Pretty Litlle Lies

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Naquela noite tempestuosa, o mundo parecia se derramar em lágrimas ácidas e sofridas, que banhavam toda aquela região do sudoeste da Inglaterra em um dilúvio barulhento e violento. Podia ouvir as árvores balançarem e as janelas tremerem com a ventania causada pela chuva que castigava o telhado da residência fantasmagórica, gélida e cinzenta que amargurava até o mais doce e colorido unicórnio

Nossa protagonista sentia-se assim, como um unicórnio que havia perdido suas cores e detivera de seu sangue extraído por algum ser maligno que buscava furiosamente pela vida eterna

A casa repleta de tudo o que fosse considerado de mais luxuoso no mundo bruxo, era vista apenas como uma mera decoração que não mudaria em nada a própria vida. Sentia-se enjoada e entediada sempre que observava cada adereço inútil que sua mãe havia feito questão de colocar pelos arredores da mansão

Não achava necessário todo aquele alvoroço, gostava da vida tranquila que levava na Noruega, podia jogar quadribol o quanto quisesse no quintal da casa de campo que sua família morava — Que particularmente, não era pequena —, era extremamente popular e adorada em Durmstrang — tanto que detinha de vários admiradores e admiradoras —, podia passar dias afinco por debaixo das capas grossas dos livros sobre Artes das Trevas que a escola detinha sem precisar se preocupar em estar violando alguma lei ou ser alcançada pelo senso de moral insuportável que alguns rebeldes sem causa detinham, era uma vida simples e sem muitas preocupações, apreciava isto

Isto até sua mãe surgir um dia, com a ideia maluca de que já estava na hora de retornar à Inglaterra, já fazia pouco mais de três meses que a matriarca da família havia aparecido durante uma tarde chuvosa de sábado com uma carta que detinha do selo das Sagradas Vinte e Oito Famílias puro-sangue, que a convocavam para uma espécie de " reunião ". Na época a adolescente não sabia muito bem sobre o porquê de ter de voltar ao seu país de origem com tanta pressa— afinal, morava na Noruega desde que tinha quatro anos — e não se atrevia a perguntar diretamente para a própria mãe, se ela havia o dito então teriam de obedecer sem pestanejar

Tecnicamente, as famílias puro-sangue deveriam ser comandadas por um homem, a sua não era diferente... Pelo menos no papel, afinal seu pai parecia sentir tanto pavor da mulher com que era casado, quanto a filha sentia daquele sorriso ameaçador e dos beliscões deferidos em sua pele pálida

Todas as assinaturas, decisões, tratados e festas que sua família dava eram feitos e organizados pela matriarca, apenas seu pai que assinava embaixo ou tomava a frente como o autor dos atos. Era simples, pratico e funcionava de uma maneira excelente

A adolescente não ligava nem um pouco para isto, era assim que o mundo funcionava. Sua mãe havia lhe criado com este ensinamento desde pequena, portanto em sua pequena cabeça não havia nada de errado com aquela ideologia, não percebia o quão injusta era toda aquela burocracia

E isto nos levava até o ponto atual, se dissesse para a sua "eu" do passado que a mensagem urgente das famílias sagradas envolvia um casamento arranjado com o herdeiro de uma das maiores famílias puro-sangue que já havia existido em toda a Inglaterra, ela provavelmente teria tido um tempo para raciocinar a ideia, absorvê-la para aí então surtar em seis línguas diferentes

Mas isto era apenas uma suposição, a verdadeira situação de Ochako não havia lhe dado sequer um tempo para respirar. Afinal: havia recebido a notícia á apenas dois dias, de uma maneira completamente desleixada e rápida se considerasse o fato de que havia passado os últimos meses completamente isolada do mundo exterior, á ordens de sua mãe

Sua vassoura havia sido confiscada, o clima da Inglaterra era completamente desequilibrado se comparado ao da Noruega — fortes chuvas assolavam todo o país desde que haviam chegado, coerentes com o humor duvidoso da morena que parecia querer cruciar qualquer um que lhe perturbasse — várias empregadas entravam e saíam de seu quarto todos os dias, com regras malucas e roupas novas que não sabia para o que serviam, a constante falta dos pais em casa e sem contar com o fato de que haviam confiscado sua varinha ! Quem se atrevia á confiscar o objeto mais importante na vida de um bruxo sem que ao menos lhe desse uma explicação para o castigo ?

Tudo aquilo lhe deixava atordoada e enjoada, com uma vontade tremenda de chorar que era constantemente ignorada pelo bem da própria saúde mental

" Damas não podem chorar ! É uma demonstração imperdoável de fraqueza ! " A voz de sua mãe lhe aparecia na mente, a assombrando com o tom esganiçado de seus berros sem sentido, sempre murmurando em seus ouvidos enquanto parecia lhe levar á insanidade constantemente

E agora ela estava ali, sentada na própria penteadeira á mais de quinze minutos, encarando o próprio reflexo no espelho enquanto seus pensamentos tão caóticos quanto a tempestade que castigava a terra do lado de fora de sua janela. Apenas esperando que seu pai viesse buscá-la para finalmente apresentá-la á todas as vinte e oito famílias puro-sangue que esperavam no salão de festas da casa

O baile de hoje seria a sua apresentação á quem seria seu noivo, se tudo ocorresse bem, teria de precisar de apenas mais dois ou três encontros entre eles e já poderia oficializar todo o casamento — este que só poderia ser consumado depois que completassem dezoito anos e tivessem terminado os estudos em Hogwarts — dando inicio assim a mais uma das tradições antiquadas que submetia-se em prol do nome de sua família

Em seu interior, a garota apenas pedia á Merlin que lhe mandasse alguém que se restringia á apenas gritos de represália. Sabia que não poderia rejeitar o pedido de sua família, então tudo o que lhe restava eram as presses á uma figura mitológica que não acreditava, pedindo silenciosamente para que lhe mandassem um marido aceitável

— Ochako ? Venha já aqui, querida ! — Seu pai escancarou a porta, sem se preocupar realmente em estar invadindo sua privacidade, o tom rígido que usava contrastava com o adjetivo final — Sua mãe lhe espera lá embaixo, sabe como ela fica quando contrariada ...

Atrás dele surgiram duas camareiras, que correram para fechar as janelas do quarto que haviam se escancarado com a chuva. Uma delas veio em sua direção, ajudando a adolescente a ajeitar o próprio vestido de um tom escuro de verde, prendendo a máscara preta com algumas penas no rosto angelical e penteando um pouco os seus fios castanhos, sedosos e longos que desciam até a metade das costas, mesmo que estivessem presos em um rabo de cavalo adornado por presilhas prateadas

Ajeitando a franja e dando uma última olhada na chuva contida do lado de fora da casa, ela engoliu o choro e se virou para o próprio pai

— Como o senhor quiser, papai — Sorriu docemente, uma pena todo aquele carinho não ter chegado aos olhos

Está era a situação que ela passava em julho de 1976, Ochako Uraraka, uma bruxa puro sangue com um talento excepcional para a magia e para o voo com vassoura que nunca havia saído das garras da mãe, atormentada em uma prisão silenciosa que parecia sufocar tudo o que sentia no próprio peito

Ochako Uraraka de apenas dezesseis anos de idade estava tendo o próprio destino traçado ao de alguém que não conhecia

Ochako Uraraka, uma criança que precisava orar á uma figura que não acreditava para que não recebesse um destino ruim, em puro desespero sem que ao menos se desse conta deste fato tão melancólico

Diante de tudo aquilo, ela apenas pode sorrir, parando por um segundo no topo da escadaria gigantesca de sua casa, o braço enlaçado ao do próprio pai enquanto desciam degrau por degrau de uma maneira lenta, sentindo os olhares lhe queimarem a nuca enquanto se preocupava em não se desalinhar com o brasão da família, esculpido no topo da escadaria de mármore

Quando por fim chegou ao andar térreo, pode apenas reparar em uma cabeleira cacheada em um tom peculiar de verde, que balançava de um lado para o outro de uma forma que mal podia reparar em seu rosto,
Por fim, todo o seu esforço para o identificar foi perdido assim que sua mãe lhe puxará pelo braço sem delicadeza alguma para que voltasse para o lado do progenitor, quando por fim se ajeitara o patriarca da família dissera em um tom de voz bastante elevado ao seu lado :

" Eu aqui e agora Declaro o início do baile de máscaras de quinze de julho de mil novecentos e setenta e seis !! "

Em breve...

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⏰ Última atualização: Nov 06, 2021 ⏰

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