— Que diabos você estava fazendo sozinha, num lugar desses, a essa hora da noite? — pergunta taxista velho e de cabelo grisalho, me olhando pelo retrovisor enquanto acelera pela estrada em direção ao hospital da cidade.
Digo a primeira coisa que me vêm à cabeça:
— Foi um desafio, sabe. Tinha que ficar lá meia hora sozinha.
— Esses adolescentes de hoje em dia... Vocês são estranhos, sabiam?
A viagem foi lenta e silenciosa. Fiquei observando o pequeno frasco, girando-o na mão, repassando na cabeça o que vi e ouvi na floresta.
Quem era aquela mulher do hospital? Como pulou da janela comigo sem se machucar? Como me levou tão rápido à floresta?
Como aquelas pessoas modificavam os troncos de árvores com um toque da mão?
Quem eram aquelas cinco mulheres no lago? E o que tem naquele lago?
Muitas perguntas perpassam minha cabeça, e nenhuma resposta.
Finalmente, chego no hospital. Pago o taxista com o dinheiro pra emergências que guardo na capinha do celular, e entro no edifício. Não lembro em que quarto eu deveria estar, então vou até a balconista e pergunto onde seria o quarto de "Ania Reese", e me informam que seria o quarto duzentos e seis, no segundo andar, mas que a paciente sumiu de repente na noite anterior, e agora a família estava no quarto decidindo o que fazer.
Subo pelo elevador e procuro o número correto. Quando o acho, abro a porta e entro no cômodo. Atrás da porta, ouço um burburinho de algumas vozes.
— Ania! — meu pai exclama ao me dar um abraço, e me cerca junto com minha mãe e meu irmão. — Por onde você andou? Procuramos você a noite inteira. E que roupas são essas?
Olho para mim, as roupas que me deram realmente não são muito boas para passar despercebida. Talvez, se eu ignorar a pergunta, eles ignorem a falta de resposta.
— Ninguém nem viu você sair do quarto, como fez isso? — perguntou mamãe.
— Ah. Não sei ao certo, não foi de propósito — respondo, feliz em deixar o assunto das roupas ser esquecido.
— E o que você foi fazer? — Ouço Matt perguntar.
— Bom... procurar vocês. Não vi vocês no corredor e desci, procurei vocês pelos arredores do prédio.
— Todo esse tempo?
— Depois, como eu não almocei, me deu fome, então fui até um restaurante comer algo depois que não encontrei vocês. Comida de hospital é horrível. A propósito, gastei meu dinheiro de emergências.
— E o resto da noite? Por que não voltou pra cá? — meu pai pergunta.
— Eu... Hum... — Tento pensar em algo que possa justificar tudo sem preocupá-los, mas não consigo. — Eu meio que desmaiei de novo no restaurante, e a dona de lá me colocou em um quarto no fundo do restaurante, e fiquei lá até de manhã.
— Meu deus! E como você está se sentindo agora? — mamãe pergunta. — Os médicos não conseguiram explicar o que aconteceu com você. Estava piorando rápido, ninguém sabia o motivo. — Ela acaricia meu rosto.
— Bem, me sinto melhor agora. Não se preocupem.
— Ah! Você voltou! Por acaso está louca de sair naquele estado? — diz uma mulher pequena, de óculos quadrados, que acaba de entrar pela porta. — Que bom, estava preocupada. Me chamo Lurdes, sou sua enfermeira. Pode deitar de volta na cama, por favor?
— Não precisa. Não estou mais sentindo nada.
Ela me olha com desconfiança, percorrendo meu corpo em busca de sinais de abatimento.
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Agathon
Fantastik[Obra VENCEDORA no WATTYS 2022] Ao acidentalmente conectar sua alma à floresta, Ania é obrigada a viver em um mundo oculto cheio de magia. Enquanto tenta impedir que os próprios pais derrubem a mata - e consequentemente a matem no processo -, ela de...