XIX

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17 de novembro de 2020

Bianca

Se eu dissesse que eu não estou nervosa eu estaria mentindo, nós já tínhamos acordado e agora estamos tomando café da manhã, mas eu sei que ela quer conversar e eu vou contar tudo para ela.

- Um beijo pelos seus pensamentos. -
Rafaella diz quando percebe que eu estou totalmente aérea.

- Eu quero meu beijo primeiro. - Eu falo e ela vem até mim me dando um selinho e sentando no meu colo. - Tô nervosa com a nossa conversa.

- Fica calma, meu amor, se você quiser a gente pode esperar mais um pouco.

- NÃO, eu quero contar, confio em você. - Ela sorri e me da outro selinho se levantando do meu colo e indo até a sala.

Eu a sigo sem perder a oportunidade de olhar a bunda dela. Ela se senta no sofá e me chama para sentar ao lado dela. Me sento e Rafaella segura minhas mãos em uma forma, acredito eu, de me passar confiança.

- Eu sei que tem muita coisa e você pode falar no seu tempo, tudo bem?

- Tudo, só espera eu respirar um pouco e eu começo.

- Claro.

Respirei fundo e comecei

- Eu me descobri lésbica no ensino fundamental, e na primeira vez que fiquei com uma menina fui fotografada por um dos seus colegas de classe que ameaçou contar para os meus pais, que são extremamente homofóbicos. O menino só me deu uma condição, ou eu fazia sexo com ele ou ele contava. Como eu achava que ia morrer se contasse pros meus pais eu aceitei e no dia combinado fui até a casa do menino, eu não sabia o que estava fazendo então sem nenhum tipo de proteção eu fiz o que o ele pediu e voltei pra casa. Começei a passar mal e com 15 anos descobri que estava grávida, no mesmo dia em que meu pai recebeu uma mensagem anônima com a minha foto beijando a menina. Meus pais surtaram e eu perdi meu bebê por estresse, e eu me culpo por isso até hoje. Bom, depois que meus pais viram a foto eles se tornaram insuportáveis e começaram a controlar a minha vida de todas as formas. Eu tive que começar a me esforçar na escola, e a única coisa que eu pude escolher foi a faculdade. Todos os meus namoros foram para negócios do meus pai. Diogo era gay e o pai também não aceitava, Bruno era filho de uma grande empresário e Nando pagava o meu pai pra namorar comigo. No ensino médio eu acabei ficando com algumas meninas escondido e uma delas foi Bárbara. Quando eu consegui juntar meu próprio dinheiro e parar de receber ordens dos meus pais, comecei a voltar a confiar nas pessoas e conheci Daniel, que também trabalhava com astronomia e no começo era incrível, até que quando eu disse que tinha conseguido o que mais queria na vida, ele terminou comigo afirmando que não ia perder tempo com alguém que ia ficar ano fora. Eu ainda tenho medo de me assumir, por isso fico com meninos apesar de não gostar.

A Rafaella não reagia e aquilo já estava me assustando, eu já sabia que alguma coisa assim podia acontecer, é obvio que ela ia ficar com nojo de você Bianca, não é uma coisa muito difícil de prever.

Eu realmente pensei que a Rafaella ia ser diferente, achei que ela não fosse me julgar, mas pelo jeito eu pensei errado. Eu realmente devia ter contado antes, assim ela não precisaria ter tido tanto contato comigo se não quisesse.

Rafaella

Eu estava simplesmente em choque depois do que ela me contou, eu não tinha reação, além de estar me sentindo uma pessoa horrível por ter pressionado ela a contar isso.

Eu já sentia meu rosto banhado em lágrimas, não diferente da Bianca que ainda estava sentada na minha frente. Eu queria conseguir ter uma reação, mas eu não tinha. Tudo que já aconteceu comigo passou pela minha cabeça, mas nada chegou nem aos pés da crueldade dessas pessoas que fizeram coisas horríveis com ela.

To the moon and backOnde histórias criam vida. Descubra agora