Capítulo 2

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Madeleine.

Estava chovendo o mundo lá fora, a noite era cruel demais nos últimos dias, parecia que tudo se resumia ao vazio que estava dentro do apartamento, o silêncio era ensurdecedor.

Sentia-me a ponto de enlouquecer. Meus dedos doíam e as juntas latejavam, parecia que meu corpo reconhecia o estado em que minha mente se encontrava, respirando fundo, engoli os comprimidos que o médico havia receitado para minha fibromialgia. Geralmente eu deixava para recorrer ao remédio apenas nos últimos minutos da dor, quando já não aguentava andar, mas naquela última semana após a morte de minha avó simplesmente estava me entregando aos analgésicos, principalmente à noite, quando só queria que a noite passasse e eu adormecesse para acabar com aquele desespero.

Respirando fundo, deitei-me no sofá, a televisão estava ligada em um episódio antigo de Friends, estava no mudo, não estava assistindo de fato, viajava entre o passado e o presente procurando uma saída para aquele desespero que eu sentia.

Olhando para o chão, lembrei-me de meu vizinho tão gentil, não havia visto Damien desde o nosso almoço, os olhos de um azul gelado permaneciam em minha mente, em outros momentos de minha vida teria corrido dele apenas por me lançar um olhar, era o tipo de homem que eu encontrava em meus livros de romances eróticos. Sorri travessa, eu não era bem uma flor para se cheirar.

Deixando de lado os pensamentos pecaminosos sobre ele, agradeci mentalmente por sua presença, havia sido realmente agradável os momentos que passamos juntos e saber que ele havia vivenciado o mesmo que eu, simplesmente me fazia entender que eu não era a única no mundo a passar por aquela dor.

Eu precisava ser forte.

O câncer de minha avó se intensificou muito rápido, não estava preparada para perdê-la, mas ela sim, sabia que sua hora estava chegando e mesmo que eu dissesse que ela ainda viveria muito tempo, ela sempre fazia questão de me deixar entender que eu precisava agir como adulta e seguir em frente com minha vida.

Me criou para ser forte, como ela, não podia desapontá-la.

Mas o fato era que o luto doía tanto, machucava e sangrava, fazendo-me às vezes chorar até perder o ar.

Adormeci ali mesmo, embrulhada nas cobertas dela, com sua manta que ainda conservava seu cheiro adocicado. Sonhei com ela.

Acordei com o barulho de batidas na porta, coloquei-me de pé em dois segundos, assustada, não esperava ninguém, nem o interfone havia tocado, não que eu tenha escutado.

Olhando pelo olho mágico, pude ver o rosto sério de Damien e seu terno bonito de detetive da polícia. Fiquei alguns segundos admirando a beleza dele através da porta, os cabelos revoltos e negros caíam em alguns cachos rebeldes sobre sua testa, mas estavam parcialmente penteados para o lado, fazendo-o ter um ar ainda mais sedutor.

Após algum tempo, sentindo-me boba, abri a porta, ele sorriu calmamente para mim, encolhi os ombros, estava apenas de pijamas, mais especificamente com aquele do Ursinho Pooh de quando ainda tinha quinze anos.

— Bom dia, Maddie, como está?

A voz dele foi saudosa, agradável, grossa e rouca, firme. Sorri para ele.

— Bom dia, Damien, estou bem, que surpresa você aqui, você vai bem?

Ele acenou, analisando o meu rosto com os olhos, parecia me avaliar para saber se ainda estava inteira, senti-me corar sob seu olhar.

— Está tudo bem comigo, só queria saber como você tem passado, depois de tudo, não vi mais você.

— Ohhh, estou bem, me recuperando, fiquei em casa esses dias, não saí muito, mas está tudo bem, obrigada por se preocupar comigo.

Dona do Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora