Mark no quarto, querendo até trancá-lo lá, mas sei que não posso, como também sei que ele vai vir atrás de mim.

Por que Pedro não faz o mesmo? Esse sim eu gostaria.







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Pedrinho tá tiste 😔

Ranço do Mark desde já, parece um piolho

Bom diazinho, meus amores! <3<3<3

Às Escuras do Amor (NA AMAZON) #5Onde histórias criam vida. Descubra agora