Capítulo 2 • A Admissão

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Acordo por volta de cinco ou seis da tarde, ou ao menos é o que imagino, percebendo os tons arroxeados e rosados do pôr do sol através do vidro de uma janela levemente suja. Mas não reconheço o lugar. Onde estou...? Meu corpo dói, e me sinto pesada. Tento me sentar na cama.

— Ótimo, você acordou — diz uma mulher de cabelo longo e loiro, enquanto me empurra de volta na cama. Ela não me é familiar, e com certeza não aparenta querer se dar bem comigo, pela cara fechada e o olhar nada amigável que lança para mim. — Fique parada até eu tirar essas coisas do seu braço.

— Que coisas? — Tento olhar ao redor, e então percebo onde estou. Um quarto de hospital. As "coisas" a que ela se referiu são as agulhas do soro. É quando me lembro de ter passado mal no restaurante. Imagino que eu tenha desmaiado. Na verdade, com certeza desmaiei.

— Quem é você?

— Vamos.

A mulher me arrasta pra fora da cama de hospital, colocando meu braço ao redor do seu pescoço e segurando minha mão com um braço e minha cintura com o outro. O movimento faz minha cabeça latejar e sinto que vou vomitar. Pelo vestuário, não acho que essa mulher seja enfermeira ou médica desse hospital, mas a dor no corpo e a febre que aparentemente adquiri me impedem de lutar contra seu domínio.

— O que... — "Você está fazendo?", tento completar, mas sou interrompida quando meu almoço incompleto decide sair pela minha boca. Tusso, tentando recuperar a respiração.

— Que nojo! — a mulher exclama, enquanto revira os olhos. — Vou te levar logo antes que você se desfaça inteira.

Então a mulher abre a janela e pula comigo até o chão. Do jeito que estou, não consegui nem gritar. Caímos no chão com uma leveza inesperada. Ela me leva apoiada em si por todo o caminho atrás do hospital, com rumo a algum lugar que desconheço. Após caminhar algum tempo, um brilho cega minha visão, e, de repente, a pessoa que me carrega acelera a uma velocidade que nunca achei ser possível para um humano usando apenas as pernas. O vento bate forte contra minha pele, parecendo lâminas, jogando meu cabelo para trás em mechas que formam ondas, e paro de sentir o chão sob os pés.

Sou forçada a aguentar as lufadas de ar batendo em meu rosto conforme nos movimentamos, tão forte que parece um objeto sólido contra meu corpo fragilizado, meus cílios parecendo congelar sob o frio da noite. Mal consigo abrir os olhos.

— Estamos chegando.

O vento vai ficando mais fraco, então provavelmente estamos desacelerando. Certo, estou mesmo sendo sequestrada, penso. Preciso me mexer, mas meu corpo não parece se importar. Finalmente, sinto novamente o chão. A mulher lentamente me posiciona deitada no que eu penso ser uma grama úmida e se afasta.

Sinto outra brisa me envolver. Meu corpo já não sente dor, e começo a respirar melhor. A náusea para, e minha visão antes turva começa a parecer mais translúcida, até que volta a seu estado normal. A febre se esvai sem deixar nenhum resquício de que um dia abateu meu corpo.

Surpresa, fico sem palavras e sem ação. Não sei se grito, se agradeço, se corro. Mas o que exatamente aconteceu? Como é possível uma recuperação tão rápida a esse ponto?

— Vai ficar deitada aí pra sempre? Você já melhorou, não é? — a mulher grita para mim, após alguns segundos em que fiquei imóvel encarando as nuvens, sem saber como reagir.

Com o pensamento de volta à realidade, lentamente me levanto do chão, ficando sentada e apoiada em um dos braços, enquanto uso o outro para tirar as mechas de cabelo do rosto e posicioná-las atrás da orelha, e percebo que ainda estou vestindo uma camisola simples de hospital. Quando olho em volta, percebo onde estou: o lago. O mesmo lago em que tinha ido quando fora visitar o terreno que vai ser utilizado pela empresa de papai. Ao pôr do sol, é ainda mais incrível: os tons rosados do céu refletidos na água e as sombras crescentes dos picos das árvores desenhadas sobre o chão dão ao lugar um aspecto de pura magia e uma beleza única.

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