Capítulo 03

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Emily está com os olhos fechados e com um teste de gravidez na mão.

Ryan tinha quatro anos agora e há 10 meses Emily e Aaron conversaram sobre ter outro filho. Ela não sabe porque pensou que seria fácil, deve ser porque Ryan veio assim, com facilidade.

Esse é seu ritual desde então, fechar os olhos enquanto segura o teste nas mãos, torcendo para que seja o que deseja. Que seja positivo.

Quando era negativo, ela se perguntava brevemente por que eles estavam tentando, eles estavam bem só com um filho, estavam feliz. Somente os três. Mas sempre que era negativo, ela sentia como se estivesse perdendo algo, algo vital. Quando saía do banheiro ficava calada, distante, querendo ficar apenas com seu filho, lamentar junto com ele a perda de um irmão ou irmã que não foi concebido.

Aaron se sentia culpado, pois foi ele que tocou no assunto, foi ele quem perguntou se ela gostaria de ter mais um ou três. Ela riu e disse que como sempre foi filha única, solitária em uma casa enorme, que sempre sonhou com uma família grande, que não queria que Ryan sofresse o mesmo que ela.

Nessa mesma noite eles começaram a tentar, sabiam que não conseguiriam naquele momento, pois ela tinha que parar com o uso das pílulas, mas também não esperavam que demorasse mais de 4 meses. Muito menos 10.

Emily apertou os olhos com mais forças. Ela não queria olhar. Não queria olhar e ver que era mais outra tentativa falha.

Ela não queria. Não queria.

Mas precisava.

Então ela abriu. Fechou novamente porque não acreditou no que seus olhos mostraram.

Dois tracinhos.

Sua primeira reação foi congelar, entorpecida por uma alegria arrasadora. E a outra foi gritar.

Aaron adentrou segundos depois, ofegante e sonolento, a preocupação aparente em seu rosto sem cor.

— Emily, — disse alarmado — você está bem?

Ela olha para ele, eufórica, lágrimas de alegrias vazando dos olhos. Ela mostrou o teste.

— Deu positivo, Aaron.

Ele também estacou. O cérebro ainda não totalmente acordado e não assimilando tudo como deveria.

Então sorriu.

— Está dizendo que eu estou grávida.

Ela praticamente pulou em Aaron e o abraçou forte.

— Pode ser falso positivo, certo? — o modo como a voz dela falhou fez o coração dele doer.

— Não vamos pensar nisso agora.

— Eu não devia ficar tão feliz ainda.

— É claro que pode ficar feliz. Você sabe que falso negativo é mais provável que aconteça, mas um falso positivo, querida dificilmente acontece. — Ele beija a testa dela — Vou verificar se Ryan acordou com seus gritos de euforia. — Rir quando se afasta e ver a carranca dela.

Aaron encontra Ryan brincando no chão de seu quarto, provavelmente acordado muito antes. Seu filho sempre foi uma criança matutina. Ele estava fazendo sons de luta enquanto fazia dois soldados de brinquedos brigarem. Olhou na direção da porta e o viu.

— Oi, papai.

— Oi, amigão. Faz quanto tempo que está acordado?

O menino dá de ombro.

PertubaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora