— Por tudo nesse mundo, Mysie, se contenha com lorde Chapmont. Por favor. — A voz de Lila ressoou como uma pregação em meus ouvidos.
Eu escutava cada uma das palavras da minha prima, mas meus olhos não encontravam os seus enquanto descíamos os degraus da entrada da casa, indo de encontro aos nossos hóspedes que já estavam de pé na soleira. Sem a responder, eu suspirei e encarei o horizonte e o dia muito claro e quente. Depois do café da manhã, nós duas havíamos sido incumbidas de passear pela charneca com Harold e, para meu total desprazer, Aaron. Então, lá estávamos: Cordelia, animada e disposta; eu, absolutamente tensa. Mal acreditava em tudo que estava acontecendo e já precisava liderar uma excursão por terras que deveria conhecer, mas não conhecia. Além disso, o embate com lorde Chapmont na noite anterior ainda estava vívido em minha mente, ressurgindo mais forte a cada sermão que minha prima me passava sobre ter o abandonado no meio da dança.
No fundo, eu sabia que Lila havia até achado graça no acontecido — podia dizer pelos seus olhos cúmplices e jocosos —, mas isso não a impedia de me repreender como uma criança. Cansada, por um segundo eu pensei que meu cérebro fosse derreter no mármore dos degraus.
— Eu já entendi, Cordelia — murmurei impacientemente.
Com um último olhar afiado para mim, Lila assentiu e sorriu na direção dos hóspedes como se nada estivesse acontecendo. Quando os alcançamos, nós trocamos as reverências típicas com as quais ainda estava me acostumando e meus olhos encontraram os de lorde Chapmont muito rapidamente, mas o bastante para fazer condensar o ar ao nosso redor. Percebendo a tensão, Cordelia logo sugeriu que seguíssemos por uma trilha da charneca e engatou uma conversa descontraída com os lordes.
Depois de alguns minutos de caminhada, todos paramos debaixo de uma das duas grandes árvores do lugar, abrigando-nos um pouco do sol. Debaixo da copa verdejante e cheia, o calor era amenizado, e eu senti que podia chorar de felicidade quando uma brisa refrescou minha pele entre as camadas do vestido amarelo. Lila e Harold logo começaram uma conversa paralela, entrando num flerte sutil enquanto eu e lorde Chapmont continuávamos na mais cautelosa das quietudes.
— Aquilo são lavandas? — Harold perguntou a Lila, apontando para a imensidão arroxeada distante.
— Ah, não! São urzes-roxas. — Ela corrigiu prontamente.
— Céus, tão altas? — Ele surpreendeu-se. — Acho que nunca vi nada assim.
— O solo dessa charneca faz milagres. — Lila curvou os lábios num sorriso gracioso. — Quer ver de perto?
Harold assentiu sem hesitar, oferecendo o braço a Cordelia, que logo o tomou. Mantendo alguma distância entre si, os dois se encararam firmemente por um instante, mas desviaram os olhos assim que minha prima virou para mim e para lorde Chapmont.
— Nos acompanham? — Ela perguntou.
Eu parei e pensei um pouco. Por mais que conhecer o terreno parecesse muito interessante, não era justo que aceitasse o convite. Nunca poderia atrapalhar o momento do casal furtivo diante de mim, mesmo que isso me custasse enfrentar um momento a sós com lorde Chapmont, já que ele também não dava indícios de se interpor no romance quando parecia tão amigo de Harold.
Por fim, eu neguei com a cabeça e emendei uma justificativa sobre estar com muito calor. Lila se voltou para Chapmont que, como esperado, também recusou a oferta.
— Muito obrigado, Lady Lawburn, mas também ficarei aqui sob a sombra por enquanto. Passarei para a senhorita a dura missão de aguentar Harold agora.
Com isso, os dois enamorados se despediram entre resmungos insatisfeitos de Harold pela brincadeira e risadas baixas de Lila, deixando a mim e a lorde Chapmont parados, solitários e desconfortáveis debaixo da árvore. Por um momento, ficamos em tão absoluto silêncio que apenas o assobio do vento rodopiando e farfalhando as folhas dava vida ao ambiente. Na verdade, eu somente queria esquecer que ele estava ao meu lado, mas seu cheiro peculiar, sua altura e algo na sua postura não permitia. Por algum motivo, Aaron Chapmont era uma presença impossível de ser ignorada — e ainda mais quando, de repente, sua voz ecoou meu nome.
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Trago Seu Amor de Volta
RomanceComo nos 𝘱𝘭𝘰𝘵 𝘵𝘸𝘪𝘴𝘵𝘴 dos livros com os quais trabalhava, a jovem revisora Mysie Greaves vê sua vida ser repentinamente revirada numa sequência de eventos catastróficos: primeiro, a morte do pai; logo depois, o término do seu longo e sólido...