- Incrível! Meus parabéns, que esplêndida capacidade observadora possui. Agora respondendo a sua pergunta. Sabe, nunca havia parado para refletir a respeito. Por isso é meio assustador ser colocado nessa posição, onde deparo-me com a realidade em que tenho de interrogar todos meus eus ou seja, a mim mesmo. Nenhuma mentira é tão cruel e tão amarga como aquela que contamos à nós mesmos. Para além do aspecto científico que interessou-me bastante após algum tempo de prática, devem existir outros.
- De que factor científico refere-se? E quais outros aspectos devem existir?
- Durante as suas observações, já tivera observado algo relacionado a glândula pineal?
- Não, desconheço tal assunto.
- Tudo bem, eu explico. Trata-se de uma pequena glândula endócrina em forma de pinha localizada na parte central do cérebro, é muito comum a sua associação ao terceiro olho, cuja suas manifestações são mais relacionadas à intuição, à conexão da dimensão espiritual, ao inconsciente, ou metafísico. Ou seja, permite-nos compreender muito além da matéria, seria algo como o olho da alma. Espero que tenha conseguido explicar de forma a facilitar a sua compreensão do assunto.
- Embora no início deixou-me confusa, no entanto, quando referiu-se ao terceiro olho as coisas ficaram menos turvas em minha cabeça. Pois, já tinha algum conhecimento sobre o assunto, cujo sempre achei muito interessante.
- Fico contente por saber!
- Ainda falta responder-me quanto aos outros factores, Blond!
- Posso responder-lá de olhos fechados?
- Tudo bem, sem problema algum, se o irá ajudar.
- Sabe, Eunoia! Nenhum lugar é tão mágico como aqui. A ausência de luz deixa tudo bem mais claro, talvez porque a luz após um tempo cega. Nenhuma música é tão gritante, mas no entanto tão embaladora como essa que ecoa dentro de mim. Aqui, eu não sou branco e tu não és preta, nossos corpos são translúcidos para que possamos enxergar o quanto somos parecidos.
Aqui não existem religiões que dividem, porque existem uma infinidade de céus e consequentemente de infernos.
Aqui o dinheiro perdeu o seu valor, porque nada ele pode comprar.
E quanto às guerras, essas já não fazem mais sentido, pois nós somos o nosso único inimigo.
Vejo cores se acariciando e provando umas das outras.
Talvez tenha encontrado a razão para o motivo.
Talvez seja porque aqui eu já não preciso de temer a minha sombra, já não sinto-me como se estivesse carregando uma cruz. E não é porque ela tivera desaparecido, mas sim porque aqui só existe espaço para existência apenas de um de nós, permitindo assim que eu possa fundir-me nela, e ela em mim.
Aqui finalmente somos apenas um, sem fardos, sem julgamentos, porque aqui torna-se tão claro quanto ao facto de sermos o mesmo, o todo fragmentado em tudo.
