Prólogo

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                              Queridos pais,

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                              Queridos pais,

     Sei que vocês notaram que, desde aquele fatídico dia, tenho me comportado de maneira estranha, tenho os tratado com desrespeito em alguns momento, tenho me afastado tanto de vocês quanto dos meus amigos e dos meus afazeres.

     Eu venho dormindo mal, comendo mal, tendo pensamentos que não me abandonam, não me deixam em paz...

     Eu sei que isso não justifica, mas, desde aquele fatídico dia, venho alimentando algumas ideias na minha cabeça. Na verdade, ando amadurecendo essas ideias, ando tornando-as mais palpáveis em minha mente. E isso tem me perturbado bastante.

     Não sei se vocês pensam da mesma forma que eu, mas é difícil a tarefa de acreditar em coisas das quais não se tem provas concretas. Pode soar hipocrisia de nossa parte pensar assim, mas sempre fomos assim, nunca acreditamos naquilo que é revestido de fantasia ou que parece irreal demais para ser verdade... Mas vocês viram aquelas coisas que caíram do céu naquele fatídico dia. Talvez fosse um tipo de prova? Talvez.

     Antes de tudo, eu quero que vocês saibam que eu sempre entendi vocês, mãe e pai, sempre estive ao lado de suas opiniões, de suas ideias, de suas crenças. Eu abracei tudo quando percebi que vocês só tinham a mim, mesmo que já existisse outra filha na vida de vocês. Eu sei que vocês projetaram suas expectativas em mim quando notaram que eu estava aberta à ouvi-los.

     Eu tentei ser a filha que vocês sempre quiseram e eu gostava disso. Eu gostava de ser um exemplo, de ser a filha do bem, de estar ao lado da verdade. Eu estive ao lado de vocês porque vi como foi sofrido e desgastante lidar com uma pessoa mentalmente doente, que precisava de cuidados frequentes e que nunca reconheceu isso.

     Eu sinto muito por terem lidado com isso por tantos anos. Vocês são pessoas maravilhosas, sempre nos deram tudo do bom e do melhor e não mereciam ter vivenciado e escutado tantas coisas horríveis da pessoa da qual vocês tanto protegiam da loucura.

     Mas, em algum momento, vocês já pararam para se perguntar que tipo de loucura é essa? Que tipo de coisas ela falava para nós? O que de fato ela estava tentando nos dizer? Não, nunca fizemos isso, nunca a ouvimos porque não se escuta os tolos e ignorantes (não era isso que a mamãe dizia?). Nunca escutamos a bisa e nunca escutamos minha irmã. Nunca demos ouvidos às loucas...

     Fato é que eu menti pra vocês, menti sobre muitas coisas nos últimos tempos, mas isso não vem ao caso agora, já é tarde demais para explicações porque agora eu decidi dar ouvidos às loucas e confrontar a verdade da qual nunca acreditamos.

     Eu não sei, mas espero estar errada sobre tudo isso e realmente espero que esta carta não chegue até vocês, pois, se estiverem lendo, é porque conheci a verdade que nunca acreditei, mas que de fato existe.


                                                                                                 Com amor, Kristen.

FEBRE ESCARLATE | LokiOnde histórias criam vida. Descubra agora