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- Eu tinha quase a certeza de que tratava-se da tua pessoa.- Tudo bem, eu irei explicar-te. Sente-se por favor!
- Não o posso fazer, Senhor, queira desculpar-me! - Eunoia não percebia o porquê desse espanto todo em relação à ela.
- Não precisa preocupar-se relativamente ao seu chefe, sei que é isto que receia. Quanto à isso, fique descansada, eu irei argumentar em sua defesa.
- Não trata-se apenas disso, Senhor...
- Então, qual outro motivo a importuna, Senhora?
- O outro motivo trata-se da minha disposição em sentar-me à sua mesa!
- Mas, pensei que havia sido atraída pelo desejo da curiosidade. Ou seja, que estivesse interessada em saber a razão do espanto, no momento em que a reconheci.
- Não senhor, é exatamente o contrário! Pois pensando melhor, percebi do que realmente tratava-se esse espanto e esse interesse todo em torno da minha pessoa. Não és diferente do resto da clientela, tu podes pensar que sim, mas a verdade é que trata-se apenas de mais um entre muitos, e não " o " entre muitos.
Blond manteu-se em silêncio depois do comentário de Eunoia.
- Mais alguma coisa, Senhor? Tenho de voltar ao trabalho, antes que isso acabe por se tornar realmente em um problema pelos olhos gulosos do meu patrão. A verdade é que eu estava a correr mais riscos recusando o seu pedido.
Após a sua abordagem, Blond sentiu-se desolado, e também frustrado, porque era óbvio que se encontrava embriagado pela fragância da curiosidade que ela exalava.
Com intuito de reverter e controlar a situação, recorreu às suas técnicas de dissuasão que aprendera durante as suas vivências no exército.
- Penso que é bem mais sensato aceitares o meu pedido, do que recusá-lo, tendo em conta a tua condição em posição à minha! - Reforça Blond.
- O que quer dizer com isso, Senhor? Melhor, o que pretende com isso?! - Eunoia sabia o que ele pretendia com aquela introdução.
- Peço-a que acompanhe o meu raciocínio lógico. Certamente o seu patrão irá ficar bem mais descontente, caso se aperceba que eu fui mal atendido, e que encontro-me descontente, certo? E consequentemente, tu ficarás descontente, caso sejas despedida, certo?! Embora pareça menos incerto, mas no final existe uma enorme margem que se inclina para a probabilidade em que o seu patrão também acabe infeliz, por ter perdido uma funcionária tão importante para o funcionamento do seu estabelecimento, certo? Mas certamente, não queremos que isso aconteça, e tu sabes como reverter essa cadeia de acontecimentos.
Em seguida, toda atmosfera fora resumida em silêncio, Blond a observava, expectante, pois embora havia um silêncio que pairava sobre eles a olho nu, o seu íntimo tivera sido submerso por ondas de ansiedade, a sua postura militar foi cúmplice do seu jogo de chantagem, mas seus olhos denunciavam toda vez que encarava a alegórica presença de Eunoia. A voz de Blond era covarde, assim como seus medos, mas seus olhos, esses gritavam, chamando por ela, suplicando para ela ficar.
- Maldito homem! Como ele tem a coragem de chantagear-me de tal maneira? - murmura Eunoia, enquanto refletia sobre qual decisão tomar. Não faltou-lhe força de vontade para recusar o convite de adesão ao jogo mesquinho de Blond, mas faltou-lhe coragem para sair desse jogo que a vida havia imposto sobre ela, cujo o convite não lembra-se de ter recebido.
Essa decisão não afetaria apenas a vida de Eunoia, mas também a da sua mãe e dos seus irmãos mais novos. Como a vida é paradoxal, mesmo quando sentia-se incapacitada de poder fazer uma escolha, ela estava justamente a fazer uma. É que por mais que ela tentasse pintar a tela da sua vida, ela ainda permanecia em branco.
- Talvez seja porque em um mundo branco, o preto seria apenas uma mancha, perderia a sua beleza.
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