Capítulo 1 • O Lago

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As folhas passam cada vez mais rápido pela janela do carro conforme meu pai avança no último trecho do percurso até Límni, uma pequena cidadezinha do interior do Pará. Está ventando agora, e observo o vento frio expulsando as folhas de seu local original, formando uma espécie de tapete que, colorido em diversos tons de âmbar, se faz cada dia mais espesso sobre a terra escura.

— Falta muito pra chegar? — pergunto a qualquer um que possa responder.

Tiro os olhos da paisagem através do vidro e observo enquanto meu pai procura no GPS do carro a informação acerca da distância que ainda resta. Nunca gostei de viagens longas. Depois de alguns poucos minutos minhas pernas parecem querer travar no formato do banco do passageiro e o balançar do veículo começa a me deixar enjoada.

— Mais trinta quilômetros e chegaremos na cidade — meu pai avisa.

Então é isto. Mais algumas marcações a serem percorridas pelo ponteiro do relógio separam meu pai e sua empresa de seu maior e mais novo projeto: o Panorama Natural. O PPN (Projeto Panorama Natural), como meu pai se refere, vai ser um novo conjunto de casas feito pela construtora da minha família, perto da natureza para que possam atrair aqueles que buscam paz e sossego para fugir da vida nas grandes cidades. Adaga S.A., construindo sonhos.

Ao menos, agora que a empresa começava a dar certo, iríamos parar de nos mudar. Nos últimos anos, não consegui sequer finalizar um ano letivo completo em uma mesma escola, pois normalmente acompanhava meus pais em cada uma das viagens de negócios. Isso dificultava até mesmo encontrar amigos. Um pequeno grupo do pré-vestibular ainda mandava mensagem de vez em quando, mas eu sabia que logo iriam parar, como sempre acontecia. Agora estávamos nos estabelecendo em Portel, onde firmaram a sede da companhia, a qual ficava razoavelmente próxima a Límni, a cidade onde iria acontecer o projeto, e para onde estávamos viajando agora, para uma visita.

— Finalmente estamos chegando. Tantos dias viajando em um carro acabam com qualquer um — diz mamãe, arrumando o coque cacheado acima da cabeça.

— Foram só umas cinco horas, querida. — Ele pega a mão dela, anteriormente apoiada na coxa, e dá um beijo.

— Sério, só isso? — ela fala, e ri. — Matt até dormiu.

Ela olha pra trás buscando meu irmão mais velho, que, conforme ela disse, dorme como um bebê do meu lado esquerdo, com a cabeça encostada na mochila preta que ele leva em toda viagem. Seu nome completo era Matteo, mas ele não gostava, então pedia para o chamarmos apenas de Matt, americanizado e tudo.

Noto que ele ainda está com os fones no ouvido, provavelmente tocando alguma de suas melodias autorais que tanto tenta aperfeiçoar. Eu também participei de aulas de música, mas apesar de conseguir tocar alguns instrumentos, principalmente de sopro, razoavelmente bem, a criatividade e conhecimento necessários para, de fato, criar uma música do zero ficou toda para ele. Seu talento para a música é algo a se invejar, e mesmo assim parece que nunca está satisfeito com o próprio trabalho. Talvez justamente por isso se torne tão bom no fim.

Dou um leve empurrão em seu braço na intenção de tirá-lo do mundo dos sonhos. Infelizmente, o faço no momento em que meu pai passa sobre um quebra-molas, e a junção dos movimentos faz com que Matt bata a cabeça na porta do carro. Solto uma risada. Ao menos o baque o faz acordar.

— Ai... Ani!!

— Não foi por querer, juro! — respondo, ainda rindo.

— Arthur! Tome mais cuidado.

— A placa estava coberta por folhas, só vi quando era tarde demais pra frear — papai fala, enquanto levanta uma das mãos em sinal de arrependimento.

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