Blond, sempre foi fascinado pelo conto de Peter Pan, pois jamais queria ser adulto algum dia, para ele era demasiado intrigante cogitar tamanha realidade.
Seu pai certa vez havia dito em um tom sério e com um semblante reflexivo:
- "Tudo aquilo que sonhas ou já foi, ou se tornará realidade algum dia."
- "Mas como assim pai?" - Pergunta ele sedento pela curiosidade.
O seu sábio pai olhando fixamente para os seus olhos levou a sua mão em direção à cabeça, fazendo um gesto peculiar, dizendo-lhe:
- "Filho, nada é tão nosso quanto os nossos sonhos."
Anos se passaram e com eles algumas estações, tudo em torno mudava. Recusava-se em deixar de encontrar um significado sobre o pensamento que o seu pai certa vez havia semeado em si. Blond, acredita que deve-se ao facto de que mesmo depois de tanto tempo ele ainda não havia compreendido tal pensamento na sua forma plena, não ao ponto de poder tocá-lo. Sabia que ele precisava disso para que assim pudesse estar em conformidade consigo.
Pois bem, ele já havia se tornado um sonhador nato, meio que isso era a sua bússola.
Já adulto, foi recrutado para o exército face ao paradigma político social que vigorava naquele período, muitos jovens haviam sido recrutados, devido à este acontecimento foi obrigado a interromper os seus estudos em arte, deixando de pintar os devaneios em telas, para passar a pintá-los nos céus em sua aeronave. Serviu a nação durante dez anos, e mesmo após as guerras cessarem, ainda prestou muitas tarefas em exercício do exército.
Pouco depois, havia ficado gravemente doente fruto de uma infeção parasitária, o médico lendo o seu diagnóstico havia feito menção sobre a causa, dizendo que tivera sido derivado da ingestão de um parasita, acreditando que tivesse ocorrido em campo de batalha, fruto das condições sanitárias hostis e pouco higiénicas que os campos encontravam-se.
Durante o seu período de internamento hospitalar recorda-se que tivera tido sonhos aleatórios, que pareciam mais como delírios na altura, sendo esses constantes. Alguns deles eram com o seu falecido pai, e em outras ocasiões tivera sonhado com uma mulher dançando em um bar, mas nem tudo era tão nítido durante os sonhos, como por exemplo, a sua aparência. Algumas vezes ela se parecia com uma deusa de alguma mitologia africana, egípcia, ou até mesmo grega, ocorrendo vezes em que não se parecia nem com uma, nem com outra, era como um híbrido, uma parte caos e a outra pura poesia.
E relativamente ao lugar, lembra-se de estar em um lugar branco como uma tela, haviam outras pessoas ao redor que eram pinceladas com outras cores, porém, ela era incolor, translúcida, como um prisma ela refletia todas as cores, não apenas refletia, como atraía para si todas as outras à sua volta.
Quanto ao espaço, parecia ser em um campo de batalha. Sim! O bar parecia estar em um campo de batalha. Blond já não recorda tão lucidamente. Pois, tal como dizia, ele havia ficado gravemente doente ao ponto de ser afastado temporariamente do exercício das suas funções, e foi durante este capítulo mais ameno da sua vida que decidiu então redirecionar a sua bússola.
Já em um estado de saúde bem mais estável, decidiu então fazer uma viagem de carro pelas províncias ao redor do país, e é exatamente essa viagem que trará consigo peças importantes para compreensão do puzzle. Na verdade, pouco depois percebeu que se tratava de uma viagem dentro de outra viagem, não só essa como todas as outras que já tivera passado, e as que ainda terá de passar. - Talvez seja isso o que a tratámos por realidade.
