Chap 26

665 44 113
                                    

Harry

Meu travesseiro mesmo com cheirinho de rosas não estava me acalmando. Nem se eu pegasse o livro do Peter Pan não me animaria. Sentia na verdade lágrimas descendo dos meus olhos. Odiava chorar. Meu papai sempre ensinou que eu não deveria chorar, não na frente dos outros. Mas eu não era forte como ele. Sentia meu peito doer enquanto abraçava aquele travesseiro com força. Funguei baixinho, afundando mais o meu rosto no tecido macio.

Era meu aniversário de seis anos. Tudo que eu mais queria era que meus pais ficassem em casa comigo, não precisava de festas. Não queria festas. Só queria que eles me dessem atenção e carinho por uma noite durante o ano todo. Mas mesmo assim meu pai gritou comigo, me chamou de fracasso, uma falha, e que de castigo eu deveria ficar preso em meu quarto até o outro dia quando ele permitisse que eu saísse. Disse que os negócios da família sempre seria mais importante. Aquilo me machucou. Sabia que se ele me visse chorando, ele aumentaria o castigo. Era impossível não chorar quando estava preso no quarto sem poder fazer nada bem no meu aniversário. Todos os meus dias já eram assim. O que custava esse ser diferente?

Não queria ser eu.

Ouvi a porta se abrindo e olhei rapidamente, secando meu rosto. Vi que era a senhora Brighton, sorrindo pra mim e então tirou de trás de suas costas um bolo todo recheado de chocolate com morango. Dei um pulo na cama, abrindo o maior sorriso do mundo para ela e até mesmo sentia meus olhos brilhando em sua direção.

— Feliz aniversário, pequeno Harry — desejou com muito carinho ao fechar a porta atrás de si, se aproximando e deixando o bolo em cima da cama. — Fiz pra você!

— Para mim? Jura? Mas meu pai...

— Ele não sabe. Será nosso segredo. Não poderia deixar você sem comer nada especial no dia do seu aniversário. É injusto quando você é um bom menino, sempre gentil, educado e bondoso — contou, tirando um pedaço que já estava cortado para mim, pegando um bolo de guardanapo de seu bolso do avental.

— Muito obrigado, senhora Brighton — falei com toda minha felicidade transbordando em meus olhos e tom de voz. — É o melhor presente que já recebi — contei.

— O melhor? Mas e aqueles todos outros? — questionou, me vendo dar uma mordida naquele pedaço e me deliciei todo ao comê-lo.

— Foram apenas para agradar meu pai, não a mim — sussurrei, dando um suspiro. — Esse bolo perfeito foi o único presente que foi realmente feito para mim. Não porque você quer fazer meu papai sorrir.

Ela deu um sorriso triste e se aproximou, me dando um beijo na testa.

— Você é especial, Harry. Muito mesmo. — Alisou meu braço. — Encontrará pessoas que irão te amar por quem você é e não por quem você é filho. Irão querer ver o seu sorriso. E vão querer apenas o seu bem, só te fazer feliz.

— Acha mesmo que vou encontrar pessoas assim? — arregalei meus olhos, ficando um tanto esperançoso.

— Tenho absoluta certeza. — Assentiu com bastante certeza do que dizia.

Abri o sorriso e a abracei de novo, mas bem rapidamente, pois voltei a comer meu bolo. Ele estava tão bom que eu peguei mais pedaços, mesmo que a senhora Brighton não tenha deixado eu exagerar ou eu poderia ter dor de barriga. Ela ficou me contando sobre seus filhos e eu amava ouvir tudo que ela me contava, ainda mais pela forma como ela falava e alisava meus cachos me dando tanto carinho. Era bom sentir isso pelo menos uma vez. Mas logo tudo aquilo acabou. Meu pai entrou no quarto em um disparo. Nos fazendo pular, principalmente ela que logo se colocou de pé e abaixou a cabeça.

Feel Me - ZARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora