A Origem de um Legado - Vol I

Capítulo 1

           Algum dia você já parou pra pensar em como seria sua vida se as fantasias mais loucas que você imagina fossem reais? Se existisse uma parte da sua vida tão inacreditável que precisaria ficar escondida de tudo e de todos, inclusive de você? Pense nas histórias que você ouvia de seus pais quando criança e no que imaginava a partir delas, você acreditaria que elas poderiam ser reais? Acredito que sua resposta para isso seja não, até porque é normal os delírios e fantasias da nossa cabeça não passarem disso.

          E eu também pensava assim durante toda a minha vida, ou em parte dela. Eu pensava ter uma vida normal e monótona, que deveria viver como todos os outros, de uma forma que condizia com a realidade em que eu estava inserido, até descobrir que o mundo pode não ser exatamente como a gente pensa. Isso não deve ter feito nenhum sentido para você, mas vezes as coisas não fazem muito sentido mesmo. Muito menos quando elas se tratam de mim, mas vou explicar tudo com muitos detalhes pra você.

      Como disse, eu sempre tive uma vida comum como a de todas as outras crianças e adolescentes. Eu estudava, tinha meus amigos, saia pra brincar na rua, gostava de dar uma volta de vez em quando e tudo mais. Acreditava que minha vida era perfeita como era, tranquila e normal. Mas as vezes um detalhe bem pequeno que sua mãe deixa de te contar sobre uma parte da sua vida pode pôr tudo de ponta cabeça.

          No meu caso esse detalhe eram informações sobre o meu pai que minha mãe nunca tinha me contado, e não posso culpá-la, eu nunca me importei muito com isso, ao meu ver, isso não era tão importante, pois nunca vi problema em ser filho de mãe solteira, e nunca senti falta de uma figura paterna. Mesmo vendo que as outras crianças tinham um pai, e sabendo da função de um em uma família, eu nunca liguei para eu não ter um. Era feliz só com minha mãe, e mais feliz ainda sem saber quem era o meu pai. E é aqui que começam os problemas dessa história, eu não imaginava que saber quem era o meu pai era algo de extrema importância para mim.

          Aqui você deve estar se perguntado: "Mas aonde ele quer chegar?" "O que ele quer dizer com tudo isso?" É... Eu te entendo, me senti exatamente assim quando descobri tudo que vou narrar nessa história pra você e além disso um mistério é sempre bom, eu gosto. Assim como eu gostava de ser um menino normal no ensino médio, como gostava de sair com meus amigos, de ser um adolescente normal, mesmo que no fundo eu sentisse que tinha algo diferente em mim, algo que as outras crianças não tinham.

         E não, não era uma figura paterna, meu melhor amigo nunca teve um pai também e isso nunca foi um problema pra nenhum de nós. A nossa única diferença é que ele sabia o porquê não tinha um pai, porque diferente de mim, ele sabia sobre a história da família dele tanto por parte de mãe como por parte de pai. Inclusive, quando eu descobri isso, foi bem ruim, mas, na maioria das vezes, a verdade é péssima e sempre traz grandes problemas, o que faz a gente quase sempre não querer aceitá-la. Mas ela sempre aparece.

          Pra mim, a verdade surgiu em uma manhã de sexta-feira. O dia estava incrível, o sol estava brilhando, minha turma estava em uma boa aula de educação física e, apesar de na maioria das histórias os personagens começarem sendo um zero a esquerda, eu não era bem assim na escola. Sempre fui bastante influente, não mantendo padrão de aluno que sofre ou faz bullying, eu era um típico aluno quebra tabu, gostava de ser o diferentão, fazia parte de quem eu era. Por esse motivo, eu era bom nas aulas de educação física, assim como em grande parte das outras disciplinas, mas ao contrário dos alunos que eram bons em esportes, eu sempre tentava ajudar aqueles que se sentiam excluídos nessas aulas, ou que se sentiam incapazes de participar e fugiam delas.

          Quase sempre eu tirava time contra a mesma pessoa, um pé no saco chamado Pedro Albuquerque. Ele estudava comigo desde o jardim de infância, e como alguns outros alunos populares, ele não gostava muito da forma como eu usava a minha "influência" na escola, ele era dos que inferiorizavam os alunos que não estavam bajulando ele ou que eram diferentes dele, e com isso quero dizer, quase todos os outros alunos da escola.